09 /11/ 2012
Por Marcos Araújo com colaboração de Guilherme Arêas e Sandra Zanella
A frequência de crimes registrada na região do Bom Pastor, na Zona Sul, tem provocado insegurança entre os moradores. O maior temor está no fato de pessoas em atitude suspeita permanecerem ao redor da igreja do bairro e da principal área de lazer da comunidade, a Praça Poeta Daltemar Cavalcanti Lima, conhecida como praça do Bom Pastor, na Avenida Doutor José Procópio Teixeira. Nesta, não é raro presenciar grupos de jovens consumindo drogas. Mais acima, no entorno da sede da paróquia, o assédio de adultos desconhecidos a crianças que frequentam o catecismo deixa alarmados pais e catequistas, principalmente depois que um homem de 36 anos foi detido por populares e preso em flagrante pela Polícia Militar, em julho, por suspeita de tentar abusar de um menino de 10 anos no matagal de um terreno baldio na Rua Luiz Antônio Tomaz, na Cidade Jardim, região do Bom Pastor.
O crime aconteceu de manhã, por volta das 7h, quando o garoto seguia para a escola. Ele foi abordado pelo suspeito com a desculpa de que iria lhe mostrar algo. No lote vago, o criminoso teria jogado a criança ao chão e retirado suas calças, oferecendo R$ 2 em troca de relações sexuais. A ação criminosa só não foi totalmente consumada, porque um casal, que estava na janela de um apartamento em frente ao terreno, começou a gritar, espantando o homem, que foi capturado depois. O caso está sob investigação da Delegacia de Orientação e Proteção à Família.
A insegurança se estende aos mais velhos, visto que os frequentadores das missas, no horário noturno, também se sentem intimidados com a abordagem de desconhecidos que pedem dinheiro e cobram para "guardar" carros. Há relatos de fiéis que optam por outras igrejas a fim de evitar assaltos. "Eu e minha esposa estamos com medo. Íamos a pé para missa, mas tornou-se arriscado. Agora vamos à missa de carro na Catedral", contou um dos moradores. Segundo a coordenadora geral da paróquia, Téa Beraldo Moraes, por ser frequentada por senhoras, nos cursos e missas, e crianças da catequese, a igreja transformou-se em alvo. "Essa insegurança está afastando o pessoal, não só da missa da noite, mas de dia também, porque os moradores se fecham nos apartamentos. Na saída da igreja, pegamos carona para chegar em casa que fica a poucos metros de distância, devido ao medo de ser abordado no caminho."
Como aponta a coordenadora da catequese, Delma Pureza, são 80 crianças, com idades entre 6 e 14 anos, que participam da aulas e estão vulneráveis. Ela conta que uma menina já foi assaltada por duas mulheres na escadaria da igreja. "Isso tem provocado a ausência de meninos e meninas no catecismo, pois os pais estão temerosos. Um rapaz, outro dia, também abordou outra menina, e a cena foi vista por uma das catequistas, que precisou levá-la de carro para casa. A PM chegou a colocar uma viatura aqui, em um dia, o que melhorou, mas é preciso que isso seja feito com frequência."
Cinco tiros
Na noite da última quarta-feira, um grupo armado assaltou um taxista na Rua Vicente Masini e efetuou cinco disparos antes da fuga. Apesar da violência empregada na ação criminosa, ninguém ficou ferido. De acordo com informações da Polícia Militar, por volta das 21h30, quatro homens embarcaram em um táxi na Rua Morais e Castro, no Bairro São Mateus, e solicitaram corrida até o Bairro Furtado de Menezes, na região Sudeste. Antes de chegar ao destino, no entanto, o motorista, 32 anos, foi rendido no Bom Pastor. Os passageiros teriam desembarcado no local e se encontrado com um quinto comparsa, que chegou armado e anunciou o assalto, retirando R$ 200 do bolso da vítima.
Ainda conforme o relato do taxista aos policiais, o criminoso que portava a arma de fogo disparou cinco vezes na direção do veículo, mas nenhuma das balas teria acertado o carro. Após o crime, o bando fugiu por uma trilha que daria acesso a bairros vizinhos. A PM foi acionada e realizou rastreamento em toda a região e nas possíveis rotas de fuga, mas nenhum suspeito foi encontrado.
Sensação de insegurança é crescente na região
As ocorrências no bairro envolvendo assaltos, furtos e tráfico de drogas, ao longo do ano, corroboram a preocupação em torno da segurança. Em 9 de setembro, dois jovens de 18 anos foram presos, e um adolescente, 17, apreendido, depois de serem flagrados com drogas e um carro furtado, na vizinhança. Os policiais encontraram 18 pedras de crack escondidas no porta-luvas e apreenderam R$ 591. O veículo no qual o material foi localizado estava ligado com chave mixa e havia sido furtado no estacionamento de um supermercado no Cruzeiro do Sul. Em agosto, um homem e uma mulher foram presos por assalto a um casal, na Rua José Monteiro Viana. Armada, a dupla anunciou o assalto e exigiu os pertences dos pedestres, enquanto a comparsa teria ajudado a roubar os objetos. Os ladrões fugiram levando celular, carteira com R$ 7, além de documentos, mas foram capturados.
No mesmo mês, um motorista, 46, ficou refém de bandidos por cerca de oito horas depois de ter seu caminhão roubado. Ele teria sido contratado para fazer uma mudança e encontrou com o solicitante na Praça do Bom Pastor. O homem embarcou no veículo e levou o condutor até o suposto local do trabalho, no Guaruá. Chegando ao endereço, o caminhoneiro foi surpreendido por três criminosos em um Palio, todos armados com pistola, e teve uma arma apontada contra sua cabeça. A vítima foi colocada no carro e abandonada próxima a Belmiro Braga.
Em abril, um taxista, 41, foi assaltado quando dois homens embarcaram no veículo e solicitaram corrida até o Bom Pastor. Ao chegar na Rua Professor Clóvis Jaguaribe, um dos passageiros sacou uma arma de fogo e o outro, uma faca, anunciando o roubo. Os bandidos subtraíram aparelho de GPS, cordão de ouro e celular. No ano passado, em dezembro, uma mulher, 27, teve a residência invadida e foi agarrada por um homem moreno, que teria pulado o muro do imóvel vizinho e entrado na casa da vítima portando uma faca. Ele teria tentado manter relação sexual com a mulher, que entrou em luta corporal com o suspeito, que fugiu. Em setembro de 2011, uma enfermeira de 54 anos foi jogada no chão por dois homens, após a dupla roubar o celular da vítima. O crime aconteceu por volta das 13h30, quando a mulher passava pela Avenida Rio Branco.
Comunidade quer ação imediata
O problema de insegurança é antigo no bairro, conforme argumenta Edgar Schmidt, que responde pela Associação de Moradores do Bom Pastor. Ao longo do tempo, conforme ele, iniciativas vêm sendo tomadas, mas não têm sido profícuas. "Já chegamos até a comprar um automóvel, com dinheiro arrecadado entre os membros da associação, para que ficasse à disposição da Polícia Militar para patrulhamento. Entretanto, a medida também não deu certo", afirmou Edgar, que teve seu apartamento arrombado e invadido. O diácono da paróquia, Pedro Bioza, mostra-se preocupado com a presença de pessoas estranhas no entorno da igreja. "Estão aqui sempre no início e término das celebrações e das outras atividades. No caso das crianças, não sabemos até onde isso pode chegar se não houver interferência de um adulto. A catequista precisou arrancar da mão de um suspeito meninas que estavam sendo induzidas por ele. E não podemos pensar que um homem quer levar adolescentes para brincar. Por isso, é preciso uma intervenção imediata."
Edgar reitera esta afirmação, lembrando que o fácil acesso para outros bairros auxilia na fuga dos criminosos. "A repressão não pode ser concentrada apenas no Bom Pastor. Tem que ser estendida para as comunidades ao redor, para que haja prevenção e aumento da segurança de todos." Como aponta o delegado titular da 1ª Delegacia de Polícia Civil, Eurico Cunha, das 835 ocorrências recebidas pela unidade, em setembro, referente a toda Zona Sul, apenas 19 correspondem ao Bom Pastor. Do total, oito são relacionadas a acidentes de trânsito, e o restante tem ligação com extravio de documento e de objeto, dano, suicídio, agressão, ameaça, infração contra o patrimônio, furto e extorsão. "Analisando por meio das ocorrências que recebemos, não dá para considerar o Bom Pastor como um bairro inseguro e violento, mas todos os crimes registrados na área estão sob investigação. Devo ressaltar que, nos casos em que há desconfiança dos moradores sobre pessoas em atitude suspeita, eles devem procurar a delegacia e denunciar, pois iremos tomar providências. A comunidade também precisa colaborar, pois há crimes que dependem de representação da vítima", destacou o delegado.
O comandante da 32ª Companhia da PM, capitão Ricardo França, faz coro. "As estatísticas mostram que, seguro, o bairro já é. Agora estamos trabalhando para aumentar a sensação de segurança, que é subjetiva. Isso, só conseguimos com a aproximação entre a polícia e a população". À frente da companhia há pouco mais de um mês, o novo comandante explica ter mudado as estratégias no bairro. A principal diferença é que agora as demandas de moradores e comerciantes são oficialmente registradas em boletins de ocorrência simplificados. Dessa forma, a companhia terá como quantificar e qualificar as reclamações, adotando medidas específicas para cada ponto do bairro. "Nesse primeiro mês, recebi alguns pedidos de policiamento e já os materializei através de patrulhas periódicas e pontos bases de viatura", explica França.
Desigualdade
Para a coordenadora do Núcleo de Pesquisa Geografia, Espaço e Ação (NuGea) da UFJF, Clarice Cassab, a criminalidade está presente em todas as regiões do município, sendo consequência das desigualdades sociais. Ela tem uma pesquisa, na qual aborda o Bom Pastor, para analisar e discutir as formas pelas quais jovens de dois grupos de bairros, de perfis econômicos distintos, na cidade de Juiz de Fora, constroem as imagens e estabelecem os usos de seus locais de residência. Foram estudados, além do Bom Pastor, o Granbery, o Santo Antônio e a Vila Esperança II. Segundo a análise, que não foca a questão de segurança pública, o Bom Pastor é considerado de classe média/alta, onde a presença de equipamentos públicos/privados é pequena. O que, em parte, explicaria o fato de que os próprios moradores desejariam manter o bairro com características predominantemente residenciais, pois consideram ser essa uma estratégia para manter a tranquilidade na área. "A violência não pode ser encarada como resultado da concentração de renda de moradores, mas sim uma questão social. Existe uma desigualdade social que reflete no espaço da cidade. Há bairros onde há maior concentração de serviços enquanto outros apresentam carência, produzindo a desigualdade, que é o fator potencializador da violência."
Fonte Tribuna de Minas