Publicado em 30 de maio de 2021 por Tribuna da Internet
Parece cada vez mais difícil para mais gente admitir que não sabe o bastante sobre alguma coisa a ponto de ter uma opinião. As conversas sobre qualquer assunto estão ficando insuportáveis pelo excesso de certezas absolutas, antes só permitidas aos muito jovens.
Certeza é um dos sintomas da imaturidade. Ser adulto é aprender a conviver com incertezas. “Não sou jovem o suficiente para saber tudo”, diz o sábio ditado ora atribuído ao poeta irlandês Oscar Wilde, ora ao primeiro-ministro britânico da Era Vitoriana Benjamin Disraeli.
SOCIEDADE IMATURA – Por essa régua, vivemos numa sociedade de imaturos, inseguros, buscando muletas para se apoiar. Esse ambiente favorece duas situações indesejáveis. A primeira é a tentação de delegar decisões da vida pessoal a uma ideologia, a um partido ou até a um governo. A segunda é o recolhimento ao conforto do pensamento binário simplório, com o consequente pavor da complexidade.
Delegar o destino a um ente imaginário coletivo provedor, todo-poderoso, é uma das superstições mais acalentadas atualmente. Assustador é essa ilusão ser cultivada por jovens, principalmente das grandes cidades do Ocidente.
Jovens americanos dos movimentos Antifa e Black Lives Matter, embora tenham recentemente começado a trocar sopapos entre si, costumam definir-se como socialistas ou mesmo comunistas.
À PROCURA DE LUZ – “Esses moços, pobre moços (…)/ Saibam que deixam o céu/ Por ser escuro/ E vão ao inferno/ À procura de luz” – dizem os versos de Lupicínio Rodrigues.
Acabei de ouvi-los na linda voz de Adriana Calcanhotto. É um convite lírico a pensar nas lutas dos jovens militantes. Uma lei histórica mostra que ninguém milita com o objetivo de continuar oprimido quando sua causa triunfar: o militante se imagina sempre dirigente na nova ordem. É uma lei incontrastável.
Quando o objetivo da luta é obter a igualdade plena entre todos, caso a insurreição triunfe, o militante logo se arvora a ser “mais igual” que os outros, na exata observação de George Orwell no livro “A Revolução dos Bichos”. Cuidado com o que pedem, pois podem conseguir e descobrirão muito tarde não ser o coletivismo igualitário o resultado, mas a ditadura.
MEDO DE PENSAR – A segunda situação indesejável trazida pelo excesso de certeza é o medo do pensamento complexo. O mundo real não é preto e branco. A complexidade é um fato da vida. O pensamento complexo é aberto à crítica, condição obrigatória a toda formulação merecedora de atenção. É atento à sua própria obsolescência, sensível ao novo, ao desconhecido, ao estranho.
Admitir a complexidade de certos assuntos e reconhecer não ter opinião válida sobre eles é uma opção adulta, madura, em qualquer idade. Viva a complexidade!
O pensamento complexo é sempre receptivo à incerteza, à contradição, à ambivalência. Como nos ensina o sábio francês Edgar Morin, são essas as qualidades de quem se propõe a escapar da arrogância e do dogmatismo.
TUDO É POLÍTICA – Essas reflexões, acredito, valem para oprimidos e opressores. O espírito do nosso tempo comanda que “tudo é política”. Essa é a premissa do livro mais recente de Paul Krugman, ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 2008 e hoje o economista com maior influência sobre o governo do presidente americano, Joe Biden. O título do livro de Krugman em português é “Discutindo com zumbis: economia, política e a luta por um futuro melhor”.
Conheci Krugman quando ele ainda dava aulas no Massachusetts Institute of Technology (MIT) e era um zeloso fiscalista. Agora ele incentiva Biden a imprimir dólares para impedir a recessão contratada pela pandemia de Covid-19.
As certezas numéricas da juventude deram lugar à aventureira complexidade da política. Ele está certo? Não sei. Não conheço bastante a política monetária americana para dar uma opinião.