quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Cidadão reclama da dificuldade em registrar BO

10/10/ 2012 - Juiz de Fora


Por Guilherme Areas

A inauguração do Centro de Registro de Ocorrência da Polícia Militar (Crop), hoje, no Santa Cruz Shopping, deve reduzir as reclamações de quem precisa fazer um boletim de ocorrência (BO) posterior, ou seja, aqueles que não necessitam obrigatoriamente da presença do policial militar no local do fato. Juiz-foranos têm relatado dificuldade em fazer os Registros de Eventos de Defesa Social (Reds) dos crimes mais simples, como furto de objetos, extravio de documentos ou ameaça, por exemplo. Além da burocracia e do desgaste naturais desse procedimento, as denúncias da população recaem até mesmo sobre policiais militares, que colocariam empecilhos para elaborar os BOs.

Quem já teve dificuldade na hora de comunicar uma ocorrência relata um jogo de empurra entre unidades policiais. Em abril, uma vendedora de 32 anos percorreu três regiões da cidade para conseguir registrar um BO de ameaça do marido. "Ele estava nervoso, ameaçando me agredir. Saí de casa para chamar a polícia, e procurei a unidade mais próxima da minha casa, que é a 30ª Companhia, na Praça da Estação, no Centro. Chegando lá, o policial disse que não podia registrar a ocorrência e que eu deveria procurar a delegacia que presta atendimento a mulheres, em Santa Terezinha (região Nordeste)." Ao chegar à delegacia à noite, fora do expediente da Polícia Civil, a vendedora foi orientada a tentar novamente fazer o BO com a Polícia Militar. No posto policial do Manoel Honório, na Zona Leste, mais um problema: "Também não quiseram fazer a ocorrência, pois o fato tinha acontecido em outra região da cidade. Um policial do Manoel Honório ligou para a 30ª Companhia e alguém responsável pelo Centro me buscou de viatura e me levou para a sede, onde finalmente foi feito o BO, após ele me pedir muitas desculpas", relata a mulher.

No mês passado, uma autônoma de 35 anos desistiu de registrar o furto de seu celular na sede da 30ª Companhia, após possível embromação por parte do policial militar de plantão. "Saí no horário de trabalho, no final da tarde. O policial disse que até poderia fazer o BO, mas que iria demorar, porque ele ainda teria que desarmar dois soldados que chegariam. Eu não entendi direito na hora, mas sei que o posto estava vazio. Ele perguntou por que eu não registrava a ocorrência na Getúlio Vargas, onde eu seria atendida mais rapidamente."

Sem o BO, ela afirma não ter como acionar o seguro que fez para recuperar o valor do celular em caso de furto, já que o reembolso necessita de um registro oficial. Antes de deixar a sede da companhia, a autônoma ainda presenciou mais uma situação incomum: "Quando eu estava lá, chegou um senhor dizendo que estava em um bar, onde pegaram a identidade dele e não devolveram. O policial disse: 'Vai lá e manda falar para devolver'. O homem disse que era trabalhador e estava pedindo ajuda da polícia. Mesmo assim, eles não o acompanharam. Eu é que tive que ir com o senhor até o bar."

Há pouco mais de um ano, um empresário de 24 anos diz ter passado pelo mesmo problema ao procurar o posto policial do Manoel Honório, região Nordeste. Ele e um amigo tentaram registrar um BO por agressão. "O policial disse que isso seria muito trabalhoso e insinuou que deveria ser feito o exame de corpo de delito primeiro. Como não conhecíamos os procedimentos do BO, ficamos receosos e acabamos não fazendo o registro."

PM garante que não há reclamações formais
O comando da 4ª Região da Polícia Militar (RPM) garante não haver na ouvidoria, corregedoria ou subcorregedoria da corporação reclamações formais de cidadãos insatisfeitos com o tratamento recebido pelos policiais ou relatos de dificuldade na elaboração de BOs. A orientação da PM é que qualquer problema seja informado a esses órgãos, bem como ao Centro de Operações (Copom), pelo 190. Ainda segundo a 4ª RPM, as maiores demandas de registro em Juiz de Fora estão relacionadas ao extravio de documentos (situação que pode ser relatada diretamente à Polícia Civil, e este ano, de janeiro a julho, já foi responsável pela elaboração de 4.848 BOs) e às falsas comunicações de crime.

A expectativa dos policiais é que a inauguração do Centro de Registro de Ocorrência da Polícia Militar (Crop), no Santa Cruz Shopping, possa minimizar os problemas de quem não consegue fazer o BO na cidade. Além de garantir a segurança dos clientes do shopping, a sala, que será inaugurada às 10h de hoje, visa concentrar o registro de ocorrências para local planejado e especialmente voltado a essa finalidade, liberando o 190 e, consequentemente, agilizando o atendimento de emergência.

O centro funcionará no terceiro piso do Santa Cruz Shopping, de segunda a sexta, das 9h às 21h, e aos sábados, das 9h às 15h, com uma equipe de policiais militares especificamente treinada e formada para atuar na confecção de ocorrências de registro posterior.

"A dinâmica da criminalidade e seus efeitos nocivos à boa convivência em sociedade exigem das instituições de segurança pública antecipação e planejamento estratégico de modo a promover a segurança e a paz social. As unidades da Polícia Militar de Minas Gerais estão sempre um passo à frente em termos de realização de estudos, pesquisas e implantação de ações eficazes que busquem atender o cidadão e, nesse escopo, a 4ª RPM está implementando o Crop na área central, para fazer frentes às demandas de registro de ocorrências de moradores das diversas regiões da cidade", explica o comandante da 4ª Região da PM, Coronel Ronaldo Nazareth.

Em meados do ano, o assessor de emprego operacional da 4ª RPM, major Alexandre Nocelli, explicou que entre 20% e 25% das ocorrências criminais poderiam ser registradas posteriormente, sem a necessidade de envio de viatura.

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