TOMA QUE O APÊ É SEU
Nada de estranho: você, caro leitor, não é dono de um imóvel; e, aproveitando a oportunidade que não existe, exige que os donos do imóvel que não é seu (e você proclamou que não é seu) lhe paguem por ele.
Pois é: Marisa Letícia, esposa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, abriu processo contra a Bancoop, Cooperativa Habitacional dos Bancários, e a empreiteira OAS, pedindo que lhe paguem, “em parcela única e imediata”, a quantia de R$ 300.817,37, referentes à cota de um apartamento no Edifício Solaris, no Guarujá – sim, sim, o mesmo do famoso triplex que mobilizou a Polícia Federal e o Judiciário.
Há algum tempo, na Europa, uma igreja cristã, situada ao lado de um prostíbulo, promovia rezas diárias (e em alto volume) contra as atividades do vizinho. E, claro, o volume das orações atrapalhava o movimento. Um dia, o prostíbulo foi destruído por um incêndio, e sua proprietária responsabilizou judicialmente as orações da igreja vizinha pelo problema, exigindo indenização. A igreja disse, na defesa, que as orações nada tinham a ver com o incêndio.
Este colunista não se lembra do resultado da disputa, mas nunca esqueceu uma frase do juiz: “Jamais imaginei julgar uma causa em que um prostíbulo culpe as preces do vizinho como causadoras de seu prejuízo; e a igreja afirmar que as orações não têm efeito nenhum”.
Boi voador
Andrea Matarazzo era o candidato de José Serra e Fernando Henrique Cardoso à Prefeitura paulistana. Perdeu as prévias para João Dória Jr., apoiado pelo governador Alckmin. Aí começou a geleia geral: Andrea trocou o PSDB pelo PSD. Não gosta do cacique do PSD, Gilberto Kassab, e é correspondido. Apoiou Kassab para prefeito a pedido de Serra, amigo e aliado, e a pedido de Serra foi secretário de Kassab. Nesse período de aliança, nenhum deixou de falar mal do outro.
A candidatura de Andrea pelo PSD não decolou. Falou-se de aderir a Marta Suplicy e ser seu vice. Andrea rebateu: “É mais fácil uma vaca voar do que eu ser vice de Marta”. Pois não é que a vaca voou? Andrea é vice de Marta, unindo também Serra, Fernando Henrique e Michel Temer.
A farra do boi voador
Serra e Fernando Henrique continuam no PSDB, cujo candidato a prefeito é João Dória Jr., velho amigo e aliado, e apoiam Marta, do PMDB, antiga adversária dos tempos em que era a estrela do PT e foi prefeita (boa). Kassab foi vítima, na campanha em que enfrentou Marta e o PT, de todo tipo de ataques. Mas se aliou ao PT para criar o PSD, com a missão de esvaziar o PMDB (o que levou à crise que jogou o partido na oposição a Dilma e ao impeachment). E se aliou ao PMDB, que queria esvaziar, para derrubá-la, mantendo-se embora em seu ministério.
O barateiro
Lembra de Fernando Cavendish, da empreiteira Delta? Aquele da Festa dos Guardanapos, em Paris, com hotel fechado para seletos candidatos, como Sérgio Cabral, com mulheres exibindo as solas vermelhas de seus caros calçados Louboutin? Bem, Cavendish apresentou sua defesa no processo da Operação Saqueador, e disse que a Delta “foi responsável por uma economia milionária aos cofres públicos”. Deve ter razão: uma economia tão grande que lhe deve ter permitido financiar a farra parisiense.
Sem essa economia, a conta da festa poderia cair no velho e bom Tesouro.
O bom, o mau e a má
A economia está gostando do Governo Michel Temer: já se fazem previsões até de um pequeno crescimento no ano que vem. Mas a opinião pública está reticente: pesquisa Ipsos diz que apenas 16% querem que Temer continue na Presidência, enquanto 20% preferiam que Dilma estivesse no cargo. A maioria prefere algo que não está na Constituição: eleições presidenciais ainda neste ano, de preferência já em outubro.
Turismo
Dilma diz que, se o impeachment for aprovado, vai repousar algum tempo fora do país, no Uruguai ou no Chile. São excelentes pontos turísticos, mas Dilma esquece os amigos: por que não Venezuela e Cuba?
Atenção
O processo contra a senadora Gleisi Hoffmann, do PT paranaense, será animadíssimo – e não apenas por Gleisi ser ministra e amiga de Dilma e esposa de outro político petista de importância, o ex-ministro Paulo Bernardo; mas por esbarrar no porto cubano de Mariel, construído pela Odebrecht e financiado pelo BNDES. Pode roubar as manchetes.
Sinal de perigo
Só 37% dos alunos que acabaram recentemente o ensino médio pensam em ir para a Universidade. O número de universitários no último ano caiu 22,4%. A maior parte culpa a crise, que os obriga a trabalhar mais cedo. Resolvem seu problema, mas o desenvolvimento do país fica para trás.
http://www.luizberto.com/coluna/a-coluna-de-carlos-brickmann