12 de Março de 2013 - 06:00 - Juiz de Fora
Rodoviários fazem assembleia nesta terça para definir rumos da paralisação; nas ruas, usuários estão cansados de espera nos pontos
Por Fabíola Costa
A greve de motoristas e trocadores completou uma semana nesta terça-feira (11), e os rumos do movimento vão depender de assembleia da categoria que acontece nesta terça em dois turnos: 9h e 18h. O clima nas ruas é de apreensão, alimentado por boatos sobre possível acirramento do protesto. Os usuários, que amargam prejuízos mesmo com a circulação de 80% da frota, estão cansados da longa espera nos pontos e da incerteza a respeito do prolongamento da situação.
Nesta segunda, um grupo de passageiros das linhas que atendem o Bairro Santa Cruz protestou contra oferta insuficiente, ônibus lotados e atraso nas linhas. O ato começou por volta das 6h40, na Avenida Doutor Simeão de Faria, na altura do número 20, no Bairro São Judas. A primeira informação recebida pela Polícia Militar (PM) foi que cerca de cem pessoas, portando paus e pedras, impediam o tráfego de veículos. O número de manifestantes não foi confirmado pela corporação. Segundo a PM, após negociação, houve a liberação do fluxo.
A doméstica Andréia Inácia de Lima, 32 anos, estava em um dos coletivos impedidos de circular. "Fiquei mais de quarenta minutos dentro do ônibus, morrendo de medo, mas não aconteceu nada." Segundo a doméstica, a liberação só aconteceu com a chegada da polícia, que teria realizado uma espécie de escolta para garantir o tráfego. "A oferta de ônibus reduziu muito. Estamos passando dificuldade. Não fui trabalhar dois dias e ainda tem o boato de que eles vão parar de novo." No primeiro dia de greve, dia 5, nenhum ônibus circulou nas ruas. No mesmo dia, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) exigiu a circulação de 80% da frota por meio de liminar.
A Viação São Francisco, que atua na região, afirmou que a operação cumpre o plano emergencial criado pela Secretaria de Transportes e Trânsito (Settra), em que foram detalhados linhas e horários para atingir o percentual de oferta do serviço estipulado pela Justiça.
Segundo a Settra, normalmente, 14 ônibus distribuídos entre as linhas 722, 732 733 e 748 atendem o Santa Cruz. Nesta segunda pela manhã, dez carros estavam circulando. Após o incidente, foram colocados mais dois veículos à disposição da população. "Estamos tentando planejar sobre uma crise. Dentro dessa lógica, estamos tentando fazer o melhor", justificou o subsecretário de Mobilidade Urbana da Settra, Mauro Loyola Branco. De acordo com ele, o episódio foi "pontual", e a situação, corrigida.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário (Sinttro), Adilson Rezende, destaca que o protesto no Santa Cruz partiu da própria população. "O sindicato não estava presente. Estamos trabalhando na porta das empresas, não nos bairros", garantiu. A Astransp, por meio de sua assessoria, considerou o protesto no Santa Cruz um caso isolado. Confirmou a oferta de 80% do serviço, inclusive no final de semana, e afirma que não houve registro de operação tartaruga, tráfego dos coletivos com velocidade reduzida. A entidade também confirmou para esta terça a reunião com empresários para discutir o reajuste de 10,63% sugerido pelo TRT, após audiência realizada em Belo Horizonte. As partes precisam dar uma resposta ao tribunal sobre o possível acordo até esta quarta.
Pontos lotados
Nos pontos de ônibus lotados, a queixa é única: atraso nas linhas dos ônibus. A doméstica Marlene Bento Pereira, 53, que mora no Bairro de Lourdes, conta que estava desde às 17h15 no ponto da Avenida Getúlio Vargas. Segundo ela, o ônibus que atende o bairro costuma passar por volta das 17h30. Só às 17h45 ele chegou e foi disputado por dezenas de pessoas, que engrossavam a espera. "Essa greve atrapalha muito a nossa vida", reclamou.
O auxiliar administrativo Paulo Henrique dos Santos, 34, comenta que, desde o início da greve, o atraso nos horários para a Zona Norte varia de 15 a 20 minutos. "Prejudica muito, porque temos horário para entrar no trabalho, realizar consultas médicas e cumprir compromissos. Da forma atual, o serviço está imprevisível. Não podemos contar com ele."
Situação leva a descrédito
Por Gracielle Nocelli
Nos últimos anos, a campanha salarial dos rodoviários de Juiz de Fora ultrapassou as fronteiras da negociação entre patrões e empregados e tem afetado diretamente o cotidiano dos juiz-foranos. Diante do impasse para se chegar a um acordo durante esse processo, a população se vê refém da situação, sendo alvo dos transtornos causados pelas ações de movimentos grevistas. A Tribuna realizou levantamento das negociações entre Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário (Sinttro) e Astrasnp nos últimos cinco anos, e constatou que, desde 2009, o mês de março entrou para o calendário da cidade como o período em que o cidadão costuma ser afetado pela paralisação parcial ou completa do serviço de transporte público urbano (ver quadro).
Em 2009, Juiz de Fora foi palco de uma das negociações mais arrastadas do setor. A campanha salarial, iniciada em fevereiro, teve desfecho apenas em junho. No dia 9 de março, a situação chegou ao ápice quando a paralisação da categoria interrompeu o trânsito no Centro por sete horas. Durante o movimento, a Polícia Militar chegou a deter seis pessoas suspeitas de incitarem a violência.
No ano seguinte, novamente a população sentiu reflexos. No dia 4 de março, o trânsito foi interrompido por manifestação de motoristas e cobradores. Cinco dias depois, a situação tornou-se caótica com a realização de operação tartaruga, que fez com que os ônibus trafegassem a 20 km/h, obrigando passageiros a descerem dos coletivos e seguirem a pé.
Em 2011, a situação se repetiu. A diferença foi que, desta vez, a operação tartaruga definiu a velocidade de 10 km/h para os coletivos, acarretando congestionamento de várias vias da cidade. Já no ano passado, a população conviveu apenas com a ameaça de realização de movimento grevista por alguns dias.
Para especialistas, a situação repetitiva faz com que o serviço esteja desacreditado. "O sistema não atende com a devida eficiência os desejos de deslocamento da população. A cidade cresceu, a demanda potencial e a quilometragem produzida mensalmente aumentaram, mas a demanda transportada reduziu. Estamos atrasados há, pelo menos, duas décadas. Já passou da hora de se rever o modelo operacional", avalia o engenheiro especialista em planejamento e transporte urbano, Luiz Antônio Moreira.
Especialista em mobilidade urbana, José Ricardo Daibert diz que Juiz de Fora carece de uma pesquisa de origem e destino que mostre os hábitos de deslocamento do cidadão. "Grandes cidades, como Rio e São Paulo, fazem esse tipo de planejamento", exemplifica. "Nesses municípios, o modelo do transporte público também é diferente, pois a política tarifária não está atrelada aos custos com mão de obra. É um absurdo que o impasse das negociações trabalhistas recaia sobre a população", opina.
http://www.tribunademinas.com.br/economia/greve-completa-sete-dias-e-populac-o-enfrenta-onibus-lotados-1.1242941
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