30/08/2015 às 7:12
A presidente Dilma Rousseff desistiu da CPMF. Pois é. Deveria ter desistido do governo, deixando a administração para quem reúne hoje mais condições políticas e técnicas. O conjunto da obra impressiona. Em três dias, o Palácio do Planalto sacou da algibeira o famigerado imposto, pôs o corneteiro Arthur Chioro para defender a proposta, tentou arrastar prefeitos e governadores para o buraco, assistiu a um verdadeiro levante da sociedade contra a tunga e, ora vejam…, teve de recuar.
Quem terá dado à governanta a sugestão? Com a saída do vice, Michel Temer, da coordenação política, Aloizio Mercadante voltou a se agigantar no Palácio e dá de novo as cartas. Quais cartas e para quem? Ninguém comparece para jogar com a presidente.
Dilma ter-se metido nessa trapalhada da CPMF diz bem o que é o seu governo e a forma como ela toca o dia a dia do país. Só uma presidente absolutamente alheia a tudo o que está à sua volta condescenderia com a criação de um imposto a esta altura do campeonato.
Notem que o Planalto não se encarregou nem mesmo de tentar esconder a malandragem. Enquanto Chioro cornetava uma tal “Contribuição Interfederativa da Saúde”, a área econômica deixava claro que o dinheiro buscaria mesmo é cobrir o rombo de caixa. O país está fabricando déficit primário, e o governo cogita já assumi-lo para 2016, desistindo da meta de superávit primário de 0,7% do PIB.
Se a proposta era, por si, espantosa, não menos surpreendente foi a forma como se imaginou que pudesse ser implementada, sem negociar com ninguém. Quando percebeu o tamanho da barafunda, Dilma resolveu correr para pedir auxílio a Temer, o mesmo que teve de deixar a coordenação política porque havia sempre petistas no meio do caminho. O vice disse a Dilma que afastasse dele aquele cálice. Ele não iria entrar na, literalmente, roubada. Os que tomaram a decisão absurda que tentassem convencer a sociedade.
Não menos espantoso é lembrar que o Executivo não pode criar taxas sem a aprovação do Congresso. E a recriação da CPMF, dado o atual quadro da economia, não passaria por deputados e senadores nem com reza braba. Alguém sugeriu, então, a Dilma que tentasse enredar os governadores… Mais uma vez! Estes fizeram chegar à presidente a informação de que nada poderiam fazer por ela.
Já escrevi aqui e reitero. A pior de todas as crises, que deriva das outras duas — a econômica é a política —, é a de confiança. Ninguém mais espera que Dilma vá fazer a coisa certa. A imagem que se tem hoje consolidada da presidente é a de uma pessoa presa no palácio, cercada de coordenadores políticos incompetentes, descolada da realidade do país, alheia à gravidade do momento.
Eis a razão por que digo que o Brasil tem respostas para todas as hipóteses de saída de Dilma. O país só não sabe o que fazer se ela ficar.
Por Reinaldo Azevedo