03/09/2015 17h58 - Atualizado em 03/09/2015 18h14
Rafael Antunes
Do G1 Zona da Mata
Escolas de samba decidiram não desfilar em 2016
(Foto: Roberta Oliveira/ G1)
A Liga Independente das Escolas de Samba de Juiz de Fora (Liesjuf) enviou à Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa) um ofício informando que as escolas de samba da cidade decidiram que não vão desfilar durante o Carnaval de 2016. A Funalfa confirmou que recebeu o documento assinado pelo presidente da Liesjuf na tarde desta quinta-feira (3).
O G1 conversou com o superintendente da Funalfa, Toninho Dutra, e com o presidente da Liga, Jair de Castro. Ambos lamentaram a não realização do evento justamente no ano em que a cidade comemora os 50 anos de desfiles oficiais.
O presidente da Liesjuf, Jair de Castro, explicou como a decisão foi tomada pelas agremiações. “Não vai ter mesmo. Tomamos esta decisão hoje de manhã. A verba que foi oferecida pela Prefeitura não foi aceita pelas escolas. Estamos desde junho negociando, a Liga fez várias propostas e a Prefeitura continuou com a mesma, com os cortes iniciais”, afirmou.
Ainda segundo Castro, o clima não é nada bom entre os integrantes das escolas. “Foi um balde de água fria, com certeza. Nossa cidade está fazendo 50 anos de desfile oficial e não vamos poder comemorar. Nós estamos um pouco abalados, mas faz parte da vida. Outras cidades menores que Juiz de Fora vão fazer e nós não”, disse.
Por fim, o presidente da Liga reafirmou o desejo das escolas de desfilar em 2017 e a fé na recuperação econômica do Brasil. “A nossa esperança é que o país volte ao normal, que nossa cidade saia da crise. Vamos trabalhar todo mundo junto para conseguirmos desfilar em 2017. Vamos dar um jeito de sair ainda melhores do que sairíamos agora”, concluiu.
Toninho Dutra já organizou sete carnavais em Juiz de Fora
(Foto: Roberta Oliveira/ G1)
O superintendente da Funalfa, Toninho Dutra, tem uma posição semelhante quando trata o caso. “Eu organizei sete carnavais, trouxemos muita melhoria para a passarela, cobrimos arquibancadas, pudemos ver algumas escolas evoluírem muito. É desgastante passar por isso, mas quero pensar em 2017. Esperamos que a crise dê um tempo e que a gente consiga virar a mesa e fazer uma excelente festa”, disse.
Ele garantiu que a Liesjuf foi avisada sobre os cortes há vários meses e que todo o processo de conversa foi muito transparente. “É uma discussão que já acontecia desde abril, quando a Prefeitura deixou a situação bem clara. Ficamos muito preocupados com sinais, nosso empenho foi sempre mostrar para eles (Liesjuf) o que poderíamos fazer na situação atual. Tudo foi muito bem dialogado. Não tem lados opostos, todo mundo lamenta que tenha acontecido isso. Eu gostaria de estar trabalhando pela execução do carnaval, mas não aconteceu”, contou.
O superintendente explicou ainda que vários encontros foram realizados nos últimos meses, até que a decisão da Liga fosse anunciada. “Ouvimos as solicitações, demos prazos, analisamos propostas. O Jair (presidente da Liesjuf) foi uma pessoa muito diplomática, entendeu o que está acontecendo no país, na nossa região e que a realidade era essa. Nós queríamos enfrentar com eles a realização deste carnaval, mas acho que não foi possível para eles enxergar essa realização.”.
Dutra também lamentou que a crise tenha influenciado na realização de um envento importante para a cidade. “Vínhamos pensando nessa comemoração (de 50 anos de desfiles oficiais) há quarto anos e não pensamos em momento algum que chegaríamos nesse ponto de não realizá-la. Em todas as frentes estamos tendo cortes e o carnaval sempre foi o nosso maior custo. Em três dias, consumíamos um quarto do valor total de um ano inteiro. É uma discussão difícil, que a gente pretende superar em 2017”, finalizou.
Escolas rejeitaram orçamento apresentado pela Prefeitura
(Foto: Rosileia Archanjo/Arquivo Pessoal)
Entenda o caso
No dia 8 de julho, a Funalfa apresentou para a imprensa o novo orçamento do carnaval de 2016 em Juiz de Fora, em que a Prefeitura reduziu o valor total dos repasses de R$ 2 milhões para R$ 900 mil para realização de todas as atividades carnavalescas, um corte de mais de 50%, se comparado ao ano anterior.
Com os cortes realizados, o valor de R$ 900 mil previstos seriam divididos da seguinte maneira: R$ 22 mil para as escolas do grupo A; R$ 14 mil ao grupo B e R$ 7 mil para a única agremiação do grupo C. Outros R$ 22 mil seriam destinados para outras atividades, como o Baile da Rainha e gastos com o corpo de jurados do desfile. Além disso, R$ 255 mil seriam designados para a estrutura e suporte do evento.
Cerca de uma semana depois, no dia 13 de julho, as escolas de samba decidiram durante assembleia geral que só desfilam em 2016 se recebessem as mesmas verbas destinadas ao carnaval do ano anterior, de R$ 2 milhões.
"Neste ano, as escolas do Grupo A receberam R$ 65 mil, as do Grupo B, R$ 35 mil e a do Grupo C, R$ 7 mil. Precisamos destes valores para a manutenção do padrão estético apresentados pelas escolas nos últimos carnavais. Os presidentes ouviram as comunidades e fecharam este posicionamento em unanimidade. Se não for o mesmo valor, as escolas não desfilam em 2016", conforme explicou o assessor de comunicação da Liesjuf na ocasião.
Já na tarde da última quarta-feira (2), a Funalfa informou que não iria modificar o corte nos repasses para o carnaval, conforme a Liesjuf vinha pedindo. Foi a partir daí que Liga se reuniu para tomar a decisão atual.