22 de Junho de 2014 - 06:00
Por MICHELE MEIRELES
Na contramão do crescimento da violência que Juiz de Fora vivencia, a Polícia Militar perdeu mais de 350 homens do seu efetivo desde 2012. Neste mesmo período, nenhum policial foi incorporado ao quadro do município. Segundo denúncias de policiais, quando há picos de casos violentos, eles têm suas folgas cortadas e as escalas aumentadas, o que faz crescer a pressão psicológica. Além disso, mais da metade da frota de viaturas estariam indisponíveis, necessitando de reparos. A situação dos veículos foi agravada com o fim do contrato com a empresa que fazia os serviços de oficina terceirizados. Diante disso, 50 viaturas ficaram cerca de cinco meses sem condições para voltar a rodar e só começaram a ser consertadas no mês passado.
Conforme consta em documentação de controle interno da Polícia Militar, o número de viaturas disponíveis atualmente para emprego no município está na ordem de 210 veículos, estando os mesmos distribuídos nas unidades operacionais. O atual comando não confirmou qual a frota atual, mas afirmou que "as demais encontram-se em manutenção". Porém, em outubro passado, o então comandante da 4ª Região da Polícia Militar (4ª RPM), coronel Ronaldo Nazareth, havia informado, em entrevista à Tribuna,que o município tinha 428 veículos disponíveis. Ou seja, atualmente mais da metade não está nas ruas por falta de condições mecânicas.
No último dia 22, a Tribuna flagrou, pelo menos, 50 viaturas paradas na oficina da PM, no pátio do 2º Batalhão, no Bairro Santa Terezinha, Zona Nordeste. Além dos veículos que estão no local para serem consertados, outros já são inservíveis para a segurança pública, mas ainda aguardam para serem recolhidos. "O número poderia ser muito maior se deixássemos de recorrer à generosidade de mecânicos para garantir que os veículos voltem a rodar mais rapidamente", conta um PM. "Há carros muito sucateados, estes reparos servem só como maquiagem. Em uma perseguição a criminosos, com certeza, estamos em desvantagem", disse outro policial.
De acordo com o assessor organizacional da 4ª Região da Polícia Militar, major Edmar Pires, a situação encontrada pela reportagem no pátio pode ser explicada por conta do fim de um contrato com a empresa que fazia a manutenção em janeiro. Segundo ele, após o término do acordo, todos os veículos que apresentaram algum problema passaram a ser enviados ao 2º BPM. "O que aconteceu é que não haviam recursos para este reparo. Então, houve esta lacuna: as viaturas eram baixadas na seção de reparo, e não tínhamos aporte para fazer o necessário", afirmou. Conforme o oficial, a cidade recebeu, em maio, R$ 54 mil destinados a esta finalidade. "Com este valor, a situação será amenizada. Começaram a ser feitos os reparos, e estão sendo liberados cerca de 20 veículos por semana", explicou major Edmar.
O policial chamou a atenção para o fato de que algumas viaturas flagradas no pátio podem fazer parte daquelas inservíveis. "Hoje temos cerca de 60 viaturas no 2º Batalhão que não têm mais condições de uso, estão lá para serem recolhidas pelo Estado. Antes de fazermos esta descarga, temos a substituição na totalidade ou em partes." Em outubro passado, a cidade recebeu 25 viaturas, 16 veículos Palio Adventure, seis motocicletas Yamaha Lander 250 cilindradas, duas motos Honda Braz 150 cilindradas e uma Van Ducato de Base Comunitária Móvel.
'Trabalhamos sob pressão. Chegamos no limite'
A Tribuna teve acesso às escalas de serviço de algumas companhias da cidade, e a reportagem foi procurada por diversos policiais militares que se mostraram preocupados com a situação da corporação. Conforme documentos recebidos pelo jornal, em áreas críticas da cidade, como a da 173ª Companhia, responsável por parte da Zona Norte, em determinados turnos de serviço, há lançamento de apenas uma viatura de patrulha de atendimento comunitário, com dois policiais. "O que salva é que ainda temos muitos comprometidos, mas acabamos ficando de mãos atadas. Nestas condições, não podemos fazer muita coisa", desabafa um militar que trabalha na região Norte, uma das mais violentas da cidade. Segundo ele, a situação fica ainda mais crítica caso haja prisão em flagrante no turno. "Temos que nos deslocar até a delegacia para conduzir o suspeito. Por lá, ficamos horas, e a área, algumas vezes, fica desguarnecida."
No dia 13 de maio, a Tribuna flagrou uma conversa, na delegacia de Polícia Civil, entre um policial militar e o Centro de Operações (Copom), área responsável por receber os chamados e fazer a distribuição das viaturas para atendimento às ocorrências. Na ocasião, um policial que trabalha como coordenador de policiamento de unidade, foi contactado pelo rádio. A operadora do Copom informou que havia três ocorrências esperando para serem atendidas na área de uma companhia da cidade.
A resposta do policial à operadora confirmou a situação crítica: segundo ele, naquele momento, seria impossível se deslocar para fazer o atendimento, pois só havia uma viatura para cobrir toda a região, e que ela estava na delegacia, fazendo o registro de uma ocorrência de trânsito. O militar ainda afirmou que estava confeccionando o Registro de Defesa Social o mais rápido que podia e pediu que a situação fosse repassada ao comandante da unidade. "Trabalhamos sob pressão. Não culpamos o comando local, que ainda tenta gerenciar as falhas da melhor maneira, nosso clamor é para o Governo: chegamos no limite. Não adianta só vontade de trabalhar se não temos o básico", disse um policial.
Insatisfação
A insatisfação também está na outra ponta, quando o cidadão precisa da atuação da PM. "Quando cheguei para trabalhar, vi que minha loja havia sido furtada. Acionei a PM, e a resposta que tive é que naquele momento não haveria viatura, e que, provavelmente, o atendimento iria demorar. Esperei por quase três horas, como ninguém veio, fechei as portas e fui fazer o registro no posto policial. Neste caso, pude fazer isto, mas e se fosse um assalto, uma lesão corporal? Sei que não é culpa do policial, mas isto precisa ser revisto", disse um comerciante do Bairro Benfica, Zona Norte.
Atendimento segue ordem de prioridade
Segundo o assessor organizacional da 4ª Região da Polícia Militar, major Edmar Pires, o lançamento de viaturas e recursos humanos é feito de acordo com as demandas. Além disso, o atendimento às ocorrências segue uma ordem de prioridade, definido pelo oficial do Copom. "Às vezes, realmente temos apenas uma patrulha de atendimento comunitário em determinada área, mas não significa que o policiamento daquela região é feito apenas por aquela equipe. Temos, em cada área, a Patrulha de Prevenção a Homicídios, os Táticos Móveis e outros serviços, que têm condição de serem lançados caso haja necessidade. Outro ponto é que qualquer viatura e policial da cidade pode atender a qualquer área."
Sobre a falta de efetivo, o oficial disse que "os policiais disponíveis hoje conseguem atender à demanda. É óbvio que, se tivéssemos um maior número de policiais, seria melhor". Em relação ao corte de folgas, ele foi enfático ao afirmar que, quando entram na corporação, os policiais já estão cientes de que "esta é uma realidade do serviço, que pode ser modificado conforme a demanda".
No ano passado, segundo a PM, houve apenas um concurso, "que redundou na admissão nos quadros da instituição de dois mil novos militares, os quais encontram-se em período de formação com término previsto para novembro de 2014, sendo que estes novos servidores serão alocados nas 18 regiões da Polícia Militar".
http://www.tribunademinas.com.br/cidade/policia-militar-tem-frota-sucateada-e-efetivo-reduzido
Nenhum comentário:
Postar um comentário