Por CAROLINA CAETANO, LITZA MATTOS E TATIANA LAGÔA
28/06/19 - 03h00
Prisão. Dos quase 30 criminosos que atacaram Uberaba ontem, dez foram detidos pela PM; arsenal que eles portavam foi apreendido
Foto: L. Adolfo/divulgação
Quando os assaltos violentos a caixas eletrônicos – chamados pela polícia de “novo cangaço” – começam a se reduzir em Minas Gerais, o Estado é alvo de um novo ataque, e com requintes cinematográficos. Desta vez, bandidos de São Paulo explodiram uma agência do Banco do Brasil em Uberaba, no Triângulo. Com um extenso arsenal de uso restrito das Forças Armadas e muita disposição para atirar contra a população e usar reféns como escudos humanos, entre 20 e 30 criminosos conseguiram limpar o caixa do banco e deixar um saldo de ao menos três baleados, mais de dez reféns e serviços públicos comprometidos. A ação durou quase oito horas.
O crime aconteceu no Estado que é um dos alvos preferidos das quadrilhas especializadas em roubos a bancos. Em 2018, quase metade dos ataques às agências bancárias ocorridos no país foi em Minas. Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), houve 171 assaltos e tentativas de roubos no Brasil no ano passado. Do total, 95 ocorreram em cidades mineiras, conforme dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública de Minas Gerais (Sesp-MG).
Somente nos cinco primeiros meses deste ano, foram registrados 24 ataques a instituições financeiras em Minas Gerais. O número é 46% menor em relação ao mesmo período de 2018, quando 45 crimes foram registrados, segundo a Sesp.
O crime
O ataque desta quinta-feira (27), além de mostrar que as quadrilhas ainda estão na ativa, revelou o quanto esses grupos estão organizados. “Eles estavam muito equipados. Com armas como fuzis e metralhadoras, capazes de derrubar até helicópteros. Os criminosos fizeram questão de atirar e fazer bastante barulho para assustar e dificultar o acesso da polícia”, detalha o porta-voz da Polícia Militar em Minas, major Flávio Santiago.
Ele lembra que esta é a segunda vez que uma agência é atacada em Uberaba. O outro caso aconteceu há cerca de dois anos. “A cidade está situada no entroncamento de várias estradas. As saídas podem levar a qualquer lugar do Brasil. É um grande centro logístico. Em cidades no interior, esses crimes acabam acontecendo pela falta de estruturas policiais. Em uma cidade maior como Uberaba, a organização criminosa foi obrigada a se estruturar”, explica o especialista em segurança pública Jorge Tassi.
De acordo com o agente da Polícia Federal e autor do artigo “Do Novo Cangaço ao Domínio de Cidades”, Ricardo Matias Rodrigues, a organização, o número de integrantes e o poder bélico desses grupos criminosos fizeram com que os roubos adquirissem contornos de verdadeiro “faroeste moderno”. Rodrigues chama de “domínio de cidades” o que ele acredita ser uma “inédita e emergente modalidade do crime organizado em nível nacional”, que nada mais é do que a migração desses crimes para as cidades de maior porte.
“Sempre que o país mergulha em crises de caráter social e econômico, com desemprego alto, há um aumento da criminalidade”, analisa o diretor da Federação Nacional das Empresas de Segurança e Transporte de Valores (Fenavist) e presidente do Sindicato das Empresas de Segurança Privada, Segurança Eletrônica e Cursos de Formação do Estado de São Paulo (Sesvesp), João Eliezer Palhuca.
Ação
Governo. Por nota, a Sesp-MG disse que está montando grupos locais de atuação integrada formados por 13 instituições para unir esforços na prevenção contra esse tipo de crime.
Jornal OTempo