Diversos maços de dinheiro foram apreendidos durante a operação SicárioDivulgação/Polícia Federal
Publicado 07/12/2022 13:54 | Atualizado 07/12/2022 14:16
Rio - Carros de luxo, fuzil, pistolas, rádios transmissores e maços de dinheiro foram alguns dos itens apreendidos pela Polícia Federal, nesta quarta-feira (7), durante a operação que prendeu o contraventor Ailton Guimarães Jorge. A ação conjunta com o Ministério Público do Rio (MPRJ) tem como alvos integrantes de uma organização criminosa que controla jogos ilegais em Niterói, São Gonçalo e outros municípios da Região Metropolitana do Rio. Até o momento, dois deles foram presos.
No início da manhã, agentes estiveram na mansão do bicheiro, no bairro de Camboinhas, na Região Oceânica de Niterói, onde além de terem cumprido um mandado de prisão, também prenderam o Capitão Guimarães em flagrante, após encontrarem um fuzil e um kit que transforma pistola em arma longa, com munições e carregadores. Os policiais ainda apreenderam dois carros de luxo, dos modelos Mercedes-Benz GLE 400d 4MATIC, avaliado em cerca de R$ 620 mil, e Mercedes-Benz C180, que custa, em média R$ 350 mil.
Depois de ser preso, Ailton, que é também militar da reserva do Exército, foi conduzido para a sede da Polícia Federal, no Centro do Rio, onde presta esclarecimentos. Os agentes também estiveram em um endereço do contraventar na cidade de Armação dos Búzios, na Região dos Lagos, onde foram recebidos a tiros por um caseiro. À princípio, o homem disparou para cima e não houve feridos. Cristiano Cordeiro Dias foi preso em flagrante no local.
Na ação desta quarta-feira, 120 agentes pretendem cumprir três mandados de prisão e 17 de busca e apreensão em endereções ligados a envolvidos no crime. Segundo o MPRJ, dois denunciados e todos os alvos de medidas cautelares são integrantes e ex-integrantes das forças policiais estaduais. Além do bicheiro, foi preso também Deveraldo Lima Barreira, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. O terceiro alvo ainda não foi detido. Até o momento, não há balanço total das apreensões.
A ação foi batizada de Sicário, que significa matador de aluguel ou quem é contratado para matar alguém. Procurada, a Unidos de Vila Isabel, escola de samba em que ele é patrono e participa ativamente de eventos, informou que não vai se pronunciar sobre a prisão, porque o Capitão não tem ligação com a agremiação. A reportagem do Dia tenta contato com a defesa de Ailton e dos demais alvos.
Ailton Guimarães Jorge foi capitão do Exército durante o período da Ditadura Militar e chegou a receber, em 1969, a Medalha do Pacificador, ao ser o primeiro oficial ferido em combate à luta armada. Em 1971, ele chegou a ser investigado pelo Exército por participação no roubo de um caminhão carregado de roupas, que foram vendidas por cerca de US$ 30 mil, mas foi inocentado junto com os outros envolvidos. Pouco depois, o grupo passou a trabalhar para contrabandistas.
Em 1974, Capitão Guimarães também foi alvo de um inquérito policial militar e preso, após a Polícia Federal e o Serviço Nacional de Informações denunciarem que, no ano anterior, ele teve participação na escolta de dois caminhões com cargas de cigarros e uísque roubadas, em São Cristóvão, na Zona Norte do Rio. O militar foi liberado dois meses após a prisão e absolvido pelo Superior Tribunal Militar (STM).
De acordo com o relatório final da Comissão Nacional da Verdade, elaborado durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), entre 2010 e 2016, Ailton participou ativamente das atividades de repressão do regime, detenções ilegais, torturas e execuções. O oficial da reserva é um dos 377 agentes responsabilizados por crimes durante o período.
Depois de ir para a reserva do Exército, o contraventor passou a trabalhar com o bicheiro Ângelo Maria Longa, conhecido como Tio Patinhas. Pouco tempo depois, ele já fazia parte do conselho dos grandes banqueiros do jogo do bicho e, com o crescimento de sua atuação, passou a dominar a exploração de jogos ilegais em Niterói, São Gonçalo e outros municípios da Região Metropolitana, além de no estado do Espírito Santo.
Muito ligado ao Carnaval carioca, Guimarães foi presidente da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) entre os anos de 1987 e 1993, cargo que voltou a ocupar de 2001 a 2007, e da Unidos de Vila Isabel, em 1981 e 1982, escola do bairro onde sua atuação na contravenção começou. Atualmente, ele é patrono da agremiação e seu filho, Luizinho Guimãres, é presidente executivo.
No ano de 1993, Ailton foi um dos 14 megabanqueiros do jogo do bicho condenados pela juíza Denise Frossard. Em 2007, o bicheiro foi preso pela Polícia Federal, durante a Operação Hurracane, acusado de lavagem de dinheiro e corrupção de agentes públicos, e voltou a ser preso em 2012, em desdobramento da ação, que desarticulou uma organização criminosa que explorava o jogo ilegal e corrompia magistrados e policiais.
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