20/10/2013
Carlos Chagas
Repete-se uma vez mais a farsa do horário de verão, que começou de ontem para hoje. A moda vem de muito tempo, primeiro intermitente, depois absoluta. Os relógios foram adiantados por uma hora, visando economizar 5% de energia até o final de fevereiro.
Quer dizer, o governo surripia uma hora de sono da população. Da população? Nem tanto, porque os estados do Nordeste e do Norte insurgiram-se contra a determinação e já não aceitam o horário de verão. Contestam a autoridade central em defesa de seus cidadãos. No Sul, Sudeste e Centro-Oeste, porém, o esbulho acontece com data marcada.
O cidadão que sai cedo para trabalhar, acordando às seis da manhã, ou antes, precisará acender a luz para escovar os dentes e tomar café. Vai-se parte da economia dos 5% de energia, ainda que quando chegar em casa depois do serviço, o sol brilhe. Bom para quem mora à beira do mar, que se não estiver muito cansado ainda poderá arriscar alguns mergulhos. Mas péssimo até para a unidade nacional, porque se um indigitado boia-fria morador na Bahia colhe café em Minas, sairá de casa às seis da manhã quando já são sete na roça. Ou chega atrasado ou acorda às cinco. Na hora de voltar é pior: deixa o trabalho às cinco da tarde mas já são seis em sua casa, correndo o risco de a mulher acusá-lo de ficar uma hora bebendo cachaça em vez de vir logo jantar.
O estrago que o horário de verão causa no relógio biológico dos habitantes das regiões mais populosas do país levará semanas, até mais de um mês, para ser absorvido. E quando as coisas estiverem normalizadas, repete-se a confusão com o atraso obrigatório de outra hora, no relógio mecânico.
Logo que empossado, o ex-presidente Lula não teve forças ou não quis acabar com a farsa do horário de verão, dizem até que influenciado pela sua então ministra de Minas e Energia, partidária dessa economia que, com todo o respeito, tem sido a base da porcaria. Mas bem que poderia agora a presidente Dilma dar um basta à aberração, ao menos para o último ano de seu mandato. Interromper essa prática subdesenvolvida e insistir para que ela mantenha no segundo mandato como uma de suas metas principais a geração de mais energia em todo o país. Mais investimentos em hidrelétricas, por exemplo.
ATENTADO CONTRA A INTELIGÊNCIA
A história é velha mas merece ser recontada. Durante a expansão árabe, lá pelos anos setecentos, o general Ibn-El-Abbas ocupou o Egito. Chegando às portas de Alexandria, então a maior capital do mundo, extasiou-se com a riqueza de sua biblioteca. Dizem que até originais de Homero estavam em suas prateleiras, se é que Homero existiu. Como suas ordens eram de conquistar pelo fogo e a espada as regiões dominadas, o general hesitou e mandou uma correio a Bagdá para consultar o Califa. O que fazer com aquele patrimônio fantástico?
O Califa respondeu que se todos aqueles escritos concordavam com o Alcorão, eram inúteis e deveriam ser destruídos. E se discordavam, eram perniciosos e precisavam ser queimados.
Diz a lenda que durante muitas semanas as centenas de termas de Alexandria deixaram de ser alimentadas a lenha, passando a ser utilizados os papiros de toda a cultura universal reunidos até a conquista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário