31/05/2014
A SEMANA PASSADA
A semana finda veio como um choque de realidade. Por três fatos. Primeiro, uma frase dita por Joana, filha do ex presidente da FIFA, João Havelange. Segundo, porque a Copa está chegando. E vai se dar o óbvio, ela vai acontecer. Terceiro, a aposentadoria do ministro do Supremo Tribunal Federal – STF, Joaquim Barbosa.
A filha do ex presidente Havelange, a propósito das obras para a Copa, afirmou: “O que tinha de ser roubado, já foi”. Nada mais, nada menos. Uma franqueza rude, obscena. Própria de uma cultura de corrupção. Onde o espanto da falcatrua cede lugar à mais lisa desfaçatez.
Disse que houve roubo nas obras das arenas de futebol para a Copa, de forma descontraída, como quem acentua: “Vou ali tomar um sorvete”. Como uma Maria Antonieta mestiça que, à revelia da consciência, mandasse o povo comer brioche.
Evidente. A Copa está aí. E também a pátria de chuteiras, como disse Nelson Rodrigues. O verde e amarelo começa a cobrir vitrines, restaurantes, calçadas, automóveis, peitos, corações. É a festa da metarraça, filha do futebol.
Para o brasileiro médio, o Brasil se afirma nas quatro linhas do campo. No drible de Oscar, no corte de David Luis, no gol de Neymar. Esta é a forma de exaltação dos brasileiros. De destacar o espírito patriótico. De marcar o gênio nacional diante do estrangeiro.
Podemos discordar. Mas a maioria do povo brasileiro, na mediania de sua instrução, é assim. Este é o Brasil real. Podia-se roubar menos na construção dos estádios. Isto é outro assunto.
O terceiro movimento no choque de realidade da semana foi digno de uma ópera de Wagner. Metais vibrando, percussão aguda, estupor. Como se o STF fosse em Bayreuth, a casa de concertos wagneriana na Baviera.
A gente sabia que Joaquim Barbosa estava no limite de sua paciente audição para postergações maliciosas de alguns de seus pares. A gente sabia que seu senso de justiça, longa de conexões sorrateiras, porejava na toga encharcada de indignação. A gente sabia. A gente sabia que, a qualquer momento, ele largaria o pano preto com que honrou a bravura alva de sua passagem no Supremo. A gente sabia. A gente sabia que aquele dia viria. E que, mesmo com iguais metros quadrados, o Supremo Tribunal vai ficar menor. Esta é a medida das coisas. A metragem e a medida moral. Como são distantes.
Olhando em perspectiva sua atuação, lembro de outro juiz: Oliver Holmes Junior (membro da Suprema Corte americana, viveu de 1841 a 1935). Ele ficou conhecido como o grande dissidente, o juiz do contra. Por suas posições contra a maré. Há uma convergente tendência entre Holmes e Barbosa. Ambos, na dissidência do politicamente correto. Contra os conchavos de bastidor. O do Norte, na soberania do fato. O do Sul, no império da Lei. Os dois, operando para uma Justiça eficaz.
Até a próxima.
http://www.luizberto.com/
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