sábado, 30 de novembro de 2013

De porta em porta, JF pede paz - Por Flávia Crizanto

29 de Novembro de 2013 - Juiz de Fora


Por Flávia Crizanto

Ingrid Duarte de Souza, 28 anos, e Maria Célia da Silva, 48, eram moradoras do Bairro Retiro, Zona Sudeste, e foram esfaqueadas pelos companheiros. Em comum, elas trazem a marca de terem sido vítimas de femicídio, morte de mulheres por razão de gênero, e de estarem na região que pode ser a maior em registros de pedidos de ajuda de pessoas do sexo feminino ainda não vitimadas ao homicídio este ano, segundo um levantamento prévio do Movimento Juiz de Fora pela Paz. Os números motivaram integrantes do movimento, em parceria com a Polícia Militar e Astransp, a promoverem nesta sexta-feira (29) uma campanha de conscientização dentro dos coletivos e a baterem de porta em porta, em um trabalho de esclarecimento, no qual o principal alvo foi os homens. Em cada visita, a revelação de que ainda é necessário muito esforço para que o machismo deixe de ser uma ameaça à vida de mulheres.

Não foi preciso caminhar muito para que as primeiras histórias não registradas oficialmente começassem a aparecer. L., 65 anos, que ouvia atenta às orientações da equipe, sabia muito bem o que significava cada palavra. Revelou que durante 22 anos foi vítima de violência. "Eu me casei com 14 anos. Naquela época eu não tinha amparo, não existia disque-denúncia, Lei Maria da Penha. Só quando ele tentou me enforcar, que não teve jeito, me separei. Toda pessoa que passa por esse problema tem que denunciar." Para a coordenadora do Movimento Juiz de Fora pela Paz, Laura Santos, é preciso mostrar para as mulheres que elas não estão sozinhas e que existem mecanismos de proteção dos direitos e, ainda, de prevenção antes que o pior aconteça. "Precisamos divulgar amplamente a Central de Atendimento à Mulher, que é o número 180. Não é apenas o 190 que pode prestar socorro. Nós ainda realizamos um trabalho de apoio e busca por justiça para vítimas e familiares. Temos um apoio amplo dos órgãos municipais, Defensoria Pública e OAB", garante Laura.

Impunidade

A ideia de que casos de violência contra a mulher ficam impunes começa a mudar. "Esta semana tivemos o julgamento do caso da Roselândia, morta a pancadas pelo companheiro, em abril deste ano, o que é muito significativo." Valtencir Biette de Souza foi condenado a dez anos de prisão. O assassino de Ingrid, Eduardo Henrique Gomes, também foi punido com oitos anos de reclusão, em abril, três meses após o crime. Já o julgamento do ex-companheiro de Maria Célia está programado para a próxima segunda-feira, e a expectativa do movimento é de que ele seja punido. "Enquanto isso, continuamos nossos trabalhos até o dia 10 dezembro em vários pontos da cidade", completa Laura.

Zona da Mata

A região da Zona da Mata é a segunda mais violenta do estado, perdendo apenas para a Região Metropolitana de BH. Só no primeiro semestre de 2013, foram registrados na cidade 15.667 ocorrências, englobando violência sexual, moral, física, psicológica e patrimonial, conforme foi divulgado pela coordenadora do Centro de Referência Casa Mulher de Juiz de Fora, Rose França. "Estamos trabalhando para diminuir esses números em JF e dar suporte a quem precisa de ajuda. Em um mês e oito dias de funcionamento, atendemos 522 casos. Na Delegacia de Mulheres foram 341, e na Defensoria, 59. Outras 136 mulheres conseguiram a expedição de medidas protetivas. A Casa da Mulher funciona na Rua Uruguaiana 94, Jardim Glória (ao lado da praça principal do bairro).

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