Charge do Sponholz (sponholz.com.br)
Carlos Newton
Já afirmamos diversas vezes aqui na TI que, na política, as aparências realmente enganam. Por isso, muitas notícias necessitam de tradução simultânea, que somente levem em consideração fatos verdadeiramente concretos, porque não há dúvida de que está em marcha um sofisticado esquema de contrainformação, destinado a inviabilizar a Lava Jato, libertar Lula da Silva, José Dirceu, Michel Temer, Eduardo Cunha e muitos outros envolvidos.
Esse esquema foi montado sob o falso pretexto de evitar a “criminalização da política”.
TENTATIVAS – Já houve várias tentativas para inviabilizar a Lava Jato, a começar pela sessão-surpresa convocada no governo Temer pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), numa segunda-feira à noite, para aprovar um projeto destinado a anistiar todos os políticos envolvidos com Caixa 2. O mais curioso é que se tratava de uma proposta sem autor conhecido, era um projeto antigo que o senador Renan Calheiros (MDB-AL), desencavara no Arquivo do Congresso.
A iniciativa só fracassou porque dois experientes deputados de oposição, Miro Teixeira (Rede-RJ) e Ivan Valente (PSOL-SP), armaram uma revolta em plenário e Maia teve de recuar.
LEI DO ABUSO – A segunda tentativa foi a manipulação do importante projeto dos procuradores federais, que sugeriram Dez Medidas contra a Corrupção, com mais de um milhão de assinaturas de eleitores. Mas o esquema antiLava Jato habilmente introduziu uma emenda para anistiar o Caixa 2 e incluiu também a possibilidade de processar magistrados, procuradores e promotores por crime de responsabilidade (Lei do Abuso da Autoridade).
Houve fortíssima reação popular, as propostas não foram à votação e até hoje as dez medidas estão engavetadas. Agora, já se fala abertamente em ressuscitar a Lei do Abuso de Autoridade.
SOFISTICAÇÃO – Desde então, as tentativas de inviabilizar a Lava Jato foram se sofisticando, através da manipulação de “notícias” frequentemente plantadas contra o juiz Sergio Moro e os principais procuradores, que chegaram até a ser denunciados perante o Comitê de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, com acusação de “lawfare”, uso indevido de recursos jurídicos para perseguição política”.
Ao mesmo tempo, foram acionados líderes políticos estrangeiros para denunciar a “perseguição política” contra Lula, como Perez Esquivel, Pepe Mujica, Noam Chomsky, Rafael Correa, Cristina Kirchner, Eduardo Duhalde e Romano Prodi, entre outros, mas todas as iniciativas fracassaram.
ERRO DE MORO – O esquema antiLava Jato somente se fortaleceu devido ao erro estratégico de Sérgio Moro, ao aceitar o Ministério da Justiça. Recebeu muitas críticas e a resistência à “criminalização da política” voltou à moda. Aliás, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, não fala em outra coisa.
E de repente, sobrevém essa “blitzkrieg” contra a Lava Jato, uma guerra-relâmpago iniciada com a recauchutagem da denúncia do grampo a advogados de Lula (na verdade, somente o compadre Roberto Teixeira teve sigilo telefônico quebrado, por ser cúmplice no caso do sítio), seguida pelos pedidos de regime aberto para Lula e atingindo o ápice com o ataque do site “The Intercept”, notoriamente ligado ao PSOL.
E na sequência imediatamente surgiram as declarações de “juristas” amestrados e sem medo do ridículo, a insistirem que todos os processos da Lava Jato são anuláveis de pleno direito etc. e tal.
PROFISSIONALISMO – É preciso reconhecer o elevado profissionalismo do esquema montado para destruir a Lava Jato, descriminalizar a política e inocentar os corruptos que dominaram este país e sonham em estar de volta para o futuro.
A articulação dessa investida liderada pelo site The Intercept foi primorosa. O principal objetivo é levantar dúvidas sobre a condenação de Lula, destacando que as mensagens atribuídas a Dallagnol e Moro sugerem dúvidas dos procuradores sobre as provas para pedir a condenação de Lula no caso do tríplex do Guarujá, poucos dias antes da apresentação da denúncia.
Acontece que jamais houve nenhuma mensagem a esse respeito, entre os dois. A mensagem fora dirigida por Dallagnol aos procuradores, para acertar os ponteiros, algo absolutamente normal, porque em poucos dias haveria a célebre apresentação do power point mostrando que Lula era o chefe da organização criminosa.
MANIPULAÇÃO – A minuciosa reportagem do The Intercept é uma manipulação bem feita, mas facilmente desmontável. Foram vasculhados dois anos de uso do celular de Dallagnol e só conseguiram encontrar meia dúzia de troca de mensagens com Moro, e em nenhuma delas há a menor “ilegalidade”.
As três acusações do site são as seguintes:
1. Em um dos contatos, Moro, responsável por autorizar as operações, sugeriu mudar ordem de fases da Lava Jato. Ora, como juiz de instrução cabia a ele autorizar as operações, era ele quem decidia quando as provas já justificavam a intervenção policial.
2. Moro teria cobrado a realização de novas operações. Bem, quando o juiz de instrução conclui que já há base para as operações, era preciso fazê-las.
3. Moro antecipou uma decisão judicial. Negativo, o juiz apenas avisou o procurador que não precisava mais enviar um certo documento para arquivar uma denúncia, porque já havia provas suficientes para justificar o arquivamento.
Não há trama nem tramóia nos diálogos selecionados escandalosamente. Portanto, é assim, através da manipulação de fatos, que está sendo montado o dossiê contra Moro e Dallagnol, e a mídia promove um carnaval fora de época, ao invés de arrancar a máscara dos farsantes do site The Intercept Brasil.
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P.S. – Aqui na TI esse esquema da “descriminalização da política” não vai se criar. O Brasil deve muito aos juízes federais, procuradores, delegados da PF e auditores da Receita que atuam na força-tarefa da Lava Jato. São pessoas competentes e honradas, que sofrem ataques injuriosos por defenderem o interesse público. Pense nisso. (C.N.) Posted in C. Newton