SEG 25 JULHO 2016 09:03 ATUALIZADO EM SEG 25 JULHO 2016 08:49
Divulgação/Emater
O sorgo tem ciclo curto (cerca de 4 meses) e resiste melhor a climas secos
A experiência aconteceu em uma pequena propriedade da comunidade rural Rio Pardinho, em Santo Antônio do Retiro, no Norte de Minas. O município, com forte predominância da agricultura familiar, tem tradição na produção de cachaça e rapadura artesanais, provenientes da cana-de-açúcar.
O teste, que ainda vai passar por mais uma etapa nesta safra, deve concluir o que os técnicos já começaram a observar: o sorgo sacarino pode ser mais uma alternativa para a produção desses mesmos produtos feitos de cana-de-açúcar.
Ao contrário da cana, cultura que precisa de ser irrigada ou cultivada em baixadas úmidas e tem ciclo de 10 a 12 meses até a colheita; o sorgo tem ciclo curto (cerca de 4 meses) e resiste melhor a climas secos, devendo ser plantado no verão, durante o período chuvoso. Além disso, os subprodutos do processamento como o bagaço e os grãos do sorgo também podem ser utilizados na alimentação animal, o que agrega mais valor à cultura.
“Não queremos desvalorizar a cultura da cana, mas mostrar ao produtor que ele tem mais uma alternativa para a produção de rapadura e aguardente. Isso é importante para o Norte de Minas, que está na região semiárida, onde o volume de chuvas e a estiagem são fatores naturais que limitam as produções agrícolas. O sorgo sacarino tem maior resistência ao estresse hídrico”, explica o coordenador técnico regional de Janaúba, o engenheiro agrônomo André Caxito.
De acordo com o coordenador, essa tecnologia que está sendo testada, mostrou num primeiro momento a possibilidade de produção e a próxima etapa deverá apontar como qualificar o produto para consumo. “A rapadura ficou salobra, mas estamos deduzindo que foi a terra. No final do ano plantaremos em outras áreas para compararmos a qualidade do produto final”, adianta Caxito.
O sorgo sacarino foi plantado em uma área de meio hectare, na propriedade do agricultor familiar Iris Barbosa da Cruz Pinho, em novembro de 2015, e colhido na primeira quinzena de março deste ano. O técnico agropecuário Sérgio Moreira dos Anjos, do escritório local da Emater-MG de Santo Antônio do Retiro, que acompanhou todo o processo de formação e desenvolvimento da lavoura, garante que os primeiros resultados foram bem animadores. “A aguardente e a rapadura ficaram excelentes”, garante, reforçando também que uma intervenção na acidez do solo, poderá corrigir a salobridade da rapadura.
O pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, Rafael Parrela, que também acompanha a experiência de Santo Antônio do Retiro, reforça as potencialidades do sorgo sacarino, como matéria-prima alternativa para a produção de rapadura e aguardente no Norte. “O sorgo sacarino possui alta concentração de sacarose, então pode produzir os mesmos produtos da cana-de-açúcar. Além disso, o bagaço e o grão servem para a alimentação dos animais. É, portanto, uma excelente fonte alternativa de plantio, pois combina várias finalidades numa mesma cultura”, argumenta.
Parrela também considerou o resultado do estudo bastante favorável. “Embora o plantio tenha sido feito em área pequena, tivemos um primeiro resultado bem positivo”, conclui. Para o pesquisador da Embrapa, o cultivo de sorgo também tem a vantagem de reduzir os custos com mão de obra, já que o manejo pode ser mecanizado.
O estudo realizado no município de Santo Antônio do Retiro com o sorgo sacarino levou em consideração uma produtividade estimada de 30 toneladas por hectare, em um volume de 582 milímetros de chuvas, concentradas no mês de janeiro. Contou ainda com uma irrigação suplementar de 5 milímetros de água, segundo o técnico agropecuário local Sérgio Moreira dos Anjos.
Segundo Moreira, a colheita e o processamento do sorgo para a produção da aguardente reuniu 26 agricultores familiares da região, que acompanharam atentamente a demonstração técnica, realizada pelo coordenador regional Arquimedes Teixeira. De acordo com Arquimedes, o caldo teve 17,5º brix e a fermentação foi satisfatória.
“Ao final todos puderam saborear a bebida e opinar sobre a qualidade”, relata Moreira. O resultado geral também agradou o produtor que considerou ser possível melhorar mais. “Vamos plantar novamente pra ver se a rapadura não vai ficar salobra, porque a terra afeta o gosto”, avalia.
O escritório da Emater-MG de Santo Antônio do Retiro atende cerca de 1.300 agricultores familiares locais, em aproximadamente 30 comunidades rurais. Cerca de 600 famílias destes agricultores trabalham artesanalmente com a produção de cachaça e a rapadura de cana-de-açúcar.
O técnico agropecuário Sérgio Moreira atribui às características do solo local, que favorece o plantio da cana, e à tradição cultural, os principais atrativos para a atividade no município. “Aqui até o cafezinho é adoçado com rapadura”, afirma.
Agência Minas