segunda-feira, 1 de abril de 2013

Para justificar a inércia no caso Rose, diretor da Polícia Federal diz que, agora, grampo só em último caso.

segunda-feira, 01 de abril de 2013 | 07:29

Carlos Newton

Em entrevista a Flávio Ferreira, da Folha, o diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello Coimbra, faz curiosas e ardilosas declarações para justificar que a Polícia Federal agora passou a fazer “grampos telefônicos” apenas em “último caso”.


Em nenhum momento o delegado cita o nome de Rosemary Novoa Noronha, ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, e companheira inseparável do então presidente Lula em visitas oficiais a 32 países, num período de menos de 3 anos e sempre na ausência da primeira-dama Marisa Letícia.

Estranhamente, foi em novembro, na Operação Porto Seguro, que desbaratou a quadrilha formada pela companheira de Lula com os irmãos Paulo e Rubens Vieira, que pela primeira e única vez a Polícia Federal “deixou” de grampear o telefone de uma das principais figuras envolvidas na corrupção, a própria Rosemary Noronha. Teria sido coincidência? Claro que não. Tanto assim que a Polícia Federal fez questão de grampear os e-mails de Rose.

“SURPRESA”

Ao tomar conhecimento dessa suposta “nova estratégia” da PF, um ex-superintendente da corporação mostrou-se surpreso e incrédulo. Ouvido pela Tribuna da Imprensa, fez questão de esclarecer que o diretor-geral da Polícia Federal está em situação delicada e apenas tenta se proteger.

O ex-superintendente não aceita a posição do delegado Leandro Coimbra, que citou como “justificativas” as operações Satiagraha e Castelo de Areia, em que a Policia Federal foi acusada de abusar de procedimentos “invasivos” na escuta telefônica. Como se sabe, a operação Satiagraha foi sobre crimes financeiros atribuídos ao banqueiro Daniel Dantas. A operação Castelo de Areia, sobre suspeitas de fraude a licitações e corrupção envolvendo executivos de construtoras e políticos.

“Uma coisa é você grampear conversas telefônicas com autorização judicial, outra coisa muito diferente é tentar usar provas obtidas sem autorização judicial, como aconteceu naquelas duas operações, porque essas provas serão facilmente canceladas na Justiças”, explica o ex-superintendente, acrescentando que o procedimento-padrão da Polícia Federal do Brasil e de qualquer outro país sempre foi (e continua sendo) pedir autorização judicial para grampear os telefones dos suspeitos, como primeira providência. Somente depois, quando há comprovação de corrupção nas conversas telefônicas, é que a Polícia Federal pede autorização para grampear os e-mails. E jamais grampeia e-mails, sem antes grampear os telefones.

PROCEDIMENTO-PADRÃO

“Isso não mudou, é claro. O esquema-padrão de investigação continua sendo assim, no Brasil e no mundo, até porque não há outra maneira de proceder”, explica o ex-superintendente da Polícia Federal, que pediu para não ser identificado pela Tribuna da Imprensa, porque os atuais dirigentes da Polícia Federal são seus colegas antigos e estão submetidos a fortes pressões.

No caso específico de Rosemary Noronha, o ex-superintendente da PF diz compreender a posição dos dirigentes da Polícia Federal. “É constrangedor grampear conversas pessoais de um ex-presidente de República com uma pessoa tão ligada a ele como a ex-chefe do Gabinete da Presidência. Essas gravações acabam vazando e se tornando públicas, desmoralizando não só o ex-presidente, mas o próprio país, especialmente no exterior”, diz ele, repetindo que é compreensível a posição defensiva dos dirigentes da Polícia Federal.
Transcrição do Blog Tribuna da Internet

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