domingo, 30 de setembro de 2012

BH promoveu Miss Prostituta

BH promove Miss Prostituta
Evento contou com apresentações de congado, indígenas e artistas circenses
Publicado no Jornal OTEMPO em 30/09/2012
JOHNATAN CASTRO
FOTO: FOTOS ELDERTH THEZA/ DIVULGAÇÃO
Pioneiro. Primeiro Miss Prostituta do país foi realizado em um shopping em BH ontem.

Foi a poucos quarteirões do seu mais tradicional local de trabalho - os hoteis da rua Guaicurus, no centro de Belo Horizonte - que cerca de 30 prostitutas da capital mostraram ao público o que têm de melhor: a simpatia. Ontem, o primeiro Miss Prostituta do país, realizado pela Associação das Prostitutas de Minas Gerais (Aprosmig), tomou conta dos três andares do UAI Shopping, na mesma região, para tentar levar ao público uma nova maneira de ver as garotas de programa, livre de preconceitos.

"Isso não é um concurso de beleza, mas um ato político contra o preconceito, o estigma e a violência", explicou a presidente da Aprosmig, Maria Aparecida Vieira, 44, conhecida como Cida. Ela contou que o concurso faz parte do Dia Nacional sem Preconceito, criado pela associação e seus parceiros para fortalecer a luta das 80 mil prostitutas que atuam na capital, segundo dados da própria associação. Apesar da profissão, considerada uma das mais antigas do mundo, não ser mais crime no país, a categoria luta agora pela regulamentação da atividade. 

Uma extensa programação deixou o público eufórico pelos corredores do shopping ontem. Parcerias com organizações como o Coletivo de Entidades Negras (CEN) levaram ao espaço apresentações indígenas, de congado e circenses. Desde o início da tarde, as profissionais do sexo já circulavam pelo local, chamando a atenção de muitas pessoas.

"Acho normal. Se há outros desfiles, por que não esse? Não tenho preconceito porque eu mesma poderia ser obrigada a fazer isso", afirmou, ao lado do marido, e de forma maneira bem descontraída, a auxiliar administrativa Sílvia Helena Matos, 52. Ele preferiu o silêncio.


Violência. Cida esclarece que a descriminação ainda provoca muitos casos de violência, tanto doméstica como nos locais de trabalho. "E existe, principalmente, a tortura psicológica. A troca de experiência e o convívio interferem na mentalidade das pessoas", diz, ressaltando que muitas delas são mães e sustentam a família.

É o caso de Joyce (nome de trabalho), 21, que usa os cerca de R$ 3.000 que ganha por mês em um hotel da rua Guaicurus para sustentar o filho de 4 anos e a mãe. Sem querer revelar a identidade, ela mora em Venda Nova e trabalha há dois anos como prostituta. "Faço curso de inglês. Daqui a um tempo, quem sabe consigo sair (da profissão)".

Vencedora. A campeã do concurso foi Mara, 25. Como prêmio, ela recebeu um troféu. Todas ganharam um kit com produtos de beleza.

DESABAFO
"O preconceito é demais"

Pela coragem, todas as prostitutas ganharão um prêmio por desfilar. Entretanto, a maioria delas acredita que o concurso vai ajudar a aumentar a aceitação das profissionais do sexo por parte da sociedade que ainda nutre preconceito contra a classe. 

Rúbia (nome de trabalho), 24, está entre as que não se sentem à vontade para assumir a profissão. "O preconceito é demais, e por isso quase ninguém sabe. Tenho vergonha", conta.

Entre os que conhecem a atividade da jovem de olhos azuis está a mãe, que foi até assistir ao desfile. Rúbia conta que veio de uma cidade do Vale do Rio Doce há oito anos e há dois trabalha na rua Guaicurus. O curso de técnica em enfermagem que fez foi pago com os cerca de R$ 5.000 que ganha por mês. 

A garota de programa, que tem uma filha de 3 anos - que mora com o pai -, diz querer sair da profissão, mas não descarta programas esporádicos para garantir uma renda extra.
Outra que pretende deixar a atividade é a paulista Elis Cristina, 23. Há cinco anos, ela veio trabalhar em Minas. "Aqui o programa é do jeito que a gente quer. É melhor para trabalhar.

A moça alta, crescida em um orfanato, diz que o concurso dará a oportunidade para muitas prostitutas se assumirem. "Eu mesma não consigo esconder. Em todos os lugares que passo, sou bem aceita".

A cada 15 dias, Elis vai a São Paulo ver a família. Já ao filho de 5 anos, que mora com o pai no Paraná, ela só visita em datas especiais, como o Natal. (JOH).

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