2/08/2013 às 11:28
Intelectuais ligados à “Rede” já leram “O Príncipe”; Marina Silva tem de ler ao menos “O Pequeno Príncipe”. Ou: A democracia comporta vândalos que recorrem a barras de ferro como argumento?
Alguns intelectuais ligados ao (ou “à”?) Rede, partido de Marina Silva, já leram “O Príncipe”. Marina, se for o caso, tem ao menos de ler “O Pequeno Príncipe” e saber que, moralmente, um político se torna responsável por aqueles a quem cativa com o seu discurso, como ensinava a raposinha chatinha. A ex-senadora petista é quem mais lucrou politicamente com o transe das ruas. Sua fala de substantivos abstratos e frouxos é obviamente simpática ao movimento das ruas. Em suas intervenções públicas, apresenta-se como uma espécie de teórica desse momento de suposta falência dos mecanismos institucionais de representação. Isso não quer dizer que Marina e sua turma estejam na raiz das manifestações, mas que foram mais ágeis na sua apropriação oportunista. Por que isso tudo?
Leio em reportagem da Folha que um rapaz chamado Pedro Piccolo, 27 anos, sociólogo, admitiu ter participado da confusão que resultou em quebra-quebra no Palácio do Itamaraty no dia 20 de junho. Nas fotos, ele aparece cobrindo o rosto com uma camiseta da “Rede” e com uma barra de ferro na mão. À Folha, ele declarou o seguinte: “Estou à disposição e tranquilo para o que for decidido. Foi uma coisa pessoal minha, fiquei muito excitado, mas não depredei nada”.
Certo! Em sua página no Facebook, ele escreveu este texto singelo:
“Vi uma barra de ferro no chão e a agarrei, inicialmente com a intenção de me defender, caso as coisas piorassem por ali. Depois, com as emoções à flor da pele, a pressionei algumas vezes contra diferentes pontos de uma estrutura também de ferro do próprio prédio e em seguida a joguei. Não quebrei nada”.
“Vi uma barra de ferro no chão e a agarrei, inicialmente com a intenção de me defender, caso as coisas piorassem por ali. Depois, com as emoções à flor da pele, a pressionei algumas vezes contra diferentes pontos de uma estrutura também de ferro do próprio prédio e em seguida a joguei. Não quebrei nada”.
Ai, ai… Volto à frase precisa do compositor Lobão para designar certa ética da responsabilidade no Brasil: “Peidei, mas não fui eu”. Piccolo se juntou à turma que queria depredar o Itamaraty, mas usava a barra de ferro para… se defender!!! Ele não depredou, apenas a “pressionou” contra “diferentes pontos da estrutura”. Se não era para depredar, vai ver estava interessado em escrever uma tese sociológica sobre a resistência de materiais… E tudo isso por quê? Porque essa criança de 27 anos estava muito “excitada”. Assim, concluo que se deve tomar cuidado quando Piccolo se excita…
Marina é responsável por todo maluco que veste uma camiseta da Rede? Depende. O “excitado” de que se cuida acima é, atenção!, um dos dirigentes do partido. Se continuar nessa condição e se não for expulso da legenda (ou do grupo, já que o partido não tem ainda existência legal), então Marina passa, sim, a endossar a sua ação. Em nota, o partido disse repudiar toda forma de violência e que a participação de simpatizantes do partido nos protestos “não guarda relação com discussões ou posicionamentos da Executiva ou da Comissão Nacional Provisória”.
Não? Marina tem dado palestras por aí sobre esse novo “momento” da política e já se colocou como uma espécie de vanguardista, profeta ou pitonisa do que vai nas ruas. Embora, é claro!, repudie a violência.
Já escrevi bastante, como sabem, sobre os tais “protestos”. As três semanas de férias não mudaram a minha leitura sobre o que está em curso. Uma coisa é a justa insatisfação de amplos setores da sociedade brasileira com o governo petista em particular, com os governos no geral e, mais amplamente, com os políticos. Outra, distinta, é a negação sistemática dos caminhos institucionais, legais e democráticos de solução de conflitos e contendas. Aí, não! Aí estamos lidando com fascistas de esquerda, que sempre estiveram, é bom que se diga, a serviço do petismo.
O que é novo nesses dias é o fato de os petistas terem perdido o controle dessas “ações diretas”. O partido sempre foi muito hábil em manipular a cachorrada, disfarçada de “militantes sociais”, contra seus adversários. À medida que o partido se “aburguesou”, que passou a falar, por força de sua condição, em nome da “ordem”, a turma do pega-pra-capar foi buscar abrigo em outras praças da utopia.
A fala frouxa de Marina Silva — contra “tudo isso que está aí”, para lembrar antigo mantra petista — serve, sim, como uma espécie de catalisador desse sentimento difuso de justiça. Não há nada de errado com sentimentos de justiça, difusos ou não. Quando, no entanto, eles recorrem a “barras de ferro” para “forçar vários pontos da estrutura” de um prédio público, num regime de plena democracia, aí se está lidando com depredadores dessa ordem democrática.
E o lugar de gente assim é a cadeia. Daqui a pouquinho falo de alguns bandidos disfarçados de defensores da democracia que tentaram promover a baderna ontem em São Paulo.
Vamos ver qual será a decisão da cúpula da Rede. O partido vai dizer até onde podem ir os seus “excitados”.
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