19/01/2014
Do G1 Zona da Mata
Preferência pelo rio se reflete no futebol e no lazer
(Foto: Reprodução/TV Integração)
Todo juiz-forano já foi chamado de “carioca do brejo” pelo menos uma vez na vida. O termo faz alusão à influência que a cidade do Rio de Janeiro exerce sobre o município mineiro. O G1mostra um pouco das características dos cariocas que encantaram os juiz-foranos e a preferência pela cidade maravilhosa que podem ser observadas até hoje no lazer e no esporte dos moradores de Juiz de Fora.
O historiador Roberto Dilly revelou ao G1 que o principal motivo dessa ligação tão intensa entre as duas localidades tem a ver com a proximidade regional. “Juiz de Fora sempre foi distante da capital de Minas Gerais, até mesmo quando era Ouro Preto, e não Belo Horizonte. Estamos quase na divisa com o estado do Rio de Janeiro e, por isso, criamos uma dependência muito grande”, destacou. Ainda segundo Dilly, essa não é uma particularidade apenas da cidade da Zona da Mata. “No sul de Minas ocorre o mesmo, só que com a influência paulista. Até o sotaque é parecido”, explicou.
O jornalista Flávio Lins é um dos autores do livro “Cariocas do Brejo entrando no ar: O rádio e a televisão na construção da identidade juiz-forana” e, de acordo com ele, não é possível precisar ao certo quando o termo começou a ser utilizado. No entanto, pesquisas indicam que foi na passagem do século 19 para o 20. “Nós não conseguimos localizar no tempo e no espaço com precisão porque é uma tradição oral. As pessoas foram tomando conhecimento aos poucos. O que sabemos é que a influência do Rio de Janeiro começou antes mesmo da fundação de Juiz de Fora", contou.
Além das histórias, outra explicação, de acordo com Lins, é que Rio de Janeiro e Juiz de Fora sempre tiveram um intercâmbio cultural e econômico muito grande. “Pela proximidade, os artistas do século 19 vinham a Juiz de Fora. Isso se repetia também no comércio. Nós tínhamos uma fábrica de refrigerantes na cidade cujo principal mercado era a Guanabara”, afirmou.Segundo o jornalista, a região onde hoje está a cidade era uma parada de viajantes, que ligava a região aurífera de Minas ao Rio de Janeiro, onde as pessoas paravam para descansar, alimentar os cavalos e conversar. "Como o ouro estava em decadência, ouviam-se histórias tristes de pessoas de Minas Gerais que estavam perdendo o que tinham. Já do Rio ouviam-se histórias modernas e de ousadia. A cidade carioca era portuária e chegavam navios do mundo inteiro. Tinha muita novidade. Assim começou a surgir esse encantamento”, explicou.
A influência do Rio de Janeiro não é vista de forma negativa pelos juiz-foranos, ainda que o rótulo "carioca do brejo" tenha sido criado como forma de criticar o jeito do morador da cidade mineira. De acordo com Flávio Lins, pesquisa apontou que o termo é uma brincadeira dos mineiros do interior do estado com os juiz-foranos. “A ideia é pejorativa, uma ironia à afinidade da cidade com o Rio. Porém, não temos notícias de que os moradores da cidade mineira tenham ficado ofendidos com isso. Eles acharam até interessante, porque é uma maneira de se diferenciar. As pessoas da Zona da Mata incorporaram isso e aceitaram tranquilamente”, comentou.
O historiador Roberto Dilly concordou com Flávio Lins. “Ser carioca do brejo não significa negar as características de Minas Gerais. Temos orgulhos de sermos mineiros, preservamos as qualidades, mas ao mesmo tempo temos também características cariocas. É uma influência boa”, enfatizou.
A influência do Rio de Janeiro em Juiz de Fora pode ser observada até no esporte, mais precisamente no futebol. Na cidade há um grande número de torcedores de times cariocas. Segundo o jornalista esportivo e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Márcio Guerra, a relação entre as cidades é histórica. Ele explicou que, no começo das coberturas esportivas, Juiz de Fora recebia o sinal das TVs do Rio de Janeiro e que as emissoras cariocas de rádio como Globo, Tupi e Nacional também tinham sinal na cidade mineira. "As próprias rádios daqui, a Industrial e a PRB-3, também faziam as coberturas dos jogos do Rio. Então, o torcedor foi acostumado a acompanhar esse futebol”, afirmou.
Ainda de acordo com Márcio Guerra, times como Flamengo, Botafogo, Fluminense e Vasco vinham com frequência para o município da Zona da Mata. “O Sport, por exemplo, sempre teve uma relação muito próxima com o Fluminense. O Vasco já jogou com Tupynambás e Tupi também. Então essa proximidade foi se fortalecendo”, descreveu.
No turismo e lazer, a preferência pelo Rio de Janeiro se repete. De acordo com Gabriel David, que trabalha com excursões há cerca de dois anos, as viagens para a cidade maravilhosa sempre lotam. “Nós programamos, no mínimo, três passeios por mês, e eles vão todos cheios. Nós buscamos até fechar grupos fixos, que gostam de ir ao local pelo menos uma vez por mês. A procura é bem maior do que para cidades como São Paulo, Belo Horizonte e Tiradentes”, garantiu.
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