sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Clima é de medo em acampamentos; famílias já estocam alimentos para suportar ação da PM

Moradores armam resistência 
Precaução. Água já está sendo guardada em baldes na casa de Vanda Inácia, moradora da Rosa Leão
Maioria das moradias de acampamentos ainda é feita de madeira

PUBLICADO EM 08/08/14 - 03h00
ANDRÉ SANTOS E CINTHIA RAMALHO

Os moradores das ocupações Rosa Leão, Esperança e Vitória, que ocupam um terreno da Granja Werneck, também conhecido como Mata do Isidoro, na região Norte de Belo Horizonte, correm contra o tempo para estocar água, comida e velas. O objetivo é se refugiar dentro das moradias improvisadas erguidas na área e resistir à operação de despejo planejada pela Polícia Militar (PM). Eles já bloquearam as 14 entradas do terreno com pneus e outros materiais. Na tarde desta quinta, a corporação se reuniu mais uma vez com os acampados e reforçou a ação de reintegração de posse, que foi ordenada pela Justiça e deve acontecer em até 15 dias.

De acordo com a Polícia Militar, 2.500 pessoas moram nos três acampamentos. O número das lideranças comunitárias é diferente: a quantidade de famílias a serem despejadas pode chegar a 8.000, totalizando 30 mil moradores. Na tarde desta quinta, o clima era de medo e angústia na ocupação Rosa Leão, que tem ruas de terra batida e a maior parte das casas feitas de madeira.

A dona de casa Vanda Inácia, 50, que vive em uma pequena moradia de três cômodos junto com o marido, dois filhos, a nora e uma neta de 2 anos, está, assim como os vizinhos, disposta a resistir a uma futura ordem para deixar o local. “Não me importo em morrer para defender as pessoas que vivem aqui, para defender o que lutei a minha vida inteira para conseguir”.

A estratégia dos moradores é se abrigar nas casas, onde vão permanecer assim que os policiais chegarem ao local. Durante a noite desta quinta, eles também cavaram buracos nas 14 entradas do terreno e fizeram barricadas com pneus e madeira. Caso seja necessário, esses obstáculos também poderão ser queimados.

“Vim de longe e tive que construir minha casa com as próprias mãos. Não posso perder o emprego, nem minha casa”, disse a servente de pedreiro Silvana Vitória Silva, 30, que está há quatro dias sem trabalhar em função do medo do despejo.

Fuga. Enquanto alguns moradores se preparam para lutar, outros começaram a sair de suas casas por conta própria. Na tarde desta quinta, a reportagem flagrou caminhões carregando móveis e pertences de algumas famílias.

Enquanto alguns desistem, outros ainda sonham em poder permanecer, como a dona de casa Michele Pereira Martins, 23, que vive com o marido, dois filhos pequenos e um irmão em um barraco de madeira. Ela está grávida de cinco meses. “Não estou aqui em vão. Vou lutar pelo cantinho que Deus me deu”, garantiu a dona de casa.

Orientação
Panfleto. A PM distribuiu nesta quinta aos moradores um panfleto com informações sobre a operação. O papel trazia dicas de segurança, com a retirada antecipada de grávidas, idosos e crianças.

http://www.otempo.com.br/

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