PUBLICADO EM 04/07/13
FERNANDA VIEGAS
JOSÉ VÍTOR CAMILO
Um estudante atirou cerca de cinco vezes contra um colega que o perturbava dentro de uma escola estadual, na manhã desta quinta-feira (4), em Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte. Um outro aluno foi atingido na barriga por uma bala perdida.
Uma aluna contou à reportagem de O Tempo que o colega Alexandre Esteves dos Santos, de 19 anos, possui algum tipo de distúrbio mental e por isso sempre era incomodado por um outro aluno, principalmente com tapas na cabeça, mesmo ele sendo sempre educado e respeitoso com todos.
De acordo com informações do Corpo de Bombeiros, Santos sacou uma arma, tirada de uma mochila, dentro da Escola Estadual Efigênia de Jesus Werneck, na rua C, no bairro Dona Rosarinha, e acertou dois adolescentes de 16 anos.
Segundo o tenente Rodrigo Lima do 35º Batalhão da 150ª Companhia da Polícia Militar (PM), Santos foi preso em casa. O suspeito contou à polícia que mora com a avó e que na noite dessa quarta-feira (3) um tio dele, que é cabo do 1º BPM dormiu na casa e deixou por lá uma arma dentro de uma mochila, em cima de um armário. Na manhã desta quinta, o jovem pegou o revólver calibre 38 e o levou para escola. A arma foi apreendida.
Santos ainda contou que o colega o chama de gordo e que isso o incomodava muito. O tenente ainda informou que o suspeito tem ideia do que fez, mas que ele não esboça nenhum sentimento de arrependimento.
O socorro foi feito pela PM. P.O.T., de 16 anos, que era o alvo de Santos por supostamente cometer o bullying, foi atingido de raspão no ombro e na orelha. Ele foi socorrido para o Pronto-Atendimento (P.A.) do bairro São Benedito. Já R. R. S., também de 16 anos, foi baleado na barriga, por engano, e foi levado para P.A. Central. Ele é filho de um policial militar. Os tiros foram disparados em um corredor do segundo andar da escola.
A assessoria da Secretaria Estadual de Educação (SEE) informou que há uma equipe do governo dando assistência na escola e que providências iniciais foram tomadas, como a comunicação às famílias das vítimas. Além disso, informou que há uma parceria entre a Secretaria e a PM para a realização de rondas policias próximo às instituição de ensino, a chamada patrulha escolar. A Secretaria também comunicou que desenvolve ações de prevenção de fatores de geração de violência no ambiente escolar.
Segundo a SEE a instituição tem cerca de 600 alunos matriculados do 6º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio, nos turnos de manhã e tarde. A escola em questão possui sistema de monitoramento por câmeras de segurança e desenvolve atividades pedagógicas de não violência.
As aulas foram suspendidas no turno da manhã, mas as atividades da tarde serão mantidas. A Secretaria junto com a direção da escola irá decidir qual atitude tomarão para que os crimes não venham a acontecer.
A reportagem de O Tempo entrou em contato com as famílias dos jovens envolvidos no crime, mas eles não quiseram se pronunciar.
Bullying também é violência
Para o psicólogo e advogado especialista em direitos humanos Túlio Louchard Picinini, o bullying traduz uma série de valores que estão fora dos padrões estipulados pela sociedade. "São gordinhos, negros, que sofrem um ataque direto. O bullying é um tipo de violência sofrida por pessoas que possuem diferenças, que são mal vistas, socialmente. Nesse caso, o sujeito que sofre o bullying não conseguiu amparo e nem lidar com a situação e transformou o que vivia em violência contra o outro".
Na avaliação da psicanalista e psicopedagoga Cristina Silveira, a escola tem responsabilidade nesse crime, já que ela poderia ter agido de modo a prevenir os casos de bullying. "Histórias de bullying são muito antigas e as escolas tem papel fundamental nessa questão. Elas (instituições) podem, por exemplo, realizar palestras, colocar monitores dentro de sala de aula para orientar os jovens, conversar com os pais das vítimas de bullying e também dos agressores, orientar e encaminhá-los para terapia, já que quem pratica o bullying ou sofre agressões de variados tipos em casa ou têm famílias desestruturadas, em muitos casos", explicou.
A educação pouco inclusiva acaba por proporcionar essa violência, na opinião de Picinini. "A gente vê escolas rejeitando pessoas com deficiência, mesmo elas tendo a responsabilidade da inclusão. Qualquer exercício de exclusão é uma violência e a escola tem que impor limites aos alunos", criticou.
Silveira também credita à família o extremo que a situação chegou, já que também não acompanhou o jovem e não o orientou para lidar com a agressão que sofria. "A família deveria estar mais próxima do rapaz, observando o comportamento dele e o educando. Se ele (Santos) for realmente um menino com problema psíquico, ele não consegue controlar os seus impulsos: quando vê já fez e não se arrepende. A vitima de bullying reage contra o agressor ou contra si mesma, tentando até o suicídio, quando já não aguenta mais", afirmou.
Ainda, uma outra questão levantada pelos especialistas é a faixa etária dos envolvidos na violência. "O período da adolescência e do início da fase adulta é de formação e nesse momento as pessoas estão construindo uma alto imagem, que se torna um ponto vulnerável. Quando ela é afetada, pode favorecer a violência", analisou.
Escola já foi palco de outras brigas
Há pouco mais de dois meses, uma confusão envolveu um professor e um aluno da mesma escola. Uma briga terminou com cinco adolescentes apreendidos.
De acordo com a PM, o professor estava na sala de aula, aplicando prova, quando chamou a atenção de um dos alunos. Testemunhas disseram à polícia que o aluno foi agredido pelo professor com três socos no rosto. Revoltados, os demais estudantes compraram a briga e partiram para a agressão. O professor levou socos e chutes e conseguiu se esconder dentro de uma outra sala.
A confusão foi tão grande que o educador teve que deixar a escola escoltado pela polícia. Quando a PM deixou o local, a viatura foi apedrejada pelos alunos. Ao final da briga, cinco adolescentes foram apreendidos e levados para a delegacia para prestar depoimento.
Jornal O Tempo
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