23/02/2014
Uma situação grave, que preocupa as autoridades: o Paraguai, um dos maiores produtores de maconha da América Latina, vende a maior parte do que produz a traficantes brasileiros.
Na madrugada do dia 19 de fevereiro, na fronteira do Brasil com o Paraguai, militares tinham uma missão: destruir plantações de maconha espalhadas nas reservas ambientais das grandes fazendas do Paraguai.
Os pés de maconha estão camuflados entre as árvores. São manobras arriscadas. Os militares avistam movimento na mata e atiram.
A fazenda tem três hectares, pouco mais de três campos de futebol cobertos por pés de maconha. Alguns chegam a dois metros de altura.
Os militares procuram o acampamento dos plantadores. Os plantadores de maconha perceberam a ação do helicóptero e fugiram em direção à mata. Deixaram para trás o chimarrão, bebida típica da região. O fogo ficou até aceso.
“Nós achamos no local, cartuchos de calibre 12 e de 9 milímetros. Isso evidencia que os plantadores estão armados para tentar reagir ante a presença do pessoal da secretaria antidrogas”, avalia o capitão Oscar Chamorro, da Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai.
Depois do corte dos pés de maconha, os militares partem para outra fase da operação: a destruição do acampamento.
A operação é feita pela Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai, em parceria com a Polícia Federal brasileira. A cooperação tem um motivo: é dali que sai grande parte da maconha consumida no Brasil.
“Infelizmente, 80% da produção de maconha do Paraguai tem como destino o mercado de consumo do Brasil”, explica o capitão Oscar Chamorro.
Nas vésperas do carnaval, o tráfico é ainda mais intenso.
“A maconha está pronta para ser colhida e a operação visa minimizar a distribuição de drogas durante o carnaval”, diz Zulmar Pimentel, delegado da Polícia Federal.
Segundo estimativas da ONU, o Brasil é o país onde mais se consome maconha na América do Sul. Quase 9% da população adulta admite já ter usado a droga pelo menos uma vez na vida. O Uruguai, onde o consumo foi legalizado recentemente, fica logo atrás com 8,3%, seguido pelo Chile, com 6,7%.
Traficantes brasileiros atuam diretamente na fronteira entre o Mato Grosso do Sul e o Paraguai.
Jarvis Chimenes é de Ponta Porã. Ele está preso no Paraguai por tráfico, à espera de extradição. Ele também é processado por lavagem de dinheiro.
Um fazendeiro brasileiro conta que os traficantes plantam maconha em fazendas particulares e os proprietários não tem como impedir as invasões. “Como a gente não consegue combater, então a gente não pode fazer nada. Se enfrentar, nós corremos o risco de morrer”, ele diz.
Um paraguaio que trabalha em uma plantação recebe R$ 30 reais por dia dos traficantes. O filho dele também trabalhava nas fazendas e foi preso há um mês. “A gente sofre no mato. Igual a burro, tem que aguentar com 60 quilos”, ele conta.
Segundo ele, o trabalho nas plantações de maconha é a única opção para muitos da região. “Aqui na cidade não tem onde eu trabalhar, por isso eu vivo no mato. Já pensei em mudar de vida, mas estou preocupado. Filho preso, não tenho dinheiro. Tem hora que dá vontade de chorar”, ele diz.
O Paraguai é hoje um dos maiores produtores de maconha da América Latina, só perde para o México. É difícil determinar ao certo o quanto é produzido em cada país. Os governos se guiam pelo volume apreendido pela polícia.
No Brasil, foram apreendidas 131 toneladas em 2009, e 220 toneladas em 2013. No Paraguai, foram 84 toneladas em 2009 e 174 em 2011, mais que o dobro.
No últimos dois anos, a Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai apreendeu mais de cem carros, além de ônibus, motos, caminhões e até uma retroescavadeira.
Apesar dos avanços, a corrupção continua sendo o maior inimigo no combate ao tráfico. “A corrupção gerada pelo narcotráfico está em vários níveis, Ministério Público, polícia e imprensa também se submetem ao esquema do narcotráfico”, explica Luis Rojas, ministro secretário executivo Senad Paraguai.
A maconha encontrada na fazenda foi toda queimada. Nenhum traficante foi preso na operação. Mas as autoridades continuam otimistas.
“A guerra não está perdida de fato. Em comparação já ao ano passado, nós estamos observando uma diminuição de 10% na superfície que está sendo plantada, conclui Oscar Chamorro.
Para quem depende do dinheiro da maconha para sobreviver, resta pouca esperança.
“Só o trabalhador, só a gente pobre é presa. A maioria dos traficantes está solta”, lamenta.
http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2014/02/paraguai-manda-para-o-brasil-80-da-maconha-que-produz.html
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