Foto: Carlos Mendonça
A culinária africana enriqueceu a cozinha brasileira e está mais presente nos hábitos alimentares do juiz-forano do que se pode imaginar. Foi o que a população provou e comprovou nesta sexta-feira, 30, durante o evento "Patrimônio, Gastronomia e Cultura: O Sabor da Culinária Africana na Identidade Juiz-forana", na Praça Antônio Carlos. Parte da “7ª Jornada do Patrimônio Cultural de Minas Gerais”, do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), a ação atraiu centenas de pessoas, que foram lá saborear delícias relacionadas à culinária afro-brasileira: caldo de inhame, feijoada e o arroz-doce tradicionalmente mineiro, harmonizadas com a cerveja artesanal de Juiz de Fora.
“Buscamos uma proposta que dialogasse com aqueles que têm a maior representatividade populacional de Juiz de Fora, a cultura afro”, explicou o professor e pesquisador de comidas étnicas, João Batista Villas Boas Simoncini, do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (CES JF). “De entrada, um creme de inhame, que embasa a culinária africana; a feijoada está vinculada a uma ´tradição inventada´. O que nos é passado nos livros e pelos professores de história é que a feijoada tem base africana. Em parte, tem. Mas ela tem base muito mais indígena do que africana. A ´tradição inventada´ vem para torná-la mais vendável, já que a maioria da população brasileira é de origem afro.”
O cardápio chamou a atenção das amigas Helaine Lemos, Rose Faria e Nora de Oliveira, que trabalham no Centro da cidade e foram conferir o evento. “Achei uma ótima iniciativa, está tudo uma delícia”, elogiou Rose. “Eu não sabia da presença da culinária afro na nossa alimentação. Achei o evento maravilhoso, especialmente a harmonização com cerveja”, completou Nora.
O assessor da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Agropecuária (Sedeta) da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), Marcos Miranda, explicou a presença do produto local: “A cerveja vem na mesma questão de valorização do passado, com a presença dos povos africanos na cidade, e o atual movimento cervejeiro. A cerveja também faz parte da mesa, harmoniza com os pratos. A Cervejaria São Bartolomeu trouxe dois tipos: uma Premium, mais leve, mais de entrada, que harmoniza com creme de inhame, e uma IPA, mais forte e encorpada, que harmoniza com a feijoada”, destacou.
Rosângela Silva Rocha, 65, é tombense e vive no Rio de Janeiro, e aprovou a iniciativa: “Gosto muito de Juiz de Fora. Venho sempre, e tenho amigos aqui. É a minha cidade. Vim à praça porque soube que estava acontecendo evento sobre cultura afro, e isso é muito interessante. Para a gente que gosta, procura ler, saber, conviver, é muito legal. Dança, raízes. Quem de nós não tem sangue afro? Somos todos mestiços. Acho muito importante a valorização e divulgação, com eventos assim, para a cidade e as pessoas. Juiz de Fora está de parabéns, por sempre inovar com essas realizações”.
“Culinária e Patrimônio”
Realizada a cada dois anos em Minas, a “Jornada” é promovida pela Secretaria de Estado de Cultura e Turismo, por meio do Iepha, e busca promover atividades de educação patrimonial no “Mês do Patrimônio”, celebrado em agosto. Na edição de 2019, com o tema “Culinária e Patrimônio”, o objetivo é promover ações que tratem dos modos de fazer, das receitas, dos lugares e práticas ligadas à alimentação e seu patrimônio gastronômico.
“A realização da ação conta como ponto para que a cidade receba o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) cultural. Atendendo ao tema, realizamos o evento em um patrimônio histórico, celebrando a culinária como patrimônio imaterial. Este ano, escolhemos os povos africanos. Sempre falamos muito da nossa ascendência europeia, dos alemães, italianos, portugueses, sírios, e às vezes nos esquecemos dos povos africanos, que constituíram a cidade e que são grande parte da população em Juiz de Fora”, destacou Marcos Miranda.
“É muito importante a realização de discussões, debates e o entendimento das pessoas sobre a importância desse espaço, da Praça Antônio Carlos, que, em conjunto com a Praça da Estação, forma o primeiro núcleo histórico da cidade de Juiz de Fora. Um conjunto arquitetônico muito interessante para a divulgação da memória da cidade. A identidade africana, dentre os nossos traços de formação identitária, talvez seja uma das que a gente menos dialoga, e a que está mais presente no nosso cotidiano, arraigada nos nossos costumes e na tradição mineira, com a carne de porco, a cachaça e diversos outros insumos e raízes”, explicou a historiadora da Fundação Cultural “Alfredo Ferreira Lage” (Funalfa), Carine Muguet.
O evento "Patrimônio, Gastronomia e Cultura: O Sabor da Culinária Africana na Identidade Juiz-forana" foi uma realização da PJF, por meio da Funalfa e Sedeta, e o Centro de Estudos Sociais (CES), com o apoio do Hospital “Albert Sabin”, Mineirão Atacarejo, Cervejaria São Bartolomeu e Ppienk – Equipamentos para Cozinhas Industriais.
*Informações com a Assessoria de Comunicação da Sedeta, pelo telefone 3690-8341.