Fernando Santiago
Foi assassinado o Capitão Mata, que por muito tempo comandou a PM na região em que eu exerço minha função de Delegado de Polícia, o Bairro dos Pimentas, em Guarulhos.
Eu conhecia o cara e apesar de não sermos grandes amigos, nos encontramos algumas vezes, oportunidades em que ele era sempre polido, aprazível e respeitador. Era o típico “gente boa”.
As vezes, estrelas (Oficiais) e majuras (Delegados) não se dão tão bem, afinal, existem algumas divergências entre as Polícias estaduais, mas não era nosso caso. O Capitão Mata era policial como eu, era natural do RJ como eu e se mudou para outro Estado como eu.
O Capitão Mata não tinha algumas características que fizessem sua morte merecer a devida atenção. Mata era branco e sua morte não interessou a movimentos que lutam por igualdade racial. Mata era heterossexual e sua morte não interessou a movimentos que lutam por direitos de homossexuais. Mata não era bandido e sua morte não recebeu interesse algum de qualquer representante de grupos que lutam por direitos humanos. Mata não morava em favela ou periferia e sua morte não recebeu interesse de qualquer sociólogo, artistas oportunistas ou ‘Reginas Cazés’ da vida. Mata não pertencia a qualquer minoria, portanto, não mereceu interesse de ninguém que não fossem seus próximos.
Como se isso não se bastasse, ainda era policial (e seus colegas de caserna não atearam fogo em ônibus). Policial, mais um motivo para ninguém lamentar sua morte, afinal de contas, a policial militar Fabiana Aparecida, morta covardemente em uma UPP no RJ, era mulher e sua morte não interessou a grupos feministas, era negra e sua morte não interessou a grupos de defesa da igualdade racial, e tinha vida humilde, mas não mereceu atenção de qualquer sociólogo que luta pelo fim de classes sociais. Fabiana, assim como Mata, também era humana, e assim como no caso de Mata, sua morte não mereceu, novamente, qualquer interesse de grupos de defesa de direitos humanos.
O mesmo aconteceu com o perito de Osasco, Nicolau Constantini, e meus queridos amigos e colegas de Academia de Policia, Dr. Leonardo Mendonça e Dra. Denise Quiroga, ambos mortos em serviço.
O que se vê é que, mesmo para os grupos que militam em defesa dos direitos humanos, uns humanos valem mais que os outros. E o pior é a escolha dos critérios que determinam o valor de cada um.
No caso de policiais, percebe-se claramente que, muitas vezes, sua morte merece valor menor que a morte de um integrante de minorias, ou até mesmo de um criminoso e, outras vezes, não merece valor algum.
Ninguém merece ser assassinado, nem negros nem brancos; nem ricos, nem pobres; nem homossexuais, nem heterossexuais; e, finalmente, nem bandidos nem policiais.
Mas por que a morte de DGs e Amarildos merecem mais atenção que a morte de um policial? Fala-se pouco que as chances de um policial ser morto, segundo estatísticas, é três vezes maior que a de outras pessoas, mas fala-se muito que as chances de um jovem de periferia ser morto é maior que a de outros jovens.
Capitão Mata é mais um nome em lápide esquecido. É mais uma pessoa que escolhe o duro ofício de proteger a sociedade de criminosos e paga com a vida o preço dessa escolha, sem merecer atenção à altura da morte daqueles que ele combateu.
O Capitão Mata deixa mulher, três filhos e um enteado. Todos igualmente esquecidos por aqueles que estão fora do meio do Capitão.”
### Abra o link e entenda a morte do Capitão Mata.
(texto enviado por Gélio Fregapani)
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – No domingo, parentes de policiais mortos e feridos durante a atividade profissional se reuniram na orla de Copacabana, na zona sul do Rio. Eles protestaram contra a violência que atinge os militares e denunciaram que este ano já morreram 31 policiais e 117 ficaram gravemente feridos. Mas quem se interessa? (C.N.)
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