Publicado em 19 de novembro de 2024 | 11:05 - Atualizado em 19 de novembro de 2024 | 13:05
De acordo com a PF, o plano era executar Lula e Geraldo Alckmin cerca de duas semanas antes da posse presidencial Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
BRASÍLIA - O plano de militares para matar o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no final de 2022 e consumar um golpe de Estado previa o envenenamento do petista ou um uso de “químicos”, ou seja, remédios, “para causar um colapso orgânico”. Isso, aproveitando a “vulnerabilidade de saúde e ida frequente a hospitais” do petista.
O planejamento foi levantado pela Polícia Federal (PF), que prendeu, nesta terça-feira (19), cinco suspeitos de planejarem atentados contra a vida de Lula, de seu vice na chapa vencedora de 2022 Geraldo Alckmin (PSB), e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
As informações estavam no plano operacional chamado de “Punhal Verde e Amarelo”, elaborado majoritariamente por militares e que seria executado no dia 15 de dezembro de 2022.
No planejamento, os alvos da PF chamavam Lula pelo codinome de “Jeca” e Alckmin por “Joca”. Não há detalhamento sobre como seria o homicídio de Alckmin, mas uma citação aponta que “sua neutralização extinguiria a chapa vencedora”, como era o objetivo dos militares.
“Como, além do presidente [Lula], a chapa vencedora é composta, obviamente, pelo vice-presidente, é somente na hipótese de eliminação de GERALDO ALCKIMN que a chapa vencedora estaria extinta”, dizia o plano, segundo a PF.
As autoridades policiais constataram que, no “Punhal Verde e Amarelo”, a “neutralização” de Lula era vista como um registro que “abalaria toda a chapa vencedora, colocando-a, dependendo a interpretação da Lei Eleitoral, ou da manobra conduzida pelos 3 Poderes, sob a tutela principal do PSDB”.
Isso porque Alckmin se filiou ao PSB pouco antes das eleições de 2022 com o objetivo claro de formar chapa com Lula. Antes, sua carreira política foi construída no PSDB. Os militares calcularam o impacto da morte de Alckmin e concluíram que, “como reflexo da ação, não se espera grande comoção nacional”.
Além dos codinomes “Jeca” e “Joca”, a PF encontrou uma citação a “Juca”, mas não identificou quem seria esse terceiro alvo.
“Ao final, o último codinome utilizado é de JUCA. Citado como ‘iminência parda do 01 [Lula] e das lideranças do futuro gov’, o autor indica que sua neutralização desarticularia os planos da “esquerda mais radical”. A investigação não obteve elementos para precisar quem seria o alvo da ação violenta planejada pelo grupo criminoso”, informou a PF.
Entenda
A operação deflagrada nesta terça-feira pela PF foi chamada de Contragolpe. Agentes descobriram o planejamento de um golpe de Estado e plano de assassinato de autoridades.
Foram presos de forma preventiva quatro militares do Exército com formação em Forças Especiais. Conhecidos como “kids pretos”, eles são treinados para operações sigilosas e que exigem alto desempenho.
Foram presos preventivamente os seguintes integrantes dos “kids pretos”:
Mário Fernandes - General reformado, foi assessor do deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ) e ministro interino da Secretaria-Geral da Presidência da República no governo de Jair Bolsonaro. Após deixar o governo, assumiu, entre 2023 e o início de 2024, um cargo na liderança do PL na Câmara dos Deputados, lotado como assessor de Pazuello, com um salário de R$ 15,6 mil.
Foi desligado da função em 4 de março deste ano, após o ministro Alexandre de Moraes determinar seu afastamento das funções públicas. Quando foi chamado a depor pela PF em 22 de fevereiro de 2024, Mário Fernandes, contudo, optou por ficar em silêncio, alegando não ter tido acesso ao inteiro teor dos conteúdos da investigação e, em especial, à delação do tenente-coronel Mauro Cid.Hélio Ferreira Lima
Ex-comandante da 3ª Companhia de Forças Especiais em Manaus, foi destituído de sua posição em fevereiro de 2024, durante investigações sobre planos antidemocráticos. Quando convocado a depor à PF sobre sua suposta ligação com o golpe de Estado, optou por permanecer em silêncio. Com formação em Operações Especiais, integra o grupo de elite do Exército conhecido como "kids pretos".
Rafael Martins de Oliveira - Major das Forças Especiais, é acusado de negociar com Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o financiamento de R$ 100 mil para levar manifestantes a Brasília, como parte de um suposto plano de golpe de Estado. Em mensagens de novembro de 2022, ele discutiu custos de logística com Cid, incluindo hospedagem e alimentação para grupos vindos do Rio de Janeiro.
Rafael foi preso pela PF em fevereiro de 2024 durante investigações sobre sua participação na organização de movimentos antidemocráticos. Ele havia sido solto e usava tornozeleira eletrônica.Rodrigo
Bezerra de Azevedo - Considerado um militar altamente qualificado, é doutorando em ciências militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme) e tem especialização em operações de guerra não convencional. Formado pela Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) em 2003, serviu como instrutor no Western Hemisphere Institute for Security Cooperation, nos EUA.
O militar participou de missões no exterior, como na Costa do Marfim. Comandou a Companhia de Comando do Comando Militar da Amazônia e tem expertise acadêmica em terrorismo e relações internacionais. Ele também integra o grupo "kids pretos".
O quinto alvo da operação é o policial federal Wladimir Matos Soares.
“As investigações apontam que a organização criminosa se utilizou de elevado nível de conhecimento técnico-militar para planejar, coordenar e executar ações ilícitas nos meses de novembro e dezembro de 2022. Os investigados são, em sua maioria, militares com formação em Forças Especiais (FE)”, disse a PF.
https://www.otempo.com.br/politica/judiciario/2024/11/19/codinomes-e-envenenamento--saiba-como-militares-planejavam-matar