domingo, 20 de janeiro de 2013

Brasileiro critica a corrupção, mas tolera as próprias falhas.

Publicado no Jornal OTEMPO em 20/01/2013
LITZA MATTOS

Não importam idade, raça, país, religião ou classe social. A corrupção está em toda parte, e é uma ilusão achar que ela esteja ligada somente à esfera política. Adulterando uma carteirinha de estudante aqui, jogando um papel de bala pela janela do carro ali ou comprando produtos falsificados acolá, não encararmos os pequenos "deslizes" com a devida seriedade. E é exatamente por estar tão presente no nosso no dia a dia que o problema é considerado uma pandemia - dois em cada três adultos em todo o mundo acreditam que a corrupção é generalizada nos negócios em seus países, aponta estudo do Instituto de Pesquisa Gallup feito no ano passado.

Apesar de antiga, a corrupção é um fato atual e que acompanha as tendências da modernidade. Segundo uma pesquisa da Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ), houve uma queda de 14 pontos percentuais no consumo de produtos piratas no Brasil de 2011 para 2012 - é a primeira queda desde o início do levantamento, em 2006. Contudo, isso não é um bom sinal, pois a pirataria está deixando de ser física e passando a ser virtual. 

Entre as mil pessoas entrevistadas em 70 cidades do país, 38% confirmaram ter comprado algum produto pirata em 2012, contra 52% em 2011. "Por usarem cada vez mais a internet, muitos brasileiros hoje baixam músicas, filmes e até livros pela web sem qualquer custo", observa o diretor da Fecomércio e representante da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo no Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delitos Contra a Propriedade Intelectual, Natan Schiper. Ele acredita que a impunidade tenha um grande peso para incentivar esse tipo de atitude e aposta na reforma do Código Penal para que, com punições mais severas, seja possível contornar essas situações.

Com isso, 60% dos brasileiros com acesso à internet acreditam que baixar músicas pela rede seja uma prática dentro da lei, enquanto apenas 22% a consideram um crime. Em 2011, os percentuais eram de 48% e 32%, respectivamente. Outro ponto é que, entre os consumidores pesquisados, 97% afirmam que o custo mais baixo era o principal atrativo, número praticamente estável em relação ao ano anterior (96%).

Um exemplo é a estudante Beatriz Coelho (nome fictício), 17, que diz não se sentir culpada por cometer "pequenas" atitudes corruptas no seu dia a dia, como fazer download de músicas, filmes e seriados pela internet. "Essas atitudes se tornaram tão comuns na nossa vida que nem paramos pra pensar se é certo ou errado, além de ser mais barato e cômodo do que ter que sair para comprar. Passa a ser aceitável, porque não nos prejudica diretamente, não enxergamos o dano que esse tipo de atitude causa. Infelizmente, é muito fácil ser corrupto", afirma.

Entretanto, Schiper enumera alguns prejuízos: o governo deixa de arrecadar impostos, o mercado de trabalho perde postos e incentiva a informalidade.

DESCULPA
"Queremos qualidade de vida"

A corrupção continuam acontecendo porque é o caminho mais curto para se ter acesso a alguns bens e serviços. Essa é a opinião do designer João Lopes (nome fictício), 30. 

"As únicas atitudes corruptas que pratico são a pirataria digital, a compra de alguns produtos falsificados e a falsificação de documento estudantil. Não me orgulho disso, mas ter acesso a produtos e serviços de qualidade para me manter atualizado e dentro do mercado requer um investimento mais alto do que julgo justo. Queremos ter acesso à qualidade de vida, à cultura, ao transporte e, em um país pobre, é difícil. O brasileiro tem várias qualidades, e esse comportamento egoísta generalizado é seu defeito", afirma Lopes.

Uma das formas de corrupção pela "falta de acesso" são as ligações clandestinas de energia elétrica ou para sinais de TV a cabo – conhecidas popularmente como "gatos". Somente de janeiro a agosto de 2012, a Companhia Energética de Minas Gerais identificou e retirou aproximadamente 1.500 ligações clandestinas de energia elétrica em Belo Horizonte. Além do risco de acidentes graves, essa prática pode trazer desagradáveis consequências judiciais, como ter que responder pelo crime de furto, que prevê multas e pena de um a oito anos de reclusão, além da obrigação de ressarcir toda a energia furtada e não faturada.(LM)

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