Carlos Newton
Desprezado, demitido e desolado, mas aparentando invulgar empolgação, o ainda ministro Mantega convocou os jornalistas que cobrem o Ministério da Fazenda para fazer declarações sobre o resultado das urnas. Como não tinham mais nada para fazer, numa segunda-feira de ressaca eleitoral, em que rareiam as pautas interessantes, os repórteres foram ouvi-lo.
Estava rouco (“de tanto torcer por Dilma”, justificou, como se fosse íntimo dela, que o despreza e somente o aturava por imposição de Lula). E fez afirmações hilariantes: “Estou feliz com o resultado das eleições, isso mostra que a população está aprovando a política econômica que estamos fazendo”, disse o ministro, como se alguém fosse capaz de apoiar uma política que partiu de um crescimento de 7,5 ao ano e quatro anos depois caiu para crescimento zero. E prosseguiu na sua cômica versão da realidade do país, fazendo planos para o futuro, embora já tenha sido demitido há dois meses e continue apenas interinamente no cargo.
“Nós vamos continuar nos esforçando para aumentar a transparência da execução fiscal. Aliás, isso tem avançado bastante. Portanto, esse é o rumo que está estabelecido”, prosseguiu, elogiando os feitos da política econômica, mas sem se referir às bilionárias maquiagens que têm sido feitas nas contas nacionais para reduzir o déficit fiscal. Até que, de repente, caiu na real:
“Temos grandes desafios pela frente, para podermos adentrar num novo ciclo de expansão da economia brasileira e mundial. Estamos trabalhando com cenários adversos, porque a economia mundial não melhorou como deveria”, citando a crise internacional como um dos entraves para o crescimento da economia brasileira.
AS “METAS” DE MANTEGA
Depois passou a se referir às metas dos próximos quatro anos de mandato, até parecia que ele estava confirmado para permanecer no cargo. E como falava a sério, os jornalistas procuravam não rir dele, embora todos saibam que dos 39 ministros do governo Dilma, Mantega é o único que já está demitido por antecedência.
E assim a curiosa entrevista foi se estendendo, não acabava mais a conversa fiada, até que os repórteres enfim perguntaram sobre os possíveis nomes para sucedê-lo no Ministério da Fazenda, e Mantega respondeu assim: “Essa pergunta não tem que ser feita a mim, tem de ser feita à presidenta.” E a entrevista acabou.
Será Mantega sabe de alguma coisa que a gente não sabe?
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