quarta-feira, 13 de março de 2013

Atrasos e risco de nova greve ameaçam cursos nas federais. Categoria continua insatisfeita e diz que está pronta para voltar a se mobilizar

Publicado no Jornal OTEMPO em 13/03/2013

LUCIENE CÂMARA

FOTO: DANIEL PROTZNER - 26.08.2012
Motivo. Em função da extensa paralisação em 2012, as aulas só começaram na UFMG na semana passada

Para muitos alunos de universidades federais de Minas Gerais, 2013 ainda não começou. Isso porque eles estão cursando o ano letivo referente a 2012 e só devem iniciar o novo calendário acadêmico em maio, de acordo com previsões feitas pelas instituições. Além do atraso nas aulas, provocado pela greve dos professores no ano passado, rumores de novas paralisações rondam os campi e ameaçam o andamento e a qualidade dos cursos.

O Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN) já informou que nada do que havia sido reivindicado em 2012 foi atendido pelo governo federal e que, por isso, a mobilização continua neste ano. Ainda não há, segundo a entidade, uma agenda de greve. No entanto, no 32º 
Congresso do Andes-SN, realizado no Rio de Janeiro, na semana passada, a categoria já decidiu por reafirmar o mesmo plano de luta do ano passado: reestrutura da carreira e melhores condições de trabalho.

Um dos benefícios concedidos pela União aos professores para dar fim à greve de 2012 foi um reajuste de 25% a 40% - a ser pago gradativamente até 2015 -, aceito pela Federação de Sindicatos de Professores de Instituições Federais de Ensino Superior (Proifes). Mas o Andes-SN recusou o acordo e informou que a Proifes só representa cerca de 5% da categoria. 

"Os docentes não ficaram nada satisfeitos com a proposta do governo", completou o presidente do Sindicato dos Professores de Universidades Federais de Belo Horizonte e Montes Claros (APUBH), João Maurício Lima de Figueiredo Mota.

Além dos docentes, os técnicos-administrativos de universidades e institutos federais, mais uma categoria que fez greve no ano passado, também demonstram insatisfação. "O acordo não vem sendo cumprido totalmente, o que já serve de alerta para a possibilidade de nova paralisação neste ano", avisou a coordenadora geral do Sindicato dos Trabalhadores das Instituições Federais de Ensino (Sindifes), Cristina Del Papa.

Consequências. Na Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), na região Central de Minas, as "aulas de 2012" se estendem até o dia 22 do mês que vem. O primeiro semestre letivo de 2013 só terá início em 13 de maio, com término previsto para 14 de setembro. "Já o segundo semestre de 2013 só deve terminar em 2014", informou o pró-reitor adjunto de graduação da Ufop, Luciano Campos da Silva.

A situação é praticamente a mesma na Universidade Federal de Lavras (Ufla), no Sul de Minas, que deve terminar o ano letivo de 2012 em 27 de abril. A programação local era iniciar o próximo semestre letivo já em 13 de maio, no entanto, professores e alunos estão reivindicando pelo menos três semanas de recesso. "Vamos nos reunir na sexta-feira para analisar a demanda e aprovar o calendário de 2013", disse a pró-reitora de graduação, Soraia Alvarenga Botelho. Ela acredita que, só em 2015, a situação estará regularizada. 


PREJUÍZOS
Estudo e estágio são afetados

A falta de acordo entre o governo federal e os profissionais da educação sobre a reestruturação da carreira e as condições de trabalho tem impacto direito na vida de alunos e docentes. Cansaço, correria na aplicação das matérias, descompasso entre o calendário acadêmico e o de estágio e a falta de perspectiva sobre o término do curso são alguns dos prejuízos identificados por eles.

A estudante Kerlycienne Fernandes dos Santos, 21, que está cursando o quarto período de engenharia de alimentos na Universidade Federal de Viçosa (UFV), na Zona da Mata, disse que já perdeu um estágio em uma grande empresa por conta da greve. "Exigiam uma carga horária mínima de curso que já era para eu ter cumprido se não fosse a greve". Ela contou ainda que, após os quatro meses de paralisação, no ano passado, teve dificuldades para retomar o aprendizado. "Quando a greve começou, só faltava uma prova para a gente terminar o primeiro semestre de 2012. Tudo foi interrompido". Agora, a aluna sente o cansaço da correria no calendário, além do medo por não saber quando conseguirá terminar o curso. (LC)

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