Adriana Ancelmo dirige a maior fraude jurídica do país
Carlos Newton
Nesta terça-feira, comentei rapidamente meu relacionamento com o ex-governador Sérgio Cabral, a quem conheci quando ele ainda era muito jovem e nem tinha entrado na política. Agora, vou dar mais detalhes. Ajudei no início da carreira dele, levei-o ao “Sem Censura”, abri espaço na mídia. Eu tinha trabalhado no “Diário de Notícias” com o pai dele, jornalista Sergio Cabral, que em 1982 teve a ideia de disputar a eleição de vereador e conseguiu a vitória, com apoio dos sambistas e dos colegas da imprensa. Na época, o vascaíno Cabral, muito querido, escrevia sobre futebol e música popular.
UM POLÍTICO EXEMPLAR – Serginho foi trabalhar no gabinete do Cabral vereador, depois arranjou emprego no governo Moreira Franco (TurisRio), criou os Albergues da Juventude e resolveu disputar a eleição de deputado estadual em 1990, para se beneficiar com a coincidência de nomes e o prestígio do pai vereador. No primeiro jantar para lançar a candidatura dele e angariar fundos, na Churrascaria Copacabana, lá estava eu, na mesa principal, junto ao casal Sérgio Cabral e Magali, o sogro Gastão Lobosque Neves, o senador Artur da Távola e o deputado Francisco Dornelles – como se vê, a mesa era pequena.
Serginho se elegeu em 1990, e no início era tão cioso que recusou todas as mordomias e o carro oficial. Dirigia um modesto Voyage, a gente se orgulhava dele, era um político exemplar. Eu então o levei para participar do programa diário “Bate Boca”, na TV Manchete, junto com Eduardo Mascarenhas (na época, deputado federal pelo PDT), Garotinho (era ex-prefeito de Campos), Lindbergh Farias (então presidente da UNE) e mais uma porção de debatedores.
ENRIQUECENDO – Mas Serginho logo se corrompeu. Na Assembleia, ficou amigo de José Nader e Jorge Picciani, começou a costear o alambrado, como dizia Leonel Brizola. Lançou-se candidato a prefeito pelo PSDB em 1992, sabia que ia perder, mas embolsou as “sobras de campanha” e tomou gosto pela corrupção. Se reelegeu deputado estadual em 1994, no ano seguinte assumiu a presidência da Assembléia e a festa da corrupção realmente começou. Em 1996, candidatou-se novamente a prefeito e aumentou a fortuna com mais “sobras de campanha”.
Alguns anos depois, surgiu a ideia de justificar a riqueza abrindo uma banca de advocacia para o sogro Gastão Neves, pai de Suzana, primeira mulher de Serginho. Surgia, assim, o escritório Neves e Góes Advogados Associados, na Rua da Assembléia 58, 11º andar, com sete salas e um salão. Gastão, sobrinho de Tancredo Neves, era formado em Direito, porém jamais exercera a profissão. Quem defendia as causas eram os associados, mas Gastão entrava com os clientes, que eram arranjados pelo genro Sergio Cabral Filho, com seu prestigio de presidente da Assembléia.
ADRIANA ANCELMO – Há várias “lendas” sobre o romance com Adriana Ancelmo, algumas delas fomentadas pelo próprio Cabral. Na verdade, foi em 2001 que o presidente da Assembléia conheceu a jovem advogada Adriana Ancelmo, que trabalhava no Instituto de Segurança Pública do Estado. Cabral contratou-a para ser procuradoria assistente na Assembleia Legislativa e acabou largando a mulher Suzana Neves, embora haja quem diga que foi ela que o largou (em sociedade tudo se sabe, diria nosso amigo Ibrahim Sued).
Cabral Filho se elegeu senador em 2002, o sogro Gastão Neves morreu, e em 2004 o parlamentar teve a ideia de abrir um escritório para a nova mulher Adriana Ancelmo, que não tinha experiência como advogada, para lhe repassar os clientes que Gastão atendia. Surgiu, assim, o escritório Coelho, Ancelmo e Dourado Advogados Associados, uma sociedade de Adriana com seu ex-companheiro Sérgio Coelho, para mostrar que não havia ressentimentos, e com outro advogado, Sergio Dourado.
A essa altura, Cabral já estava rico e promoveu uma cerimônia de casamento informal com Adriana, bancando uma festa para centenas de convidados no Copacabana Palace.
ANCELMO ASSOCIADOS – Depois que pegou a manha, como se diz, Adriana Ancelmo primeiro se livrou do sócio Sérgio Dourado e depois do próprio ex-companheiro Sérgio Coelho, para reinar sozinha como grande dama da advocacia carioca, no escritório hoje denominado Ancelmo Associados, instalado na Avenida Rio Branco 138, 14º andar.
E foi assim que se consolidou o esquema de corrupção e lavagem de dinheiro no escritório, frequentado por clientes famosos, como Eike Batista, que pagavam caro em troca de serviço algum. Para se ter uma ideia, Ancelmo Advogados declarou à Receita faturamento de R$ 73,1 milhões de 2007 a 2014, período em que Cabral esteve no governo. Nessa contabilidade, é claro, não constavam as entradas em dinheiro vivo, que eram inicialmente guardadas no cofre lá instalado.
A GRANDE FARSA – É claro que o escritório tem clientes que até recebem atendimento, como a Oi/Telemar, com grande quantidade de pequenas ações movidas por usuários insatisfeitos com a operadora, assim como a Light, ambas também com muitos processos trabalhistas, coisas assim. Mas a Polícia Federal já reuniu provas abundantes de que, no caso de outros grandes clientes, Adriana Ancelmo simplesmente recebia generosos honorários sem representá-los judicialmente.
Aliás, A Polícia Federal nem precisava de comprovação. Bastava conferir o currículo dos integrantes do escritório. A experiência da poderosa Adriana Ancelmo. por exemplo, se limita a um ano como gerente judicial do Instituto de Segurança Pública, o que nada significa, e depois dois anos como procuradora assistente da Assembleia, cargo para o qual foi contratada pelo próprio Sergio Cabral, de quem se tornara amante na época.
ILUSTRES DESCONHECIDOS – Há outros 12 advogados “associados”, mas todos são ilustres desconhecidos nos meios forenses. E agora a grande farsa acabou, porque os próprios funcionários do escritório estão denunciando a lavagem de dinheiro.
A gerente financeira Michelle Tomaz Pinto confessou à Polícia Federal que Luiz Carlos Bezerra, operador de Cabral, entregava dinheiro vivo à ex-primeira-dama no escritório e os grandes clientes pagavam sem haver serviços prestados. Um deles, dono do empreendimento Portobello, confirmou tudo. O show já terminou, como diria Roberto Carlos.
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PS – A superadvogada Adriana Ancelmo agora está precisando desesperadamente de um grande criminalista, mas em seu bem-sucedido escritório não há nenhum que possa defendê-la. Portanto, ela terá de gastar o dinheiro que roubou dos cofres públicos com o maridão. (C.N.)
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