FOTO: FERNANDO VIVAS / AE - 30.9.2005
Matriarca. Claudionor Vianna Telles Velloso, mais conhecida como dona Canô, deixou nove netos, seis bisnetos e mais de cem afilhados
Salvador. Dona Canô, 105, mãe dos cantores Caetano Veloso e Maria Bethânia, morreu ontem pela manhã, em Santo Amaro, no Recôncavo Baiano, a 67 km de Salvador.
Claudionor Vianna Telles Velloso queria morrer em casa. Quatro dias após convencer os médicos do hospital em que estava internada havia uma semana, em Salvador, a matriarca morreu em seu quarto, rodeada pela família.
Muito emocionada, a filha mais velha de dona Canô, Maria Clara, 80, disse que a família está em paz. "Fica uma saudade eterna, sentida, mas não desesperada, angustiada. Ela queria ir embora do hospital, ela pediu. Disse que queria morrer em Santo Amaro, na casa dela. Não teve dor e isso foi muito bom", contou.
Figura que transcendeu o status de mãe de artistas famosos, dona Canô tentava se recuperar de uma isquemia - falta de irrigação sanguínea no cérebro - sofrida no dia 15. Ela sentiu-se mal na madrugada e não resistiu até a chegada do Samu.
Além dos cantores famosos, deixa outros cinco filhos vivos - Nicinha, a mais velha, morreu em outubro -, nove netos, seis bisnetos, mais de cem afilhados e o status de "patrimônio da Bahia", como repetia o ex-senador Antonio Carlos Magalhães, morto em 2007. Ou de "amiga e exemplo",
segundo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ambos aparecem em quadros na sala de sua casa, ponto turístico da cidade, ao lado de retratos de família e de um parabéns enviado pelo papa Bento 16 no seu centenário.
Lula e a presidente Dilma Rousseff estão entre os que enviaram mensagens de pesar.
Lucidez. Dona Canô nasceu no dia 15 de setembro de 1907, em Santo Amaro. Casou-se em 1930 com José Teles Velloso, conhecido por Zeca ou seu Zezinho, funcionário público dos Correios, que morreu em 1983, aos 82 anos.
Apesar da idade avançada, da audição prejudicada e do corpo frágil, de 45 kg e 1,60 m, ela esteve lúcida até o fim. Religiosa, liderou por anos a Novena de Nossa Senhora da Purificação, tradição católica de quase três séculos que acontece em janeiro.
O corpo de Dona Canô foi velado por familiares durante o dia, em casa. O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), esteve presente e decretou luto oficial de três dias. "Presto solidariedade à família dessa grande mulher, que representou o que a Bahia tem de melhor, um símbolo de força, doçura e coragem", disse. A ministra da Cultura, Marta Suplicy, também prestou homenagem:
"Cercada de amor e religiosidade, simbolizou a família e a fé inquebrantável".
Às 19h20 (horário de Brasília), o cortejo seguiu em direção ao Memorial Caetano Veloso, acompanhado por centenas de pessoas. O enterro será hoje, às 10h, no cemitério da cidade baiana.
Filhos levam caixão de casa para o velório
Salvador. Caetano Veloso e Maria Bethânia ajudaram a carregar o caixão da mãe, dona Canô, de casa para o velório, que ocorreu no Memorial Caetano Veloso, em Santo Amaro. Nenhum dos dois quis se manifestar sobre a morte da matriarca.
Rodrigo Velloso, filho de dona Canô, disse durante o velório que a morte do arquiteto Oscar Niemeyer, 104, no dia 5, mexeu bastante com ela. Rodrigo acrescentou que Caetano afirmou, no sábado, que a família a levaria "na raça" do hospital onde ela estava internada para casa. Para isso, precisou assinar um termo de responsabilidade. Médicos acharam que ela não suportaria uma hora de viagem. "Foi uma data bonita (que ela morreu), mas acabou com o nosso Natal", disse.
Muito abalada, Bethânia adiou as apresentações que faria em Porto Alegre nos dias 8 e 9 de janeiro, na turnê "Carta de Amor".
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