segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Cidades não recebem dinheiro do governo, e seca se agrava. Falta de investimentos faz prefeituras temerem próximo período de estiagem

Publicado no Jornal OTEMPO em 24/12/2012
JOHNATAN CASTRO

FOTO: BRUNO FIGUEIREDO - 17.10.2008
Drama. Cidades enfrentam dificuldades com abastecimento de água; no campo, animais estão morrendo de sede por causa da longa seca

Enquanto a chuva faz estragos em uma parte de Minas Gerais, em outra, o problema continua sendo a falta dela. Não há água para beber, animais estão morrendo e há perdas nas lavouras em diversas cidades mineiras. Muitos dos 122 municípios do Estado que decretaram situação de emergência por causa da seca ainda no início deste ano requisitaram verbas ao governo federal. Entretanto, chegado o período chuvoso, os recursos ainda não foram repassados.

Durante uma semana, a reportagem solicitou ao Ministério da Integração Nacional a lista de cidades que receberam ajuda em Minas, mas não obteve resposta. Porém, um levantamento divulgado recentemente mostrou que, dos 2.058 municípios em emergência no Brasil, 68% ficaram sem ajuda neste ano.

Em Monte Azul, no Norte do Estado, a pouca chuva que veio foi insuficiente para encher os reservatórios. "Não veio nenhuma ajuda. A sorte é que tínhamos os carros-pipa que serviam à zona rural", conta o chefe de gabinete Edson Silvestre Lages. O recurso citado por ele foi o mesmo apoio para a maioria dos municípios mineiros durante a estiagem. Disponibilizados pela Defesa Civil estadual, caminhões pipas, cestas básicas e galões de água ajudaram a amenizar o sofrimento da população.

"Mas essas coisas não são suficientes porque as comunidades são muitas e muito dispersas. Queríamos verbas para criar reservatórios de água e caixas d’água", diz a secretária municipal de Agricultura de Salinas, Maria Helena Silva. Na cidade, os rios Mumbuca e do Saco e outros córregos secaram. 

MORTE
Já o rebanho bovino da cidade de Itinga, no Vale do Jequitinhonha, foi reduzido em 40%, segundo o diretor de Planejamento contra a Seca, Dimas Jardim. "Ainda tivemos uma queda na arrecadação por causa da redução do Fundo de Participação dos Municípios. Escolas ficaram sem água".

Em Coronel Murta, um projeto para a construção de pequenas barragens foi elaborado e enviado ao governo federal por meio da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). "Seria uma forma de criar reservatórios de água para a população. Mas o projeto está parado", afirma o secretário de governo, José Carlos Barbosa.

A construção de uma nova represa também é o objetivo de Espinosa, no Norte. Mas faltam recursos. "A água que temos hoje é usada para irrigar plantações e tem agrotóxicos. Aqui, 50% das lavouras foram perdidas", diz o secretário municipal de Agricultura, Nilson Faber.


ANÁLISE
Falta de recursos e políticas paliativas acentuam problema

Especialistas afirmam que a indisponibilidade de recursos para os municípios atingidos pela seca pode perpetuar a pobreza entre a população das comunidades mais distantes e mais pobres do Estado.

De acordo com a coordenadora da Organização Não Governamental (ONG) Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), Marilene Souza, é preciso estruturar esses municípios para combater a seca. "Temos na política pública, de um modo geral, o hábito de combater a seca não com ações permanentes, mas com medidas provisórias. Precisamos de ações que façam com que a comunidade não tenha falta de água na próxima seca", diz.

Com um trabalho que visa ensinar as comunidades a conviverem com o período de estiagem, a ASA investe em projetos para captação de água de chuva e instalação de caixas d’água. "Muitas cidades sofreram com a seca neste ano e gastaram muito os seus reservatórios de água. E, às vezes, a cidade não tem nem tecnologia para armazenar a água", explica.

O professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Carlos Henrique Jardim destaca que os investimentos em represas e barragens são algumas das alternativas que esses municípios poderiam buscar caso tivessem condições para isso. "As soluções técnicas são muitas. Mas o risco é produzido a partir do momento que você deixa de fazer essas coisas", afirma.

De acordo com ele, existem possibilidades mais baratas e que poderiam amenizar as consequências da seca, como a captação de água subterrânea. "O Norte de Minas tem um déficit hídrico bem acentuado, mas existem várias opções para resolver isso".

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