terça-feira, 1 de outubro de 2013

Espionagem? Sempre houve e sempre haverá, desde sempre.


Humberto Guedes

A respeito do chamado Marco Regulatório da Internet, em discussão na Câmara, com a devida vênia dos apreciadores do controle e da prevenção, a experiência ensina que os expertos, ah! esses sempre burlam, fraudar é sua índole, sua tara mesmo. E, numa palavra, inexiste bunker inexpugnável.

Deixando de lado o geral do marco civil, o quase nada que vi parece dar uma ar calvinista e produtivista à rede, cuja virtude maior é abrir espaço à mais estonteante atuação da inteligência, capaz de renovar a civilização, ao arrepio das mentalidades organizadas, institucionalizadas, esclerosadas, apodrecidas com suas velhas receitas.

Cumpre, sim, preservar o cidadão contra o Estado. Mas espionagem sempre houve e haverá, desde os chimpanzés – ou antes, a espreitada do predador, o olhar indiscreto do vizinho, enfim… O problema é deixarmos de ser idiotas e de externar nossa histeria, acreditando poder acabar com “o mal”. O outro sempre existirá. Veja-se os EUA do fim do século XVIII, quem diria tornar-se o que se tornou já em meados do século XIX?

CONQUISTAS DIÁRIAS

É preciso ter em mente que liberdade e segurança são coisas conquistadas diariamente, e não, tão-somente, garantidas por leis, elas têm valor diminuto no processo civilizatório.

Ora, ora, se querem proteger seus dados de variado valor estratégico, não os exponham numa rede vulnerável a crianças, aos nerds. Pais querem proteger seus filhos, não lhes deem acesso a computadores antes de idade para compreenderem os riscos. Não querem ter sua intimidade exposta, não posem para fotos íntimas, pois poderão acabar na rede etc…

INEVITÁVEL

O mundo lá fora pode ser muito mau, sim, ou bom, conforme a preferência, isso é inevitável.

Aos doutores e pós-doutores que não olham além de seus próprios modelitos, pois foram adestrados neles, o nicho do mundo que lhes coube no esquartejamento cartesiano, sob os nefastos princípios do especialismo e do racionalismo (logicismo formalista de viés matemático, quando não puramente matemático, com todo o embuste que o marca), ou seja duplamente idiotizados, e que se pensam protegidos pela militarização do cotidiano, somente resta convidá-los para os sábios “viva e deixe viver” e te cuide que a vida não pode ser baile de debutantes.

Pretender um mundo asséptico é o mesmo que querer as luzes sem sombras, alimentos sem esterco, não passa de delírio arrogante, fundo de paranóia e maniqueísmo. É preciso saber conviver com o outro, ele é complementar do real.

Melhor sem lei, pois a prova é meramente virtual, fragilizando sobremaneira a defesa de algum perseguido, ou bode expiatório, suprimindo a um magistrado a capacidade de avaliação do fato, senão do que técnicos lhe apresentem. Isto é perigosíssimo.

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