NATÁLIA OLIVEIRA
Rodrigo Freitas
Após 37 dias da morte do jornalista Rodrigo Neto, em 8 de março, o repórter fotográfico Walgney Assis Carvalho, de 43 anos, foi assassinado, anteontem, em Coronel Fabriciano, na região do Vale do Aço. Os dois trabalhavam juntos no jornal "Vale do Aço", e Carvalho era testemunha-chave do assassinato de Neto. Segundo a Polícia Civil, "há indícios" de que os crimes estejam ligados. Seria uma queima de arquivo.
Segundo a Polícia Militar (PM), o fotógrafo estava com amigos no povoado de Cocais dos Arruda, em Coronel Fabriciano, também no Vale do Aço, quando parou em um pesque-pague por volta das 21h30 de anteontem, para comer e beber. Meia hora depois, um suspeito, em motocicleta, deu três tiros pelas costas da vítima, que morreu no local. Testemunhas informaram à polícia que o suspeito já havia passado pelo pesque-pague pelo menos três vezes antes do crime e conversava muito ao telefone.
Carvalho foi assassinado com um revólver 38, mesmo calibre da arma usada para matar Neto. Ele foi uma das primeiras testemunhas a ser ouvida pela Polícia Civil após a morte do repórter. Os dois trabalhavam em parceria cobrindo crimes durante a madrugada. Carvalho fotografava para diversos veículos e, às vezes, gravava áudio com as fontes e repassava para Neto que utilizava as gravações na rádio Vanguarda.
O corpo dele foi enterrado ontem no Cemitério Municipal Senhor do Bonfim, em Coronel Fabriciano. "Queremos agora saber quem e por que mataram meu irmão", disse Walglene Carvalho.
Investigações
Ontem, o chefe do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), delegado Wagner Pinto, esteve no Vale do Aço para investigar o crime. "Há dois suspeitos identificados no boletim de ocorrência da PM, no entanto, ainda vamos investiga-los", disse.
O subsecretário da Secretaria de Defesa Social (Seds), Daniel de Oliveira Malard, afirmou que há indícios da ligação entre as mortes dos dois jornalistas e as investigações serão correlacionadas. De acordo com ele, investigadores das corregedorias das duas polícias ficarão no Vale do Aço para investigar a participação de policiais nos crimes.
FOTO: DIÁRIO DO AÇO/DIVULGAÇÃO
Rodrigo Neto foi assassinado em 8 de março
Grupo de extermínio é a principal suspeita
O presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Assembleia Legislativa, deputado estadual Durval Ângelo (PT), afirmou que o repórter fotográfico Walgney Assis Carvalho morreu porque tinha informações sobre a autoria do crime que resultou na morte do jornalista Rodrigo Neto.
Segundo ele, três dias após o assassinato do jornalista, em Ipatinga, a CDH recebeu uma ligação anônima dizendo que o Walgney sabia quem eram os autores do crime. O fotógrafo foi uma das primeiras testemunhas ouvidas pela polícia e, segundo o deputado, temia pela própria vida caso seu depoimento viesse à tona. "Não tenho dúvidas de que a morte dele é queima de arquivo", afirmou Durval.
As mortes de Rodrigo e Walgney estariam relacionadas a um grupo de extermínio responsável por, pelo menos, nove crimes. Neto investigava a ligação entre assassinatos e desaparecimentos de 1992 a 2013. Em todos havia a suspeita da participação de policiais civis e militares.
Governo promete apuração rigorosa
O governador Antonio Anastasia emitiu uma nota lamentando as mortes e disse que determinou uma "apuração rigorosa" desse e do assassinato do jornalista Rodrigo Neto. "Os cidadãos podem ter a certeza de que não vamos tolerar que essas ações criminosas prosperem e nem que a liberdade de imprensa seja ameaçada", disse.
O carro de reportagem de uma emissora de televisão do Vale do Aço foi seguido por um motoqueiro na madrugada de ontem. A equipe cobria um homicídio e registrou um boletim de ocorrência. Jornalistas que atuam na região divulgaram uma carta à população, na qual reclamam da impunidade e falam do medo que acomete a categoria.
Walgney Assis Carvalho deixou uma filha de 14 anos, fruto do casamento com uma policial, de quem ele já estava separado. Carvalho trabalhava também para a perícia da Polícia Civil do Vale do Aço e tinha amigos na corporação.
Repercussões
"Três dias após a morte do Neto, eu recebi uma ligação anônima dizendo que o fotógrafo disse alto que sabia quem eram os autores do crime. Não tenho dúvidas de que foi queima de arquivo."
Durval Ângelo
Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais
"Essas mortes mostram a vulnerabilidade da profissão. O pior é que as autoridades não têm nos dado uma reposta. Existem profissionais desistindo da carreira, principalmente da área policial. Os jornais não estão conseguindo contratar. O sindicato lamenta o fato e vai cobrar solução. Vamos cobrar segurança."
Paulo Sérgio
Diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais
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