Taxar turistas e afugentar pobres provocaram reações contra o projeto
PUBLICADO EM 06/11/15 - 04h00
LITZA MATTOS
A Câmara Municipal de Guarapari, no litoral capixaba, arquivou o Projeto de Lei n° 148/2015 que previa a cobrança de uma taxa para cada automóvel visitante que entrasse na cidade, e fez o presidente da casa e autor do projeto, José Wanderlei Astori (PDT), cancelar a audiência pública às vésperas da votação do PL, que seria realizada na tarde desta quinta. Caso fosse aprovada, a expectativa é de que a cobrança do “pedágio”, passasse a valer de novembro deste ano até o Carnaval de 2016 – período de maior movimento na cidade.
O arquivamento se deu após uma enxurrada de críticas de mineiros e capixabas que costumam visitar a cidade, argumentos da Companhia Espírito-Santense de Saneamento (Cesan) desmentindo a justificativa do vereador de que a taxa serviria para ajudar na crise hídrica, e ameaças de boicote de veranistas e empresas de turismo que criaram a campanha “Não viaje para Guarapari” nas redes sociais, contestando a possível cobrança de pedágio.
Em entrevista a O TEMPO, no dia 19 de outubro, o vereador adiantou que o texto sugeria valores a partir de R$ 10 para cada veículo pequeno e R$ 20 para ônibus de turismo. Astori informou ainda que todo o dinheiro arrecadado seria repartido em investimentos destinados à recuperação de nascentes (50%), saúde (25%) e no turismo (25%). Porém, em entrevista ao Portal27TV, publicada no YouTube, Astori revelou que a ideia surgiu após ele próprio ter gasto R$ 32 em um estacionamento da capital mineira. A partir daquele dia, o vereador pensou em desenvolver uma espécie de pedágio para os turistas que vão a Guarapari, “já que muitos mineiros visitam sua cidade, vão embora sem pagar nada e ainda deixam sujeira”, diz Astori, no vídeo.
A reportagem entrou em contato com José Wanderlei Astori, mas o vereador não atendeu ao celular. A assessoria de imprensa do gabinete do presidente da Câmara também não atendeu as chamadas e nem respondeu aos e-mails enviados.
Por meio de uma nota publicada no site do legislativo, Astori afirma que a medida mostra o respeito que ele tem com a opinião de cada cidadão. “Informamos que a Câmara Municipal está empenhada e irá buscar formas de garantir a qualidade de vida dos cidadãos guarapienses, construindo uma cidade atrativa para os turistas que visitam o nosso município”, afirmou o texto.
Polêmica. A chacota começou nas redes sociais em dezembro do ano passado quando o prefeito Orly Gomes (DEM) disse querer limitar o número de pessoas em casas de veraneio para que a cidade recebesse mais turistas “ricos” e menos “pobres”. Na época, a declaração foi recebida com duras críticas pela população local. A preferência do prefeito pelos ricos também motivou a publicação de vídeos de humor e memes na internet. Na época, a cidade passou a ser chamada ironicamente de “Guaraparis”.
Jornal O Tempo