23 março
Antes da ditadura militar, o Brasil passou por uma fase de turbulência politica e social. Basicamente as causas dos desentendimentos generalizados eram a instabilidade politica, o alto custo de vida, as promessas presidenciais de promover radicais mudanças na agricultura, na economia e na educação. O medo das consequências do socialismo, desenhado nos bastidores, fez a classe média tremer nas bases. E entrar em ação.
Em abril de 1964 aconteceu o golpe militar. Conhecido como a época de chumbo. Com ideias saneadoras, mas, expondo caráter autoritário, torturando e registrando assassinatos, o regime tomou o poder, dissolveu o Congresso Nacional, substituiu a Constituição de 1946, cortou a liberdade civil e de imprensa. Com 21 anos de duração, foi até março de 1985, a Revolução militar, cassou direitos políticos, reprimiu movimentos sociais, controlou sindicatos, permitiu a existência de apenas dois partidos políticos. Mostrou presença. Trouxe a ordem pública.
Mas, como qualquer coisa duradoura, acaba enfraquecida, a ditadura militar também se fragilizou na medida em que imperfeitos projetos econômicos não impediram a decadência da economia, o descontrole inflacionário, taxa registrada em 18% ao mês, e a multiplicação da dívida externa, calculada em 105 bilhões. Ao se sentir impotente, diante da visível concentração de renda e de pobreza, os governos militares preferiram entregar o bastão aos civis, passar a bola, que fazia tempo, sonhavam com o retorno da democracia. Mas, mesmo a contragosto o golpe conseguiu implantar a moralidade nacional.
Construída numa base lenta e gradual, a redemocratização tomou vulto. Começou com o Movimento das “Diretas Já”, até assumir as características de normalidade institucional. Mas, as aptidões conservadoras impediram as esperadas e ansiadas reformas estruturais. Aspiradas pela sociedade.
Infelizmente, decorridos 30 anos de redemocratização, em vez de jubilar glórias, desfrutar de felicidade e satisfação, a Nação lamenta a existência de democracia malfeita. Apesar da eliminação da repressão, a população, atropelada pelo poder político, não tem vez e voz para rastrear decisões governamentais. Opinar nos acordos de gabinete. Muito menos, exercer influência na conjuntura política. Ajudando a contornar conflitos.
É verdade que durante o retorno da democracia e da liberdade civil, o país conquistou alguns avanços. Dentro do possível, a economia obteve certo grau de estabilidade e a pobreza recuou. No entanto, em compensação, a corrupção rola frouxa nos bastidores, o Judiciário, que devia ser o exemplo na modernidade mundial, é lento e desatualizado, e as desigualdades sociais ainda estão abaixo do conceito internacional. Talvez, contaminadas pela persistente crise política.
Aliás, democraticamente, o Brasil não chega aos pés da Dinamarca, Reino Unido e Estados Unidos que se orgulham de viverem a plena democracia. Permitindo à população viver socialmente bem. Sem aperreios financeiros.
Enquanto o país assistir as acirradas disputas pela conquista de poder e de mandato político, os problemas sociais continuarão explodindo, as animosidades e os conflitos estarão em efervescência por causa das aglomerações nas cidades se transformarem num caldeirão vivo, em virtude do crescimento da marginalização social. Diante do esquecimento da população pobre que não passa de moeda de troca nas decisões políticas.
Enquanto o Congresso Nacional ficar concentrado na aprovação de leis para o agronegócio, a terceirização de serviços, a especulação ambiental e imobiliária, objetivando beneficiar a própria classe dos parlamentares, grandes empresários, os conflitos não desaparecerão. O serviço público aprofunda no sucateamento. Seja na saúde, na educação, transporte, na segurança pública, no sistema prisional e até na tímida regra de inclusão social.
Enquanto a classe política não abandonar a corrupção, permanecerá decadente. Por sua vez, a sociedade não abdicará da luta pelas causas justas, não arredará pé pelas reformas política, tributária e jurídica para consertar o país. Afinal, bastam de novas decepções, de confiscos, de perdas de direitos, de escassos planejamentos, exagerados desperdícios e tremenda falta de transparência na coisa publica. Mesmo altivo, o Brasil precisa de pressão nas bases para conseguir andar. Arrumar-se somente na base do empurrão.
Blog Jornal da Besta Fubana