18 de Outubro de 2012 - 07:00
Daniela Arbex concorre com "Holocausto brasileiro", série que conquistou júri popular em premiação internacional na Colômbia
Por Tribuna
"Holocausto brasileiro", série de matérias de autoria da repórter especial da Tribuna Daniela Arbex, está na final da 57ª edição do prêmio Esso, a mais importante premiação de jornalismo do país. As sete reportagens, já contempladas na Colômbia, neste último final de semana, com menção honrosa pelo júri oficial do prêmio Ipys de Melhor Investigação Jornalística da América Latina e primeiro lugar pelo voto do júri popular, despertaram comoção ao revelar a rotina de um campo de concentração no Hospital Colônia, localizado em Barbacena. Criada em 1903, a instituição viveu uma história de extermínio entre 1930 e 1980, resultando na morte de 60 mil pessoas. Essa é a quinta vez que Daniela é indicada à final do Esso. A repórter da Tribuna venceu a mais importante premiação da imprensa nacional por duas vezes. A primeira com a série Dossiê Santa Casa, em 2000, e a segunda com a Cova 312, em 2002. Este ano, a jornalista concorre na categoria Centro-Oeste com o jornal "Estado de Minas" e outras três matérias do "Correio Braziliense". O anúncio foi feito ontem, no site oficial da premiação. Os 70 trabalhos finalistas, dos quais 35 de texto, 15 de criação gráfica, dez de fotografia e dez de telejornalismo foram selecionados entre 1.302 inscrições.
"Para o jornalista, toda a matéria que se faz é especial. 'Holocausto brasileiro', no entanto, me tocou profundamente, porque me deu a chance de revelar ao país o que aconteceu dentro da Colônia e de poder contar essa história pelo olhar do fotógrafo Luiz Alfredo, da extinta revista 'O Cruzeiro', que hoje está com 78 anos de idade. A partir das imagens feitas por ele, em 1961, tivemos a ideia de resgatar a rotina do hospital 50 anos depois. Foi muito emocionante encontrar testemunhas e sobreviventes desse genocídio após cinco décadas. Falamos tanto nos horrores dos campos de concentração nazistas, que esquecemos de contar a nossa própria tragédia. Além da Tribuna, tive o apoio de muitos anônimos e de nomes importantes para reconstruir essa história, como o próprio Luiz Alfredo, um dos maiores fotógrafos do país entre as décadas de 1950 e 1970. Também obtive ajuda de representantes da Câmara Federal, além do diretor da unidade, Jairo Toledo. Agradeço imensamente aos meus editores e a todas as pessoas que confiaram no meu trabalho, principalmente aquelas que aceitaram revelar o que fizeram e o que passaram dentro da Colônia", afirma a repórter.
O trabalho de edição das matérias começou em novembro de 2011, dois anos depois de a repórter tomar conhecimento da existência das imagens feitas por Luiz Alfredo. Em 20 de novembro, a primeira matéria foi publicada na Tribuna com o título "Holocausto brasileiro: 50 anos sem punição". Outras seis matérias foram editadas e levaram a população da cidade a reservar os jornais nas bancas. As matérias foram compartilhadas centenas de vezes nas redes sociais. Entre as histórias mais emocionantes da série está a de Débora Aparecida, jovem que hoje tem 27 anos. Ela foi doada logo ao nascer dentro do hospital. Filha de Sueli Rezende, paciente internada por mais de 30 anos na Colônia, Débora só soube que era adotada aos 25 anos. Quando ela procurou pela mãe biológica, soube que a paciente havia morrido poucos meses antes. Documentos do hospital revelam que a cada aniversário da filha, Sueli rezava por ela e sonhava com o dia em que poderia revê-la. "Quando a encontrei, perguntei se tinha vergonha de saber que sua mãe era paciente do hospital. Débora me respondeu que não. Que sentia-se muito feliz por saber que sua mãe a procurou e amou a vida inteira. Me comovi muito com o depoimento dela", lembra Daniela.
Para Luiz Alfredo, autor das imagens feitas em 1961, a indicação da série é motivo de orgulho. "Mais feliz não posso estar. Por Daniela - maravilhoso talento - e por mim (é a boa sina dos de nossa arte e profissão) à época, inimaginável instrumento de apoio do que viria a ser a grande luta pela reforma manicomial. Deus nos guia, é o grande fato." O editor-geral da Tribuna, Paulo César Magella, também comemora: "Daniela dignifica e enobrece a nossa profissão. Na Tribuna, tornou-se uma referência. Como profissional, me sinto honrado em tê-la como colega de trabalho."
Em 17 anos de carreira na Tribuna, a repórter já conquistou 18 prêmios, quatro deles internacionais: o Natali Prize, na Europa, em 2002; o Ipys de Melhor Investigação Jornalística da América Latina, em 2009, e, agora, na Colômbia; e Knight International Journalism Award, que ela recebeu em 2010, nos Estados Unidos. "Meu maior prêmio é ser jornalista e poder, através da minha profissão, ajudar pessoas", finaliza Daniela.
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