domingo, 18 de novembro de 2012

Divisão de serviço doméstico ainda é desigual entre casais. Especialista diz que é possível, sim, conquistar uma relação harmoniosa

Publicado no Jornal OTEMPO em 18/11/2012
LITZA MATTOS
FOTO: LEO FONTES
Parceria. Deni ajuda a mulher em casa nos cuidados com a filha de 2 anos: "Em alguns dias da semana, durante o almoço, lavo as mamadeiras"

Se, no mercado de trabalho, homens e mulheres têm ocupado cargos cada vez mais parecidos e de forma similar, quando o assunto é a divisão de tarefas dentro de casa, o cenário fica bem diferente. Comparando a situação de casais que trabalham, os homens colaboravam dez horas por semana, enquanto as mulheres gastavam 24 horas e quatro minutos, em 2001. Em 2011, o tempo gasto por eles subiu para dez horas e oito minutos, enquanto que, para elas, a atividade consumiu 22 horas e 13 minutos, segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE. 

Soma daqui, subtrai dali, e o consultor de marketing e vendas Deni Lamb, 38, conseguiu contabilizar cerca de duas horas e meia que passa, por dia, em média, dedicando-se aos serviços de casa. "Pela manhã, acordo e tenho como objetivo arrumar a minha filha, de 2 anos, para ela ir à escola. Em alguns dias da semana, durante o horário de almoço, aproveito para lavar as mamadeiras, e à noite, ajudonaarrumaçãodacozinha", explica. 

Com a experiência de já ter morado sozinho e casado há nove anos com a arquiteta Lênia Barbosa, 39, ele reconhece que o papel das mulheres é mais pesado. Por isso - e pensando em priorizar a educação e os cuidados com a filha -, o casal entrou em acordo para que a mulher diminuísse o ritmo de trabalho. "Sou responsável por administrar o serviço da empregada, alimentação, lavar roupa, fazer as compras de 15em15 dias, levar e buscar a filha na escola, além de trabalhar no período em que ela está fora", explica a arquiteta. 

Lênia acredita que não há como chegar a uma divisão igual entre os casais. "Os homens ainda não encaram como obrigação, mas Deni não é daqueles que ficam de braços cruzados. E, melhor, é aberto a negociações", diz. 

COMUNICAÇÃO. Segundo a presidente da Associação Mineira de Terapia de Família, Andrea Moreira Maciel, a comunicação é muito importante na relação. "As divisões teriam que ser iguais,mas nada pode ser imposto para que, cada vez mais, os homens encontrem uma forma de compartilhar e dividir as tarefas e para que as mulheres acreditem que eles têm habilidades e são capazes", afirma. 

Andrea observa que muitas mulheres se queixam que oshomensnãofazem dojeito que elas gostam. "Eles acabam desistindo, enquanto elas se sentem na obrigação de fazer todas as tarefas, porque foram ‘treinadas’ desde a infância", explica. 

"Os homens sempre terão algumas tarefas que não gostariam de fazer, porque são chatasnoentendimentomasculino. Cadaumtemumamaneira, queprecisa ser respeitadopelo parceiro", orienta a terapeuta.
BERÇO
Atitude em casa é reflexo da criação

Uma mudança de atitude efetiva e harmoniosa dentro de casa irá depender, fundamentalmente do amadurecimento do casal. Além disso, as atitudes são um reflexo da criação que ohomemteve e das experiências que adquiriu ao longo da vida. 

O publicitário Guilherme Guerra, 40, lembra-se de que, desde a infância, as tarefas de casa eram divididas pela mãe, entre os irmãos. "Depois do casamento, a divisão de tarefas foi natural, e levamos em conta a rotina e o estilo de cada um", explica. 

A mulher dele, a relações- públicas Ana Laura Guimarães, 39, afirma que, em sua casa, a divisão já chega a 60% pra ela e 40% para ele. "Meu marido está acima da média. O que precisar ele faz tranquilamente. Em agosto, passei dez dias nos Estados Unidos fazendo um curso, e eles ficaram numa boa. Isso é ótimo para o filho e para a família". 

A presidente da Associação Mineira de Terapia de Família, Andrea Moreira Maciel, ressalta que as atitudes devem ser observadas desde a época do namoro, da forma como cadaumencaraasua importâncianarelação." Porém,emmuitoscasos, o trabalho doméstico é a única forma emque a mulher se valoriza no cotidiano dafamília.Algumastêmdificuldade para abrir mão desse poder", diz. (LM)

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