23 de janeiro de 2015 - 07:00
POR EDUARDO MAIA
Câmera em cruzamento no Alto dos Passos fica a 50 metros da loja invadida
Na Padre Café, lojista foi informado que câmera estava desligada no dia do arrombamento
Lojista afirma que as fechaduras quebradas eram as mais resistentes do mercado
O arrombamento de uma loja de artigos esportivos na Rua Morais e Castro, no Bairro Alto dos Passos, Zona Sul, que fica em uma área de cobertura das câmeras do “Olho vivo”, revela que houve falha no sistema de vigilância. O estabelecimento foi invadido na madrugada do último dia 15, quando os criminosos passaram com objetos furtados e até carregando uma televisão em frente aos dispositivos instalados no cruzamento da via com a Rua Barão de São Marcelino, a 50 metros da loja, e também por outra câmera localizada na Rua São Mateus. Apesar da atitude suspeita, a Polícia Militar não foi acionada imediatamente pelo operador que tinha a obrigação de observar as imagens e comunicar o fato. Como o comércio na região, que inclui o Bairro São Mateus, vive uma onda de furtos, a situação trouxe um misto de decepção e insegurança para os lojistas, que apostavam no projeto. A falha no caso da Rua Morais e Castro foi admitida pela assessoria da PM, que informou, inclusive, que houve afastamento do funcionário, que era contratado pela empresa responsável pelo monitoramento.
Outro caso de arrombamento em frente a uma câmera já havia ocorrido na madrugada de 11 de janeiro em uma loja de vestuário e artigos para presentes na Rua Padre Café, no São Mateus. O comércio está localizado a menos de 20 metros da câmera do “Olho vivo” instalada na esquina com a Rua São Mateus. Segundo a vítima, que não quis ser identificada, o prejuízo foi de aproximadamente R$ 30 mil. Ela acrescentou que acionou a polícia posteriormente para ver a filmagem, mas a informação recebida é de que o equipamento estava desligado naquele dia, o que a Tribuna não conseguiu confirmar com a PM.
Diante destes dois casos, outro comerciante também revelou ontem que teve seu restaurante arrombado no dia 30 de dezembro na Rua Morais e Castro, por volta das 5h. Apesar de ter uma câmera do “Olho vivo” nas proximidades, o proprietário do estabelecimento não chegou a solicitar informação sobre possíveis imagens do crime.
Apuração
A PM garantiu, por meio de nota, que já está apurando o porquê de as viaturas não terem sido acionadas pelo operador das câmeras do “Olho vivo” durante o arrombamento à loja de artigos esportivos. Funcionário da empresa Verona Segurança, o operador estava em serviço no momento do crime e só relatou a ação suspeita depois que a PM já havia sido acionada pelo dono da loja. Segundo a polícia, ele já foi afastado da equipe do sistema de monitoramento. No dia do crime, três homens invadiram o estabelecimento às 3h30, quebrando as fechaduras de aço e levando cerca de 85 itens, entre eles uma televisão.
O dono da loja Breno Roberto Diolindo foi informado do arrombamento pela empresa que presta o serviço de alarme de segurança. Como dentro do estabelecimento não há câmeras, os policiais que atenderam a ocorrência solicitaram as imagens do “Olho vivo”. Segundo o comerciante, pelas imagens, foi possível verificar que “eles saíram da loja carregando tudo, passaram em frente à Delegacia da Polícia Civil, colocaram tudo numa picape prata e fugiram.”
De acordo com Breno, a audácia dos ladrões é o que mais impressiona, já que as três fechaduras de aço da porta da loja são as mais resistentes do mercado. “Arrebentaram as fechaduras com uma chave de fenda e algum outro instrumento, como se fosse uma lata de sardinha. Roubaram tudo com o alarme disparado. Levaram todos os shorts, a televisão, quatro relógios com GPS, todas as calças masculinas, duas mochilas e todos os bonés. O prejuízo foi de R$ 10.500″, lamenta.
A Tribuna tentou o contato com a Verona Segurança por e-mail e telefone, mas a empresa não retornou as ligações. Responsável pela contratação da empresa que opera as câmeras, a Prefeitura de Juiz de Fora aguarda o resultado da apuração da PM, ainda que não tenha sido notificada. A PJF informa que o contrato formalizado com a empresa prevê sanções quando o serviço não estiver sendo prestado de forma satisfatória e que será providenciada uma reunião para ajustes nos procedimentos, envolvendo a PJF, PM e a empresa”, afirma, em nota.
Como funciona
Cada operador acompanha as imagens das ruas em um telão com um número específico de câmeras. Quando uma ação suspeita é identificada, um policial é informado e, imediatamente, transmite as características do suspeito para o Copom, que funciona na mesma sala, na sede do 2º Batalhão da PM. O programa tem, ao todo, 54 câmeras, sendo 16 delas na Zona Sul. Há ainda câmeras na região central, no Manoel Honório (Zona Leste), Benfica e Santa Cruz (Zona Norte) e São Pedro (Cidade Alta).
Comerciantes contabilizam prejuízos
A série de arrombamentos vem assustando e dando prejuízos aos comerciantes da Zona Sul. No caso do dia 11 de janeiro, na Rua Padre Café, São Mateus, foram levadas peças de roupas, 35 bolsas, dez carteiras, 20 cintos, 80 peças de bijuteria, dois climatizadores, presentes de casamento e seis folhas de cheque.
No caso do dia 30 de dezembro, a proprietária do restaurante da Rua Morais e Castro, no Alto dos Passos, Hacibe Chain, disse que a invasão teria ocorrido por volta das 5h. “A primeira funcionária chegou às 7h e viu tudo arrombado. Eles levaram só o dinheiro do caixa. Nossa família estava viajando.” O gerente registrou ocorrência na época. “Não pedimos para ver as câmeras do ‘Olho vivo’. Mas ela está bem pertinho aqui do restaurante.” Segundo ela, por motivos ainda incertos, o alarme não disparou durante a ação dos bandidos. Eles fugiram levando R$ 3 mil em dinheiro.
Já Marcelo Carapinha, proprietário de uma loja de vestuário infantil, demonstra indignação na forma como os criminosos invadiram a sua loja em novembro passado, também na Morais e Castro. Entraram por cima do forro da loja e arrancaram a luminária para acessar o estoque. Quando o alarme disparou, agentes da empresa de segurança chegaram a conferir a situação do estabelecimento, mas não notaram movimentação na fachada. Ao abrir a loja no dia seguinte, Marcelo teve uma surpresa. “Reviraram todo o meu estoque, levaram boa parte da mercadoria e uma televisão. O prejuízo foi em torno de R$ 20 mil.” Apesar da situação, à época do roubo, ainda não havia o sistema de monitoramento do “Olho vivo”.
Atual responsável pelo policiamento no Alto dos Passos e São Mateus, o subcomandante da 32ª Cia de PM da Zona Sul, tenente Gilmar da Silva, afirma que a ação tem sido intensificada a partir da criação de uma rede virtual de segurança no comércio. “Estamos conversando com comerciantes que foram alvos de furtos. Já iniciamos a rede virtual entre os comerciantes da Rua São Mateus e na Avenida Itamar Franco, através do Telegram. É um aplicativo que pode ser acessado por meio do celular e do computador, no qual podemos trocar informações, como fotos de suspeitos, placas de veículos, e alertar os comerciantes sobre a ação dos criminosos.” Mesmo com a rede, o tenente reforça a necessidade de a vítima acionar a PM pelo 190.
Jornal Tribuna de Minas
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