12/11/2012
Raphael Vidigal - Do Hoje em Dia
Divulgação
Um dos nomes mais respeitados da MPB completa, nesta segunda, 70 (bem vividos) anos de vida.
Batatinha, sambista baiano autor de escassos sucessos, sem com isso perderem relevância, condecorava com honra e merecimento Paulo César Batista Faria o Ministro do Samba, em música de mesmo nome.
Não por acaso diagnosticava-o vindo de linhagem nobre, filho de César Faria, lendário violonista do conjunto de choro Época de Ouro, idealizado por Jacob do Bandolim.
Mas o tempo inoculável no qual navega, o mar, e que ele diz ser hoje, tratou de tornar o apelido dado por Sérgio Cabral maior do que qualquer outra referência ao sujeito.
Elegante
Hoje aos 70 anos, Paulinho da Viola, finalmente com a alcunha de sambista, é celebrado pela memória afetiva de músicos e fãs espalhados em todo o Brasil. No próximo dia 17, fará show gratuito em Madureira, subúrbio do Rio de Janeiro, acompanhado pela Vela Guarda da Portela. Depois, no dia 28 apresenta-se em Nova York, no Carnegie Hall. Para fechar as comemorações, a EMI lança em 2013 box com 11 álbuns, incluindo extra de faixas dispersas.
O cantor do "Copo Lagoinha", conjunto de samba da capital, Mauro Zockratto escolhe a música "Onde a dor não tem razão" como marcante dentro do vasto repertório do aniversariante. "Eu era adolescente quando o Paulinho lançou esse vinil. Meu irmão mais velho comprou e eu me deliciava com a canção título".
Prova inequívoca é que Mauro, ainda aspirante à profissão de cantor, logo decorou os versos, e toda vez que a canta lembra com alegria daquele tempo. "Guardei na memória a capa do disco, uma espécie de porta-retratos com a foto do Paulinho sempre sorrindo e elegante". A gratidão ao irmão devido à preciosa aquisição permanece.
Autobiográfico
Moyseis Marques, sambista carioca fundador do grupo "Casuarina", destaca outro êxito da carreira de Paulinho, sobre as desavenças com o pai a respeito do ofício a dedicar-se: "'14 anos' é inesquecível! Gravei no primeiro CD".
A companhia ilustre do mesmo que dividiu os vocais com Paulinho da Viola no álbum "Samba da Madrugada", de 1968, onde a canção foi lançada, é motivo de orgulho par Moyseis: "O Elton Medeiros cantou comigo. É o tipo de música que gostaria de ter feito, pois fala do valor de um sambista". Além disso, o intérprete destaca o cunho autobiográfico da composição.
Portela
Mesmo músicos vindos de outras praças, como o autor do famoso soul "Na rua, na chuva, na fazenda", posto em alta rotação principalmente em virtude do registro do "Kid Abelha", Hyldon embarca numa declaração de amor do homenageado à sua escola querida. "'Foi um rio que passou em minha vida' tem uma imagem muito forte. É a Portela literalmente invadindo a avenida no carnaval".
Para não se ater a um destaque da carreira do compositor, entre outros, de "Sinal Fechado", Hyldon reitera: "Gosto de todo o trabalho do Paulinho, sua maneira elegante de ser é também uma marca das músicas".
Tradição
A veia genética do compositor, filho de famoso chorão, é destacada por Eduardo Macedo, cavaquinista do "Quatro na Roda". "O chorinho 'Inesquecível' é uma melodia apaixonada com uma harmonia surpreendente!". E vai mais longe ao definir Paulinho como "o melhor compositor brasileiro". O argumento são os gêneros percorridos como "samba de terreiro, avenida, samba-canção, maxixe e outros inrrotuláveis", considera.
Música que ressalta o discurso do cantor em favor da preservação do samba, "Argumento" é, segundo Silvio Carlos, diretor musical e violonista de 7 cordas do conjunto mineiro 'Flor de Abacate': "O recado que um grande mestre do gênero deixa para as gerações futuras, inovem sempre, mas respeitem a tradição!", afirma.
Chorinho
O perfeccionismo de Paulinho da Viola é sublinhado por Ausier Vinícius, músico e instrumentista, proprietário do "Pedacinhos do Céu", point do choro e da comida mineira, localizado no bairro Caiçara, que viveu um episódio inusitado com o artista: "Quando gravamos 'Choro Negro' ele me corrigiu uma nota, por ser um choro para cavaquinho muito bem elaborado".
A respeito do nome da canção, Ausier esclarece com história aprendida pela vivência com o parceiro de Paulinho: "O Fernando Costa, que é o outro autor, me contou que estava com a Maria Bethânia na Alemanha em uma turnê, e por ser cego, perguntou a ela como estava o dia. A resposta foi 'negro'. Daí veio a inspiração."
Explicação correspondente a tantos sucessos teima em escapar à tentativa vã de uma filosofia, mas Ausier é direto e firme: "Paulinho tem coisas maravilhosas, que tocam fundo o coração".
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