quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Os caduquinhos de minha geração - www.luizberto.com/Blog Besta Fubana

17/10/2013

OS CADUQUINHOS DA MINHA GERAÇÃO

Em seu texto de ontem n’O Globo, em que defende a censura prévia às biografias, Chico Buarque abre fogo logo no início. Já no primeiro parágrafo acusa Paulo Cesar de Araújo, autor de Roberto Carlos em Detalhes, a biografia proibida do Rei, de ter dito que o entrevistou, mas “só que ele nunca me entrevistou”, asseverou Chico, num momento de memória fraca.

Chico Buarque deu entrevista, sim, a Araújo. E longa: foram quatro horas de conversa, em 1992. Não será este um caso de palavra contra palavra. Araújo tem a entrevista gravada e filmada. Há fotos também do encontro. Nelas, Araújo e Chico aparecem juntos, no sofá da casa do compositor carioca.

Ao final da entrevista, autografou um exemplar do LP Construção com uma gentil dedicatória que começava assim: “ao amável Paulo Cesar (…)”.

E agora, Chico? Talvez seja mais um exemplo sobre a importância das biografias. Como as personalidades não se lembram de muita coisa de suas próprias vidas, uma boa biografia só ajudaria a todos – inclusive aos próprios – a contar a história de personagens importantes.

* * *
E esses caras, Roberto Carlos, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gil, e mais outros candidatos a censores, são todos da minha geração. Caetano Veloso, por uma coincidência da vida, nasceu no mesmo dia que eu, no mês de agosto. Agradeço aos céus o fato de estar mantendo o entendimento, a lucidez e a coerência à medida que vou envelhecendo, ao mesmo tempo que lamento demais ver estes meus contemporâneos, por cegueira ou por motivos menos nobres, se tornando cada dia mais tabacudos e jurássicos. Cada um mais caduquinho que o outro. E chatos, também. Uma pena mesmo.

Vou continuar curtindo e admirando a obra de cada um deles, deixando de lado a triste postura pessoal que assumiram nos últimos tempos. Não tenho qualquer esperança de que esta onda vá passar, ao contrário do que diz a letra da genial composição de Chico, “Vai Passar“…

A melhor apreciação que ouvi sobre estes dinossauros - que perderam o rumo ao chegar à idade provecta -, foi feita por Humberto Werneck, autor do livro O Santo Sujo, uma biografia arretada do compositor paraense Jayme Ovalle (Em falando de Ovalle, não deixem de ler o poema que sobre ele escreveu Vinícius de Moraes, clicando aqui).

E tem mais: Humberto Werneck é autor de Tantas Palavras, uma biografia de Chico Buarque que consolida a discografia do excelente compositor de péssima memória que é Chico Buarque.
Leia resenha sobre Tantas Palavras, songbook-biografia de Chico Buarque, da autoria de Humberto Werneck clicando aqui

Pois bem. Humberto Werneck simplesmente liquidou a questão, e emitiu uma opinião definitiva sobre os jurássicos da minha geração que defendem este estranho e abjeto tipo de censura, que impede o povo brasileiro de conhecer a vida das pessoas e dos artistas que fazem a história e a música do país.

Werneck disse o seguinte:

- Esses caras não precisam preocupar-se com os maus biógrafos. Eles mesmos já estão se encarregando de avacalhar suas biografias.
O intelectual e biográfo Humberto Werneck: matou a pau e encerrou o assunto

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