quinta-feira, 17 de janeiro de 2013 | 05:37
Helio Fernandes
Sarney está deixando a presidência do Senado, garantiu na última entrevista: “Não disputo mais nada, vou utilizar meu tempo de outra maneira”. Mas logo se arrependeu e, em reflexões empolgadas diante do espelho, reconheceu: “Posso ser presidente da Academia, estou lá há dezenas de anos, nunca ocupei o cargo”.
Imediatamente começou a fazer consultas, deu telefonemas, recebeu respostas afirmativas, a Academia está sempre precisando de quem queira presidi-la. Apenas uma restrição: “O presidente precisa morar no Rio”. Bem informado e sem o menor constrangimento, Sarney respondeu com a comparação óbvia e evidente: “Rui Barbosa presidiu a Academia sem morar no Rio”.
Falta de constrangimento só igualada por Renan Calheiros, Henrique Eduardo Alves e Eduardo Cunha, que não se envergonham de disputar ou conquistar (perdão,arrebanhar ou arrebatar) os três cargos mais importantes do Congresso.
Pela falta de credibilidade do passado, a irresponsabilidade do presente e, logicamente, a cumplicidade do futuro, deveriam ter garantida a impossibilidade das candidaturas.
EFEITOS COLATERAIS
A eleição desses três personagens tem melancólicos, medíocres e lamentáveis efeitos colaterais. A Renan Calheiros poderão e devem perguntar: “Quanto tempo o senhor ficará na presidência do Senado? Na última vez o senhor renunciou para não ser cassado”.
Quem garante que o fato não se repetirá com a avalanche de denúncias que são publicadas diariamente em rádios, jornais, revistas e televisões? Faltam 15 dias para a eleição, ninguém irá impedi-lo de voltar à presidência do Senado, o cargo será dado ao senhor como presente de pai para filho, muito bem lembrado, os dois Renans estão enrolados e emporcalhados em muitas das denúncias.
Gravíssimo o manifesto lançando a candidatura do senador Randolfe Rodrigues, tremendo libelo redigido por um grupo de senadores independentes e sem medo de acusações. Dona Dilma vai assistir a tudo, “não tenho nada com isso, não sei de nada”? Irá à posse de Renan e de “Henriquinho”, a de Eduardo Cunha mais insignificante.
Ressalte-se, ressalve-se, registre-se: o candidato a líder tem “negociado” e “coordenado” o silêncio em relação a ele, é bom nesse tipo de autopreservação. O bombardeio tem sido mais violento sobre os outros dois, não adianta dizer que é “fogo amigo”.
MENSALEIROS
Dos três, o primeiro a ser questionado será o futuro presidente da Câmara. Pouco depois de assumir, Eduardo Alves terá que referendar a cassação dos cinco deputados condenados pelo Supremo. Até com razão todos eles poderão refutar: “Como é que um deputado-presidente, acusado de corrupção maior do que a nossa, pode nos expulsar?” Henrique Eduardo se queixará a Dona Dilma, em audiência, ou a Michel Temer num almoço de confraternização.
Perguntinha ingênua e inútil: esse almoço será na casa oficial do vice-presidente ou do já presidente da Câmara?
O assessor sócio oculto (por elipse?) de Henrique Eduardo Alvez foi demitido. Ao deputado quase presidente da Câmara não aconteceu nada. Ele não tinha domínio do fato? E a fortuna depositada nos paraísos fiscais, não se enquadra na lavagem de dinheiro ou evasão de divisas?
Henrique Eduardo pode ficar tranquilo: a jurisprudência do Supremo só vale para o Judiciário. Os Três Poderes são harmônicos e independentes entre si. Ou entre eles?
Tribuna da Internet
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