26/05/2013
Cristovam Buarque
Em 1961, os Estados Unidos definiram a meta de enviar um homem à Lua no prazo de dez anos. Cinquenta e dois anos depois, o governo brasileiro definiu a meta de alfabetizar suas crianças de oito anos até 2022. Talvez nada demonstre mais o nosso atraso do que a diferença entre essas duas metas. E o governo comemora com fanfarras, em vez de pedir desculpas pelo atraso do Brasil.
Nesta segunda década do século XXI, os países que desejam estar sintonizados com o futuro têm como metas, dentre outras, a conquista do espaço, o entendimento das ciências biológicas, o desenvolvimento de técnicas de telecomunicações, a implantação de sistemas industriais sintonizados com os avanços técnicos.
Fica impossível imaginar uma sociedade do conhecimento sem centros de pesquisa e um amplo sistema universitário de qualidade. Isso só é possível se a educação de base for de alta qualidade para todos. E isso é impossível sem a alfabetização universal e completa em idades precoces, que garantam não apenas o controle dos códigos alfabéticos, mas também a leitura e o domínio das bases da matemática. Na economia do conhecimento, nenhuma sociedade pode deixar de desenvolver o potencial do cérebro de cada um de seus habitantes desde os primeiros anos, desde a alfabetização.
Mas não é isso o que vem acontecendo com o Brasil. Ao não fazer a universalização da educação completa, o país tapa poços de conhecimento. Imagine os EUA fazendo um pacto entre seus Estados para ver qual deles chegaria à Lua, em vez de usar a Nasa federal.
Se o Brasil deseja recuperar seu atraso, deve definir metas nacionais ambiciosas: todas as crianças na escola em horário integral, com professores muito bem-preparados e dedicados, o que exige elevados salários, em escolas com os mais modernos equipamentos pedagógicos, em todo o território nacional, desde os mais ricos aos mais pobres municípios, atendendo igualmente às crianças mais ricas e às mais pobres.
Isso não se consegue por meio de pactos ilusórios, assinados sem qualquer compromisso real das partes, especialmente entre partes tão desiguais, que levam os pactos a parecerem caricaturais.
A única maneira de recuperar os séculos perdidos no passado para dar o salto que o Brasil precisa no futuro é envolver diretamente a União na implantação de um novo sistema educacional para, ao longo de poucos anos, substituir o atual sistema estadual e municipal por um sistema federal. Isso exige mais do que um pacto ilusório. Exige uma espécie de federalização da responsabilidade e da construção do novo sistema educacional.
O Brasil não dará o salto educacional, e sem este não haverá os outros, sem um governo federal que empolgue o país com a meta de, em 20 ou 30 anos, ter uma educação de qualidade comparável à dos países mais educados do mundo. Isso é possível e é preciso.
(transcrito do jornal O Tempo) via Tribuna da Internet.
Nenhum comentário:
Postar um comentário