Rio - A Corregedoria Geral Unificada (CGU) da Secretaria de Estado de Segurança (Seseg) deflagrou, nesta terça-feira, a Operação Carga Pesada e cumpriu nove mandados de prisão e 44 de busca e apreensão contra uma quadrilha formada por policiais civis lotados na Delegacia de Roubos e Furtos de Carga (DRFC), que tinham como cúmplices um policial militar e um bombeiro.
O grupo realizava crimes de extorsão contra comerciantes de cargas ilícitas, usando a estrutura do Estado para apreender produtos irregulares de vítimas previamente indicadas por um informante (que agia como um falso policial). Em seguida, a quadrilha negociava a devolução da carga apreendida mediante pagamento de propina.
Grupo que foi preso é acusado de diversos crimes, entre eles extorsão e formação de quadrilha | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Entre os nove presos estão: quatro policiais civis lotados na Delegacia de Repressão a Roubos de Carga (DRFC); um PM lotado no 15º BPM (Duque de Caxias); um bombeiro militar; um policial civil aposentado; um ex-policial militar; e um homem que atuava nas operações como informante e como falso policial. Há mais dois indiciados no inquérito, que não são policiais e contra os quais não há mandado de prisão expedido. Durante as investigações, que tiveram início no segundo semestre de 2011, ficou evidenciado, por meio de depoimentos de vítimas e escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, que os policiais denunciados se dedicavam quase que exclusivamente à obtenção de vantagens indevidas.
Ação com apoio do MP e da Secretaria de Segurança
A Operação Carga Pesada contou com apoio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público Estadual, da Corregedoria Interna da Polícia Civil (Coinpol), da Corregedoria da Polícia Militar, da Polícia Civil, da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco-IE) e da Subsecretaria de Inteligência (Ssinte) da Seseg.
Para o corregedor da CGU Giuseppe Vitagliano, essa investigação apontou que nos porões da DRFC operava uma organização criminosa cujos integrantes atuavam como “verdadeiros corsários da modernidade”, valendo-se da estrutura oferecida pelo Estado (viaturas, armamento e distintivo) para achacar vítimas e comercializar cargas ilegais provenientes de uma suposta recuperação.
Policiais civis estão entre os presos na Operação Carga Pesada | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Durante as investigações, que tiveram início no segundo semestre de 2011, ficou evidenciado, por meio de depoimentos de vítimas e escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, que os policiais denunciados se dedicavam quase que exclusivamente à obtenção de vantagens indevidas.
Uma das vítimas, que se recusou a pagar a propina, denunciou o esquema. Essa vítima era um comerciante especializado na venda de jogos eletrônicos sem comprovação de origem. Policiais da DRFC apreenderam, na casa do comerciante, uma carga de jogos eletrônicos sem nota fiscal. No ato, os policiais exigiram R$ 10 mil para liberação do material. Como a vítima se recusou a pagar, o comerciante foi encaminhado à DRFC, na Pavuna, onde o valor da propina foi reduzido para R$ 5 mil.
A vítima optou por não pagar e ligou para a Corregedoria Interna da Polícia Civil. Só então o material foi levado ao conhecimento do delegado titular da DRFC e apreendido. Mesmo assim, o informante da quadrilha que atuava como falso policial civil ainda solicitou dois consoles de um videogame, sob o argumento de que o “gesto de boa vontade” poderia facilitar a liberação do material apreendido.
Nessa ação, foi possível conhecer as divisões de tarefa da quadrilha: coube aos policiais civis a função de invasão da residência da vítima escolhida, onde um policial fazia o papel de algoz e o outro, de negociador. Já o informante, responsável por escolher as vítimas de extorsão, atuava dando cobertura aos policiais. Ele portava fuzil, uniforme de policial, utilizava viaturas e tinha livre trânsito na delegacia, o que fazia com que as vítimas acreditassem que, de fato, fosse um policial civil.
Carga ilícita avaliada em R$ 140 mil
Em outro caso, foi constatado que, durante 50 dias, os policiais civis da DRFC negociaram uma carga de origem ilícita composta por 115 bobinas de pano, avaliadas em R$ 140 mil. As ações operacionais da delegacia nesse período tiveram o objetivo de localizar esse material. A negociação ocorria em um caminhão que está estacionado há cerca de quatro anos na porta da delegacia e que era usado como um depósito clandestino para a guarda temporária dos materiais apreendidos e em negociação. Tudo ocorria com o conhecimento do chefe do cartório da DRFC, que é um dos indiciados com mandado de prisão.
Além das negociações com as cargas apreendidas, os agentes da DRFC exigiam R$ 400 mensais de diversos comerciantes na região de Campos Elíseos, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, para que os mesmos não fossem importunados pelos policiais da delegacia. Nessa cobrança, eles contavam com o apoio de um policial militar, lotado no 15º BPM (Duque de Caxias). Os investigadores se surpreenderam ainda com o fato de um policial civil aposentado trabalhar normalmente na sede da especializada apenas para garantir cobertura às ações ilegais dos policiais civis investigados.
Embora o fio condutor das investigações tenham sido as escutas telefônicas, também foram coletados indícios mais sólidos, como a realização de operações policiais com o objetivo de localização de cargas que eram negociadas pelos policiais da quadrilha.
http://odia.ig.com.br/portal/rio/opera%C3%A7%C3%A3o-carga-pesada-policiais-civis-pm-e-bombeiro-est%C3%A3o-entre-os-presos-1.527370
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