16/10/2013 às 17:49
A Copa do Mundo está chegando. Depois, vem a Olimpíada. Se setores da imprensa não pararem de flertar com a bagunça; se as autoridades, de situação e de oposição, não deixarem claro com todas as letras que a violência é inaceitável; se a Justiça não decidir se voltar para o que dizem as leis, pouco importando os anseios subjetivos do juiz, as coisas podem se complicar bastante.
Está em curso uma marcha de irresponsáveis, mais ocupados em cuidar de sua própria reputação “progressista” — tanto quanto possível, ajustando também as contas com o passado — do que em preservar o clima de normalidade democrática. E, atenção!, na normalidade democrática, o corriqueiro é que manifestantes respeitem a autoridade policial. E que a autoridade policial se comporte segundo as regras do seu manual de conduta.
Na normalidade democrática, os que protestam não cospem em policiais, não os atacam com coquetéis molotov, não usam estilingues para atingi-los com bolotas de aço, não depredam bancos, não ocupam prédios públicos com marretadas. Na normalidade democrática, os que agem assim são severamente punidos.
Atenção! Nas democracias, é desnecessário acionar a Justiça para desocupar uma prédio público ou privado invadido. Basta chamar a polícia. O ato é um crime como qualquer outro. Não é preciso acionar um juiz para decidir se o ladrão pode ou não bater uma carteira ou se o potencial homicida pode ou não matar alguém. Assim, dispensa-se o concurso do Judiciário para arbitrar sobre uma invasão de propriedade pública ou particular. Como se trata de uma flagrante agressão ao direito de terceiros, a força policial atua.
Por aqui, há um processo de legitimação da violência, desde que os violentos digam atuar em nome de uma causa justa ou do povo. Regras elementares da lógica deixam de ter validade. O ministro Luiz Fux, por exemplo, avalia que descontar dias parados de grevistas agride o direito à greve. Errado! O direito persiste. O não-pagamento apenas distingue o óbvio: o trabalho do não-trabalho. Não para Fux. Assim, quando um professor deixa de trabalhar, o único prejudicado mesmo há de ser o aluno. É uma sandice. Invasores da reitoria da USP, cuja ação deveria ter sido coibida no ato, têm agora mais 60 dias para deixar o local. Expirado o prazo, então se vai ver o que fazer.
No Rio, o batalhão de advogados da OAB, sob o comando de Wadih Damous, vai à luta para soltar desordeiros, todos eles presos em flagrante depredando a cidade, mas todos eles, claro!, inocentes — porque, sabe-se, violenta mesmo é a Polícia… Nessa concepção, os que seviciaram e mataram Amarildo contaminam toda a corporação, mas os incendiários que estão à solta nada dizem sobre o manifestantes… Isso corresponde a investir na desordem.
A parceria do sindicato dos professores do Rio com os black blocs é admitida pelos próprios sindicalistas, sobre palanques. Nesta terça, caminharam, mais uma vez, unidos. Não obstante, anuncia-se que eles são apenas “infiltrados” no movimento. Estou entre aqueles que admitem “Jornalismo de Tese” — para tanto, existem colunistas, analistas, gente que dá opinião (sim, sou um deles).
Quando a tese insiste em negar o fato evidente, comprovado e admitido até por aqueles que são protegidos pela falácia, então se tem é uma tentativa de enganar a opinião pública. A troco de quê?
É curioso, um caso a se pensar, que a violência na capital fluminense tenha dado uma trégua durante o “Rock in Rio”. Ora, se o objetivo era mostrar para o mundo isso e aquilo, as lentes do mundo estavam ali mesmo, ao alcance de qualquer quebra-quebra. E, no entanto, felizmente, nada aconteceu. A contrário: por alguns dias, o Rio voltou a ser a cidade da alegria, da paz, do congraçamento, dos solos de guitarra ecoando pelas tardinhas que caíam e os barcos que iam… “Qual é a sua hipótese conspiratória, Reinaldo?” Não tenho. Constato um fato à espera de uma explicação.
Observo que os violentos estão ficando cada vez mais ousados. Já que a sua tática do quebra-e-esfola foi, na prática, admitida como uma forma de manifestação, o normal é que procurem aprimorar a ação, tornando-se ainda mais agressivos. Não adianta demonizar os vândalos e preservar da crítica aqueles que estão, na prática, contratando os seus serviços.
Setores importantes do jornalismo têm de decidir se prestam um serviço ao conjunto dos brasileiros ou aos militantes do PSOL, do PSTU e, no caso do Rio, do PT.
PS – Por falar nisso, alguém ouviu a voz de Marcelo Freixo ou de Lindberg Farias condenando a violência?
Por Reinaldo Azevedo
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