Tiago Correia
Um evento como a Copa do Mundo não pode deixar de legado para Salvador prejuízos na economia. Numa cidade que viveu recentemente os transtornos causados pela greve dos policiais militares e cuja economia está concentrada basicamente no setor de serviços e turismo, a decretação de feriados extemporâneos para atender a um pedido da Fifa não se justifica porque representa um grande impacto negativo para empresários, comerciantes, industriais e, por que não dizer, para os trabalhadores do mercado informal regulamentado.
A Copa, que será realizada pela primeira vez em Salvador, deve movimentar o trade turístico, mas sem comprometer as demais atividades econômicas, por conta da grande quantidade de feriados. Aliás, o Brasil é um dos campeões mundiais em número de feriados. Somente este ano, de acordo com o Diário Oficial da União, existem 16 datas em que quase tudo ou tudo para no país: nove feriados e sete pontos facultativos. Isso sem falar em datas estaduais ou municipais ou em paralisações organizadas por associações e sindicatos, muitas delas justas, porque reivindicam melhores condições de trabalho, mas que também provocam o fechamento de estabelecimentos comerciais.
Em Salvador, segundo estudos de economistas baseados em dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as perdas com a decretação de feriados durante as partidas da Copa (serão seis) alcançariam quase R$ 131 milhões. É muito dinheiro para atender a um capricho da Fifa. Felizmente, o prefeito ACM Neto, que tem feito um grande trabalho para recuperar a cidade e a autoestima da população, não decretou nenhum feriado, tomando uma decisão que deveria servir de exemplo para os administradores das outras 11 sedes do Mundial.
Um trabalho recente divulgado pela Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro) revela que o prefeito acertou em cheio ao manter a economia em atividade em Salvador durante todos os dias da Copa. No ano passado, os 12 feriados nacionais e 39 estaduais acarretaram à nação um prejuízo de R$ 42,2 bilhões. É muito dinheiro, é verdade, ainda mais em um país pobre e com tantas desigualdades como o Brasil. Mas, em 2012, acredite, o prejuízo foi maior (R$ 50,5 bilhões) porque houve mais feriados.
Em 2007, quando a Fifa confirmou que o Brasil voltaria a realizar uma Copa após 64 anos, havia uma grande expectativa de que o evento provocaria um grande aquecimento na economia e que, finalmente, obras em estádios, aeroportos, rodovias, mobilidade urbana, iluminação e paisagismo colocariam o país em um novo patamar de desenvolvimento. Pelo que se vê, muitos compromissos contidos no caderno de encargos ficaram apenas na promessa. E não vai ser com a decretação de feriados que o Brasil vai impressionar, agora, os dirigentes da Fifa. Diga não aos feriados na Copa.
* Tiago Correia é vereador (PTN) em Salvador
Nenhum comentário:
Postar um comentário