Por G1, São Paulo
15/04/2017 11h00
No jogo das propinas da Odebrecht, o PT era o Flamengo e o PSDB, o Corinthians. O PR ganhou o codinome de São Paulo e o DEM, de Fluminense (veja a lista completa abaixo). Os apelidos aparecem em algumas das planilhas entregues ao Ministério Público Federal (MPF) pelo delator Luiz Eduardo Soares, que atuou no Setor de Operações Estruturadas – como era chamado o departamento de propinas da empreiteira.
Candidatos a cargos do Executivo e Legislativo também chegaram a ser identificados por termos do futebol. O candidato à Presidência da República era o "centroavante" e o governador, o "meia". Senadores ocupavam a "ponta". E deputados federais e estaduais eram, respectivamente, "volantes" e "zagueiros". Quem não tinha cargo e pertencia às bases dos partidos ganhava o apelido de goleiros.
O documento entregue por Soares não deixa claro a qual eleição se refere, mas ele foi colocado pelo Supremo Tribunal Federal em uma pasta nomeada como 2014.
(Foto: Arte/G1)
Codinomes militares
Além das referências ao futebol, outras planilhas da Odebrecht, com data de 2010, também relacionavam cargos políticos a patentes militares. Em uma das eleições, o cargo de presidente foi chamado de “general”, governador era “capitão”, senador “tenente”, deputado federal “sargento”, deputado estadual “cabo”.
Como capitão, por exemplo, foram listados codinomes como:
Balzac - identificado por delatores como Yeda Crucius (PSDB-RS)
Aspirina - Angela Amin (PP)
Fantasma - Ideli Salvatti (PT)
Brigão - Beto Richa (PSDB)
Caim - Osmar Dias (PDT)
Como tenente, aparecem entre os apelidos:
Desesperado - Germano Rigotto (PMDB)
Amante - Gleisi Hoffmann (PT-PR)
Dentuço - Gustavo Fruet (PDT)
Na coluna de sargentos, estão nomes como:
Italiano - Antonio Palocci (PT)
Avião - Manuela D'Avila
Aliado - Marco Maia (DEM) - também chamado em outras planilhas de gremista
Solução - Maria do Rosário (PT-RS)
Princesa - Cida Borghetti (PP)
Decodificado - Luiz Carlos Hauly (PSDB)
Como funcionavam os repasses
Em delação premiada, Luiz Soares explicou como funcionavam as planilhas. Ele disse que controlava os repasses lícitos, por meio de doações oficiais, e também os ilícitos. As ordens sobre quem deveria receber o que vinham de diretores da Odebrecht. Benedito Júnior era o executivo que dirigia o departamento de Operações Estruturadas e orientava o trabalho de Luiz Soares.
"Fazíamos diversos tipos de planilhas para acompanhamento", contou o delator. Em geral, elas traziam os nomes de partidos e políticos e os valores destinados a cada um antes das campanhas eleitorais. Soares disse que trabalhou com os documentos nas eleições de 2006, 2010 e 2012. Segundo ele, nas planilhas não apareciam obras ou outros assuntos de interesse da empreiteira.
Os repasses, disse o delator, eram sempre feitos aos partidos políticos.
"Nós nunca pagávamos os candidatos diretamente. Nós gostávamos de pagar para o diretório nacional. Daí o diretório nacional tinham que mandar para quem era de direito. Quem tinha contato com os políticos falava 'eu vou fazer a doação para você e estou mandando para o diretório nacional'", contou.
Segundo Benedicto Junior, os apelidos eram usados para que os funcionários do “baixo clero” da área que fazia os repasses irregulares não ficassem sabendo para quem ia o dinheiro. As pessoas que tinham contato com as autoridades é que escolhiam os codinomes.