quinta-feira, 20 de outubro de 2016

'Os iguais também se atraem'; pinturas geram polêmica em escola militar

20/10/2016 13h16 - Atualizado em 20/10/2016 14h07

Roberta Oliveira
Do G1 Zona da Mata

Aluna diz que atividade retirada por causa de trabalhos anti-homofobia no Colégio Tiradentes de Juiz de Fora (Foto: Facebook/Divulgação)

Uma atividade na aula de Artes abriu espaço para polêmica e discussão no Colégio Tiradentes, da Polícia Militar em Juiz de Fora. Isso depois que os alunos decidiram abordar o tema homossexualidade e pintaram árvores, frases e desenhos sobre o tema. Pouco depois o trabalho foi apagado por determinação da direção. Como os estudantes são adolescentes, os nomes deles foram preservados nesta reportagem. O G1 entrou com contato com a instituição para saber o motivo da decisão e aguarda retorno.

Uma aluna do colégio disse num desabafo no Facebook que os estudantes receberam a missão de criar uma obra de arte no meio natural, com uma crítica a algum assunto e deixá-la exposta para se deteriorar com o tempo. Nesta quarta-feira (19), dia da execução do trabalho, dois grupos criaram intervenções na área do estacionamento do colégio.

Em um deles, uma árvore foi pintada com as cores do arco-íris e um cartaz feito em papelão trazia a seguinte mensagem: "Ser gay é tão natural quanto essa árvore". Em outro, dois bonecos foram desenhados em um banco, de mãos dadas, com uma flor por cima e um coração rosa por perto com a mensagem: "Os iguais também se atraem".
Cartaz foi colocado ao lado da árvore (Foto: G1)

Mas após a atividade, a turma foi surpreendida, pois antes do fim do dia letivo todos os trabalhos foram retirados. Segundo ela, por ordem da direção.

O G1 entrou em contato com o Colégio Tiradentes e foi informado de que os representantes da direção estavam com os alunos e não poderiam atender a ligação. A reportagem também consultou a Secretaria de Estado da Educação, que explicou que a responsabilidade da gestão da escola é da Polícia Militar.

Oportunidade de discussão
Depois da atitude por parte da escola, uma estudante desabafou nas redes sociais. O G1 conversou com dois alunos da turma, que confirmaram os relatos transcritos abaixo. Nos comentários, colegas, ex-colegas e até antigos professores lamentaram a situação.
Uma das obras feitas por alunos no Colégio Tiradentes (Foto: G1)

De acordo com eles, participaram da aula estudantes de uma das turmas do 1º ano do ensino médio, na faixa etária de 15 a 17 anos. Há algumas semanas, os grupos receberam a missão de criar as obras na área disponível no estacionamento do colégio, no Bairro Santa Terezinha. A execução foi realizada na manhã de quarta (19), mas dois dos trabalhos elaborados eram ligados à cultura LGBT - Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros.

Uma das alunas contou que um grupo decidiu pegar uma árvore do espaço que foi cedido para trabalhar e pintá-la com as cores da bandeira LGBT, fazendo uma crítica à homofobia e apoiando o movimento. Pouco depois, os alunos foram comunicados sobre a decisão da direção da escola e ela desabafou no Facebook.

"Dois horários depois a professora de artes foi até a minha turma e nos disse que o trabalho do meu grupo iria ser retirado, pois a administração fez uma 'suposição' de que se um pai olhasse para a nossa arte, ele poderia achar que estamos tentando doutrinar a opção sexual do filho dele. Assim, o pai poderia tirar uma foto da árvore e mandar pra BH, manchando o nome do colégio (vale lembrar que, adolescentes sabem o que é a comunidade LGBT e sua importância - mesmo que alguns discordem - e as crianças iriam ver apenas as cores do arco-íris ali). No final, todas as obras foram retiradas antes mesmo dos alunos se manifestarem", publicou.

A estudantre ainda escreveu que publicou a manifestação a pedido de alunos da turma. E destacou que alguns estudantes foram a favor da retirada da obras, mas que a maioria da sala e até de outras salas queria deixar clara a insatisfação com a decisão.

"Agora, quero prestar minha indignação e mostrar o quanto isso foi errado de várias formas. Todo o trabalho, tempo, dinheiro e esforço que tanto os alunos, quanto a professora, colocaram naquele trabalho foi simplesmente desprezado e nossa obra não ficou em exposição nem por uma aula; apagaram a liberdade de expressão dos alunos, assim como fizeram com suas artes e nem nos deram a chance de falar nossas opiniões. A pessoa da administração que ordenou a retirada dos projetos nem apareceu para nos ouvir, ou pelo menos explicar a situação para nós", explicou a aluna.

Para encerrar, ela destacou que asssuntos do cotidiano, como orientação sexual, ajudam na construção de uma visão social e constam entre os temas transversais propostos pelo Ministério da Educação (MEC) e caem no vestibular. A aluna lamentou o impacto da decisão da escola.

"A professora não estava fazendo nada de errado e nem nós fizemos, o que não justifica o que aconteceu. Hoje os alunos do Tiradentes foram seriamente desrespeitados, mas acima deles, os alunos da comunidade LGBT que viram o colégio em que eles estudam tirando um apoio que foi dado a eles, com medo de 'queimar o filme'", concluiu.

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