Um ano e meio depois, a Operação Abafa não anda
Carlos Newton
É impressionante a força da Lava Jato. Não adiantou unir as cúpulas dos três Poderes da União, reduzir verbas da Polícia Federal, nomear Torquato Jardim no Ministério da Justiça, -colocar Fernando Segovia para dirigir a PF, nada foi capaz de inviabilizar a força-tarefa, que atua num tripé unindo Polícia Federal, Procuradoria-Geral da República e Receita Federal.
OPERAÇÃO ABAFA – Nota-se que está cada vez mais atuante a chamada “Operação Abafa”, destinada a bloquear a Lava Jato e que foi denunciada em setembro de 2016 pelo então ministro Medina Osório, da Advocacia-Geral da União, em reportagem de capa da “Veja”, quando o jurista gaúcho se recusou a participar do esquema e entrou em rota de colisão com o presidente Michel Temer e os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco.
Mesmo assim, a Lava Jato resiste. Um ano e meio depois, registra-se que fracassaram muitas iniciativas para obstruir esse saneamento ético da política e da administração pública, enquanto se multiplica a atuação da força-tarefa pelos Estados, envolvendo outros importantes setores empresariais.
RESISTÊNCIA – O fato concreto é que, embora a “Operação Abafa” tenha conseguido dominar os três Poderes da República e estar atacando a Lava Jato por todos os lados, os resultados não são animadores. No Congresso, por exemplo, Câmara e Senado conseguiram sentar em cima de importantes projetos da Lava Jato, como a proposta das 10 Medidas contra a Corrupção e a emenda para extinção do Foro Privilegiado. Em compensação, não foram aprovadas a anistia ao Caixa 2 e a Lei de Abuso de Autoridade, destinada a intimidar policiais, procuradores e magistrados.
E no Supremo já está praticamente consagrada a proposta de restringir o foro privilegiado apenas aos crimes cometidos no mandato atual, que será um importantíssimo avanço no combate à impunidade dos políticos.
Portanto, a grande esperança da Operação Abafa se resume hoje ao Supremo, que tem prestado inestimáveis serviços a políticos corruptos e empresários corruptores, que são como irmãos xifópagos, pois uns não existem sem os outros.
TUDO TEM LIMITE – O Judiciário realmente atua com força total contra a Lava Jato, não somente libertando criminosos envolvidos diretamente na corrupção, como José Dirceu, Eike Batista, Adriana Ancelmo e Jacob Barata Filho, mas também beneficiando políticos de destaque, como os senadores Aécio Neves e Jader Barbalho.
E agora o Supremo se prepara para acabar com a prisão após a segunda instância, de forma a criar obstáculos à possibilidade de a Lava Jato mandar prender preventivamente empresários e políticos corruptos.
Mas será uma vitória de Pirro, como se dizia antigamente, apenas episódica e sem futuro, porque a Lava Jato continuará avançando contra os criminosos da elite, abrindo novos inquéritos e efetuando prisões.
A FORÇA DA WEB – Esse fenômeno de resistência só acontece porque há uma grande diferença em relação à Operação Mãos Limpas, na Itália, que acabou sendo inviabilizada nos anos 90. Duas décadas depois, está sendo muito difícil bloquear a Lava Jato, porque hoje existe a internet, com redes sociais, blogs e sites, com todo o sistema tendo interligação direta aos telefones celulares.
Pode-se dizer, sem medo de errar, que a Lava Jato hoje é movida pela internet. Sem a pressão da web, os corruptos continuariam dominando o país – como ainda dominam, mas já estão com a data de validade prestes a vencer.
O fato concreto e auspicioso é que a internet se tornou o maior instrumento da depuração da atividade política e da própria evolução da democracia. Pode-se até antever que dias melhores virão para a Humanidade, através das informações massificadas em tempo real e com menor teor de distorção político-ideológica.
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P.S – Não é por mera coincidência que em todo país sob regime ditatorial, como Coreia do Norte, Cuba, China, Guiné Equatorial, Arábia Saudita e Irã, os governos tentem impor restrições à internet. No entanto, é inútil. A web é mais forte do que as ditaduras e vai ganhar a briga, ajudando a democratizar e humanizar o mundo inteiro. Podem apostar. (C.N.)
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