quinta-feira, 27 de setembro de 2012

PA: Doença de Chagas ameaça o consumo do açaí

Uma canção de carimbó, dança típica do Pará expressa: “quem vai ao Pará parou, tomou açaí, ficou”. A alegação representa o peso que esse fruto tem na cultura local.

O Açaí ganhou o mundo, seja na produção de cosméticos, seja no mercado de alimentação saudável, mas, no Pará e em outros estados da Amazônia, o fruto é companhia diária de amazônidas que consumem o “vinho”, suco espesso extraído da fruta como refeição, ou como coadjuvante dela.

Nos últimos anos, no entanto, esse traço cultural vem sendo ameaçado por uma contaminação que pode levar a morte, a Doença de Chagas. De acordo com dados da Secretaria de Saúde do Estado do Pará (Sespa), o Pará concentra cerca de 80% dos casos de Doença de Chagas no Brasil. Somente neste ano, 35 novos casos foram e uma pessoa morreu.

A secretaria aponta ainda que a doença, nessa região do país, pode estar relacionada ao consumo da polpa de açaí, hábito comum entre os paraenses.

Os números confirmam a média e a preocupação crescente nos últimos anos, pois em 2010, somente no Pará, foram registrados 78 casos, com cinco vítimas fatais, uma taxa de mortalidade de 6,41%. Já em 2011, foram 81 registros, com oito mortes, segundo levantamento feito pela Secretaria de Estado de Saúde (Sespa), com uma taxa de mortalidade de 8,3%.

Ainda de acordo com a Sespa, a contaminação oral é a principal forma de contagio. As vítimas consomem alimentos contaminados por insetos, que por sua vez, também estão infectados com o parasita trypanosoma cruzi. Um dos principais vilões nesse processo é vulgarmente conhecido como barbeiro.

A contaminação se dá no processo de moagem do fruto, para a extração da polpa. Se não respeitadas medidas de segurança que garantam a devida higienização do fruto, o inseto pode vir a ser triturado e incorporado ao suco, indo diretamente ao consumo.

Sintomas da Doença de Chagas

A doença afeta principalmente o coração e o sistema digestivo. Seus sintomas mais comuns são febre alta, dores de cabeça, no corpo, palpitações e manchas na pele, similares a doenças mais comuns, como a dengue. Por conta disso, é preciso ter muito cuidado na hora do diagnóstico.

A recomendação médica é de que os pacientes que desconfiem que possam estar com a doença, procurem imediatamente o hospital. “Quanto mais tempo se demora para receber o tratamento, maior é a chance de ter complicações pela doença. A chance de óbito é em torno de 5% a 10%”, orienta Dilma Souza, coordenadora do Ambulatório de Doença de Chagas do Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB/UFPA).

Soluções possíveis
Pasteurização – Recente pesquisa multidisciplinar coordenadas pelos professores Luiz Augusto Corrêa Passos, diretor da Divisão de Pesquisa do Centro Multidisciplinar para Investigação Biológica (Cemib), e Ana Maria Aparecida Guaraldo, do Departamento de Biologia Animal, do Instituto de Biologia (IB), ambos da Unicamp, conseguiu demonstrar cientificamente que o Trypanosoma cruzi, causado da doença de chagas, sobrevive em diferentes condições na polpa de açaí. Segundo as investigações, cujos resultados são inéditos, isto pode ocorrer na temperatura ambiente, a 4°C na geladeira e quando congelado por algumas horas a -20 o C. Segundo Ana Maria Guaraldo, a probabilidade de infecção é maior para aqueles que consomem a polpa fresca. O risco é quase nulo quando o fruto passa pelo processo de pasteurização.

Branqueamento
Segundo informações do site da Embrapa, o branqueamento é um tratamento térmico comumente aplicado após a colheita, seleção e lavagem dos frutos, com o objetivo de inativar enzimas, fixar cor, remover gases dos tecidos, além de diminuir a carga microbiana. Essa operação consiste em mergulhar os frutos em água, à temperatura pré-determinada ou utilizar vapor fluente ou superaquecido. O tempo e a temperatura variam conforme o tipo de matéria-prima, a carga microbiana inicial, a dimensão e a forma do material a ser branqueado, o método de aquecimento e o tipo de enzima a ser inativada. No caso de frutos de açaizeiro, o branqueamento pode ser feito pela exposição à temperatura de 80 ºC, por 10 segundos, pois tais condições reduzem a carga microbiana. Outras técnicas em analise são da desidratação e o congelamento.

Produção de açaí
Ainda de acordo com a Embrapa, a produção anual do açaí se mantém por volta de 160 mil toneladas, mas é esperado sensível aumento quando as áreas de cultivo e de manejo apresentarem níveis satisfatórios de produtividade, estimados em 8 toneladas por hectare. Do total colhido, cerca de 20% é consumido pelas famílias no local de produção. O valor anual da produção de frutos de açaizeiro, no Estado do Pará, é de aproximadamente 66 milhões de reais.

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